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Dimak é um mestre no hip-hop em plena atividade

Dimak é um mestre no hip-hop em plena atividade, o Brasil precisa conhecer, uma das mentes mais relevantes da cultura em nosso país

Recentemente escrevemos um artigo sobre a grande mc Stefanie, e é sempre uma honra nos aproximarmos um pouco mais de grandes nomes, fora do hype. Essa aproximação certamente é o que nos leva a compreender melhor a cultura, pensar através de exemplos vivos do que pode o Hip-Hop como forma de expressão artística, mas também como postura político-existencial. Em meio a pandemia de Covid-19 chega aos streamins uma obra rara do rap/hip-hop nacional, de um nome que segue no underground cada dia mais vivo, mais criativo e mais verdadeiro como nunca. 

O rasta é bonito pa porra, e tem envelhecido como um negro gato cada dia mais atento, com uma percepção apurada e um conhecimento da cultura hip-hop que é um monumento vivo a andar pelas ruas de Salvador. Alguém que é um dos grandes e pioneiros nomes da cultura da cidade, mas que segue sendo generoso não apenas ao nos ofertar suas criações, mas também na abertura com as novas gerações. Dimak é o vulgo que as ruas respeitam, que os palcos testemunharam a força do ritmo e das palavras, é a assinatura que as paredes da cidade elegantemente guardam e que riscou muitas peles. É aquela história, se você não conhece Dimak você tá por fora. 

Nascido na CBX, morador da Massaranduba, cedo como muitos de nossa geração foi influenciado pelo blocos afro. Olodum, Ilê Aye, Muzenza. Já mais velho, admirador de quadrinhos e cinema, entrou em contato com o rock, o metal, principalmente a rica cena de BH em torno da gravadora Cogumelo, de bandas como Chakal,Sepultura, Sarcófago e Mutilator. depois caminhou para a cena punk e hardcore de tons mais políticos e contestadores. Já nessa altura morador do bairro de Mussurunga, o jovem Marcelo vai amalgamando essa série de influência numa persona muito rica e atenta, até que conhece o hip hop, primeiro através do breaking, como muitos de nós, depois através do grafitti e finalmente com o rap. 

Frequentador das reuniões da Posse Ori, Dimak que tinha se iniciado na arte dos riscos através da pixação começa a construir sua sólida reputação no grafite, hoje participando da crew TrapBoys. As reuniões da Posse no passeio público foram ponto fundamental para o desenvolvimento do hip hop em Salvador, e lá Dimak pode conhecer outros nomes importantes do que seria talvez a 3 geração do rap soteropolitano, nomes que seriam parceiro ao longo dos anos como Mobiu (amigo dos tempos da pixação), Sereno, Fall Clássico, DaGanja. E é notadamente nesse momento, que toda a caminhada do mano reconhece um norte: o Hip-Hop.

Vocal da banda de hardcore No Deal, Dimak vai tocar em uma das grandes bandas do rap baiano, o Testemunhaz, com Mobbiu no baixo e Branxer nas guitarras, os mics ficavam a cargo dos mcs Fall, Sinho. DaGanja (que também tocou percussão na banda). Pouco tempo depois se muda para Itabuna e lá é convidado a participar da banda OQuadro, se tornando um MC. Retorna dois anos depois para Salvador e integra novamente o Testemunhaz agora como MC. 

A caminhada de Dimak, curiosamente atravessa o desenvolvimento do hip hop baiano de um modo muito bonito. Integrou projetos muito interessantes e pioneiros, como o Loquaz (Sereno e Fall). Foi Mc de apoio do primeiro disco do DaGanja, gravou com muita gente da cena, participou do disco do Ministéreo Público. Se Vandal é o pioneiro da estética do Grime no Brasil, foi Dimak quem lhe apresentou, como o próprio nos contou nesta entrevista. Muito tempo, muita maturação, artistas verdadeiros em sua arte, assumem essa ética. 

Não por acaso, o nome do primeiro disco do Dimak é Paciência e Disciplina (2013). O disco chega agora às plataformas de streaming e mostra-nos o quanto o exercício existencial e político que Dimak executa diariamente é apenas mais uma expressão de excelência que ele cultiva dentro do hip-hop. Em tempos de tantos MC fakes, é fácil notar como um disco lançado há 7 anos atrás permanece robusto. No momento em que a cultura do DJ está enfraquecida no rap nacional, o disco do Dimak já abre com uma intro onde o mestre DJ Leandro risca sem pena, naquele modelo, produzindo scratches e colagens.

Ao longo das 11 faixas que compõem esse disco que com certeza é um dos clássicos do rap baiano, as linhas e o flow que Dimak solta cuspindo barras agressivas e verídicas, comunicam uma expressão que nunca sairá de moda. Pois é a verdade profunda que essa cultura guarda. As ruas que viveu, a empatia que desenvolveu, a arte que conquistou ao longo de sua vida, se fazem presentes de modo indubitável em Paciência e Disciplina (2013) como uma tábua de salvação para quem tem ouvidos para ouvir, e maturidade suficiente para absorver sua poesia e ritmo.

Poucos artista da cultura hip hop nacional possuem uma caminhada tão verdadeira, aliada a tamanha versatilidade artística. Ao longo do disco Dimak cria uma obra que quando descobrimos ali por volta de 2014/2015, nos serviu muito para orientar nosso pensamento dentro da cultura hip-hop e é um dos discos ao qual sempre voltamos, só pra ter mais uma vez a certeza de que o hip-hop tem aqui um monumento. 

Ouvir esse disco hoje é ter a confirmação da força do hip-hop baiano, através da arte de um MC que no seu trabalho é uma referência e que pelo seu próprio modus operandi. Os beats que estão neste disco, são de nomes também fundamentais da rica cena baiana: DJ Leandro, Yuri Loppo, Mr. Armeng e DJ Gug. Nesses beats ora bem agressivos, ora cadenciados pra malandragem do MC, Dimak amassa demais com um esquema como uma “rima viva” sedenta de conhecimento e transmitindo sua sabedoria. 

Autoconsciente, o MC atravessa as faixas botando fogo na babilônia, falando do orgulho de ser negro e periférico, de sua ancestralidade, nunca panfletário. O próprio título das faixas já dão uma ideia do que nos espera: “Sou Digno”, Aliado ou Oponente”, “Pés no Chão”, “Estilo Suburbano”, “Brilho e Facilidade”, O disco ainda traz uma musicalidade muito interessante, com as participações de Diego 157 e do mano Galf AC na faixa “Castelo de Areia”, onde os MC fazem críticas às desigualdade presentes diuturnamente em Salcity.

Seja em linhas pictóricas, seja nas poéticas Dimak não desperdiça, nem tinta e nem palavras ou ideias. Na faixa “Sei Que Existe” ele mostra que também nas linhas musicais tá longe de ser um MC mediano,metendo um flow nervoso numa base ragga, para na sequência em “Tudo Que Eu Queria” desenrolar aquela que talvez seja uma das mais emblemáticas faixas do disco. 

A arte de Dimak é a consciência de um homem negro periférico que através do hip-hop encontrou seus modos de expressão, no grafite e no rap, “além de rimador, primeiro eu sou é grafiteiro”. E a partir desse desenvolvimento artístico ele adentrou também a arte das tatuagens, sendo hoje um nome dos mais respeitados em Salvador, assim como também movimento a marca de roupas de estilo inconfundível: Arte Bastarda. Que apoia MC’s e eventos de hip hop na cidade.

Dimak segue produzindo, e vem lançando singles desde o lançamento de seu disco, e hoje soltou mais um cartucho raro, marcando mais uma vez sua posição como uma das peças mais importantes da cena local. A faixa Mentiras (2018), conta com a produção/mix e master do Yuri Loppo e caiu no spotify agora em 2020 e ainda assim e mais uma vez aponta o quanto, esse mano manda muito bem, sempre. Escute, absorva e conheça um pouco melhor esse artista do hip-hop.

-Dimak é um mestre no hip-hop em plena atividade 

Por Danilo Cruz

             

 

 

 

 

 

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