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Discos, Resenha

Dia 16 (2015) – Odair José

Dia 16 traz à tona a verve roqueira de Odair José e mostra que o compositor está para além do rótulo brega que o persegue durante toda sua carreira.

Odair José nasceu no dia 16 (“não importa o ano e nem o mês”) na cidade de Morrinhos, interior de Goiás. Não consigo deixar de pensar que há uma simbologia por trás do título que vai além da representação da data de nascimento do compositor. Por esse motivo acredito haver a intenção de marcar o ressurgimento de Odair José. Vou por esse caminho pelo fato de Dia 16 apresentar uma espécie de renascimento de sua carreira.

A capa do álbum enfatiza o dia 16 ao longo da história da humanidade trazendo registros de fatos determinantes ocorridos nesse dia. No que diz respeito à música ocorreram eventos importantes durante o século XX em dias 16 registrados na capa do álbum. Listarei aqui alguns deles. O Cavern Club, clube noturno de Liverpool famoso por apresentar os Beatles ao mundo, foi inaugurado no dia 16 de janeiro de 1957. No dia 16 de abril de 1964 o primeiro álbum dos Rolling Stones foi lançado no Reino Unido. No dia 16 de junho de 1965 Bob Dylan gravou Like a Rolling Stone no Columbia Recording Studio em Nova York. No dia 16 de agosto de 1977 Elvis Presley morreu. Na letra de Dia 16, primeira faixa do álbum, ele já deixa claro “Hoje é dia 16/ é tempo de comemorar/Não importa o ano e nem o mês/ faça um brinde pra lembrar”.

Quem conhece o trabalho de Odair José (cito o álbum O Filho de José e Maria, ópera rock que conta de uma forma diferente a história de Cristo, pra ficarmos apenas em um exemplo) sabe que o cara é rock´n roll desde os primórdios de sua carreira. Enfrentou o moralismo careta dos conservadores cristãos, a perseguição dos militares e sua censura covarde sem jamais ceder. Pagou o preço de ter sua carreira relegada ao submundo da música brasileira enquanto outros artistas optaram pela obediência passiva, mesmo que tivessem que pagar o alto custo de ter a autenticidade de sua música comprometida. Muitas de suas músicas já flertavam com o rock, mas aquele mais leve, mais limpo, bem ao gosto dos anos 50. Dia 16 traz uma sonoridade mais agressiva, guitarras temperadas com distorções mais pesadas, um verdadeiro mergulho nas águas turbulentas do rock´n roll. Vocês acham que a semelhança com Bon Scott, vocalista original do AC/DC, fica apenas no aspecto físico? 

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo Odair José diz ter passado um tempo considerando sua carreira uma “merda”. Isso por ter passado os anos oitenta e noventa sem produzir nada de importante, apenas lançando discos para sobreviver, sem qualquer valor artístico. Reproduzo aqui sua avaliação sobre estes vinte anos de sua carreira: “Passei um período achando que eu era um merda. (…) Dos anos 80 aos 2000 tenho um trabalho desnecessário. Eu fazia disco por fazer.”* Dia 16 vem acabar com essa maré de tédio, retomando o caminho vigoroso interrompido no final dos anos 70.

Inclusive seu novo álbum herda a música Fera, originalmente composta para o álbum O Filho de José e Maria, que havia sido barrada pela gravadora RCA Victor. A letra enfatiza a relação de amor entre homem e mulher alimentada pelo sexo feito prazeirosamente. Temos aí a provável causa de sua censura pela RCA em 1977. Infelizmente a versão original da música só é conhecida pelo Odair José. O arranjo feito para o novo disco acompanha a pegada hard rock de algumas faixas do álbum, enfatizando os riffs de guitarra.

Para os puristas a faixa quatro intitulada A Moça e o Velho (clique aqui para ver o clipe oficial da música) mantêm a linha de outros hits de Odair José como Vou Tirar Você Desse Lugar e Uma Vida Só. A letra da música narra a história de amor de um casal cuja grande diferença de idade gera comentários preconceituosos, escandalizando a todos. O órgão Hammond no início da música desperta a nostalgia dos álbuns dos anos 60, dos boleros, contudo as guitarras aparecem novamente para equilibrar o ambiente. Dia 16 retoma a carreira de Odair José perdida ao final dos anos 70 renovando sua sonoridade e estabelecendo um novo diálogo com as novas gerações de compositores além de despertar o interesse de um público mais jovem.  

*Trecho retirado da entrevista concedida por Odair José à Folha de São Paulo.

Nota: 

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