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Diomedes Chinaski Comunista Rico (2018) Sexo, Drogas & Política!

Diomedes Chinaski Comunista Rico (2018) Lançou uma bela mixtape, embebida de participações e de algum modo emulando Sexo, Drogas & Política!

Não é necessário comparar pois há uma grande distância entre um trabalho e outro, são momentos distintos e certamente, são artistas diversos. No entanto, possuem algumas semelhanças, e há um lance muito interessante de se perceber entre uma reminiscência da força da mixtape Sexo, Drogas & Violência (2007) do lendário grupo cearense Costa a Costa e esse último trabalho do Diomedes Chinaski.

Comunista Rico (2018), de saída nos parece um tanto quanto inspirado na participação de Diomedes no disco do Don L, em seu excelente Roteiro Para Ainouz Vol. 3 (2017), não nos parece uma coincidência. Na música Aquela Fé (part. Nego Gallo), o mc cearense propõem um pequeno paradoxo para o Brasil atual, onde reina a ignorância, onde não se tem noção alguma das construções históricas que nos trouxeram até aqui. Tanto em termos globais quanto sobre a nossa conjuntura particular e atual.

“Eu sou comunista e curto carros
Eu quero vencer e faço amizade com fracassados
Eu quero ser amado
Assumindo quando amo pra caralho”

Diomedes Chinaski, parece que junto com Don L, entendeu e está muito atento a situação que lhe cerca de modo a poder cunhar um título como esse que nos coloca um problema que o mainstream e a mídia não trata de modo certeiro. De modo geral, poucos mc’s apresentam uma visão de conjunto, que consiga negociar entre industria cultural, racismo, região, politica, ética, problemas existenciais, sexo e etc… E é daí que tiramos os pontos de toque entre a música do Don L, a mixtape do Costa a Costa e essa nova mixtape do Diomedes Chinaski.

A mixtape Comunista Rico (2018) chega nesse meado do ano com 12 faixas e diversas participações, mas sobretudo é certeiro nos temas abordados. A musicalidade que o álbum todo transborda é notável e dentro do contexto de uma mixtape é bem importante lembrar que de modo geral as faixas conversam com um conceito fechado. Esse conceito fechado se configura como a demonstração lírica, sonora e timbrística de facetas subjetivas do mc pernambucano, que atravessam os temas acima, sempre se posicionando de modo veemente. 

Abordando temas atuais e pertinentes, Diomedes consegue construir uma narrativa que nos parece dialogar com perfeição com suas origens e o momento em que se encontra, ao mesmo tempo em que projeta o futuro. Dessa forma, é importante ressaltar que o disco possui um forte apelo pop, é todo trabalhado em termos de uma sonoridade bastante redonda, apesar da grande quantidade de produtores, não possui arestas para o grande público reclamar.

Os caminhos para o lançamento foram abertos com o vídeo clipe da música Camisa 10, que trabalha entre a concepção do jogo, num rap game que dialoga com a vida, a produção áudio visual já demonstrava muito bem o que se confirmou no grosso da mixtape. Tricolor em Recife, uma menina como signo de uma luta mais difícil e participações pesadas numa produção caprichada.

Contando com participação de Djonga, Don L, Cacife Clandestino, Raffa Moreira, Orquestra Imaginária, Zaca de Chagas, Coruja BC1, Makalister, Jovem Esco, Síntese e Nego Max, traz ainda Luiz Lins. Num disco com essa quantidade de participações, seria de se esperar níveis variáveis de qualidade nas faixas em se pensando a obra como um todo e não como um álbum fechado. Não é o que acontece, e apesar de trazer grandes nomes da cena, Diomedes joga com a bola debaixo do braço. Muito mais pelo domínio estético do que por meras disputas de linhas com os participantes.

Em termos de sonoridade outro ponto alto da mixtape, Diomedes passeia acompanhado por boombap, trap, trapfunk e o caralho a quatro com desenvoltura suficiente para digamos, fazer par aos convidados especialistas. Uma lista de produtores que não seguraram a mão nas produções é outro ponto forte desse disco: Mazilii, Dario e Will Diamond entre outros bagaçando com foça.

Sobre a substância discursiva que atravessa as poéticas, há uma visão de que não é mais pecado ganhar dinheiro, a percepção anti-católica de que depois da revolução protestante e sua influência na concepção econômica, enriquecer, ou ter dignidade financeira é uma meta. E um artista dentro de um cenário dominado pela industria cultural, inserido e oriundo da cultura hip hop precisa ter em mente que ganhar dinheiro não é sinônimo de declinar de discursos mais veementes.

Esse é um dos pontos altos do disco, na medida em que o artista pernambucano, tem muito firmemente consolidado em sua arte essa contradição presente na música de protesto, dentro do mercado pop. Conseguindo fazer com que comunista rico não seja um paradoxo vazio, muito menos sem escorregar para a mera ostentação.

Em tempos onde uma abominação intelectual se denomina como anarco capitalista, um comunista que pretende ficar rico é um alivio, ainda mais quando essa riqueza quer ser compartilhada. Principalmente quando entendemos que a concepção de riqueza aqui é outra, e ja se expõe na variedade de pautas levadas a cabo ao longo das faixas. Num pais onde um celular é sinônimo de falsa ideologia, onde mandar pra Cuba é uma espécie de excomunhão, Comunista Rico (2018) abre boas trincheiras dentro na cena, onde um público de internet se forma através de vídeos do youtube. Ideólogos dos mais abjetos tem crescido entre o público jovem, e os posicionamentos do disco são uma lufada de ar, para essa garotada. 

Bate bem em Temer, em Bolzonaro – como antes Ressentimentos II(2017) – na rede Globo (cachorro morto) mas mais interessante, são os pequenos insights sobre história, e como chegamos aqui. Nesse contexto atual, de um país governado por uma quadrilha Diomedes Chinaski é dos poucos mc’s que vem defendendo Lula da justiça seletiva, atacando o golpe, e segue resistindo e crescendo dentro do mercado.

Em termos de produção, o rapper pernambucano é aqui como disse o poeta Vandal em outro lugar: “um poço de disposição”, pós sulicídio. Diomedes tem uma produção invejável e de alto nível, sempre parelho com o que de melhor esta se fazendo no rap nacional. algo que já vinha acontecendo mas sem os devidos holofotes. Essa mixtape que ao que parece antecede seu disco oficial de estreia, é mais um excelente sinal do que podemos esperar desse jovem artista pernambucano.

Sim pois, apesar de contar hoje depois desse lançamento com 7 discos solos, e dois com a Chave Mestra, ele nos confidenciou que considera os seus trabalhos anteriores como treinos. Que agora sim, devido ao conhecimento acumulado, já se considera capaz de produzir um disco que realmente seja possível chamar de estreia.

É bem verdade que seria possível e talvez necessário que o disco contivesse participação de mulheres, não pelo resultado final, pois não dá pra dizer o que seria com mulheres presentes. Mas sobretudo pela carga politica que se pretende, afinal esperamos de um comunista rico maior participação de mulheres junto a revolução, ao ponto em que elas estejam lado a lado. 

De resto, essa mixtape já entra para nossa lista de discos memoráveis, não apenas de 2018, mas da vida pois são assim as obras de arte como os livros de Bukowski e os quadrinhos do Lourenço Mutarelli, elas duram, ao contrário das revoluções.

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