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Devotos de Jah, do punk/hardcore ao reggae

A Devotos lançou o single Nossa História no dia 30 de junho e dão indícios do que veremos no novo álbum da banda dedicado ao reggae. 

Quando reggae e hardcore são relacionados de alguma forma, quase que imediatamente sou levado a pensar nos Bad Brains. Isso porque a banda estadunidense, uma das mais importantes da cena hardcore dos anos 80, dividia-se entre a suave cadência jamaicana e a velocidade frenética do jovem estilo estadunidense.

Embora o hardcore seja predominante na sonoridade da banda, o reggae e o dub sempre aparecem num álbum ou outro.  Como podemos ver nas faixas Leaving Babylon Calling Jah, que fazem parte do álbum de estreia da banda, aquele com a icônica capa na qual o Capitólio é atingido por um raio.

Em God Of Lovelançado em 1995, a banda se aproxima ainda mais das sonoridades jamaicanas. Já no título e na capa do álbum fica claro que haveria um aprofundamento nas raízes jamaicanas. Contudo, a imersão completa no universo musical e cultural jamaicano só acontece em 2002, quando lançam I & I Survived (dub)

Num primeiro momento causa estranheza ao se colocar reggae e hardcore como gêneros passíveis de algum entrelaçamento. Porém, um olhar cuidadoso sobre a história do punk rock, em especial no Reino Unido, as familiaridades surgem, principalmente se levarmos em consideração o ska. Claro, nos EUA houve essa influência também, como atestam os representantes do hardcore californiano N.O.F.X e Rancid. 

Porém, o enfoque nos Bad Brains, deve-se ao fato de ser uma banda preta que vê na música um instrumento de luta contra a opressão dirigida a essa parcela da população. E tanto o reggae, quanto o hardcore, caracterizam-se por terem um caráter político e afirmação cultural.

E o foco deste texto é este, pois os Devotos, assim como os Bad Brains, são uma banda de hardocre, também surgida nos anos 80, que tem uma importância tremenda para a consolidação e formação do gênero no Brasil, em especial no Nordeste. Isso porque a banda surgiu no Recife, no bairro Alto José do Pinho.

Por serem oriundos de um bairro periférico, cresceram tendo contato com toda diversidade cultural que compõem as periferias brasileiras. Nesse contexto socio cultural que entraram em contato tanto como hardcore quanto como reggae.

Soma-se a isso o fato da banda considerar os Bad Brains como uma influência direta, o anúncio dos Devotos de que iriam lançar um álbum de reggae não causa surpresa, mas a constatação de que a banda seguiu por um caminho que lhe é familiar e que em algum momento levariam a este destino.

Podemos atestar isso nas falas abaixo de Canibal, vocalista da banda:

“A Devotos sempre teve o pé muito forte no reggae, não na sua arte, mas ouvindo, indo para show e se relacionando com pessoas do reggae pernambucano como Marcelo Santana e Ivano. Lógico que com o tempo e influenciados por bandas como Bad Brains, introduzimos o reggae nas nossas composições.”

“Por sermos criados no Alto José do Pinho (bairro do Recife/PE), nunca tivemos dificuldade em incluir outros ritmos em nosso punk hardcore, isso nos deu uma identidade musical no cenário alternativo. O reggae em Pernambuco sempre foi muito forte e marginalizado, assim como o punk. Nossas temáticas são muito parecidas, falamos do cotidiano e de nossas vivências nas nossas letras. A simplicidade dos dois ritmos contagia como se fossem mantras. Um é acelerado e pesado como uma cachoeira, o outro é suave e necessário como a batida do coração”. 

Enquanto o álbum não sai, ficamos com uma pequena amostra do que os Devotos reservam para gente. Lançado no dia 30 de junho, o single Nossa História, que investe numa sonoridade focada no groove e nos arranjos de metais, oferece o swing, bem como o punch no refrão. Sobre essa estrutura da banda para a agravação do novo álbum da banda, Neilton (guitarrista) nos fala o seguinte: 

“A iniciativa do disco punk reggae da Devotos tem como principal característica a necessidade de registrar em um único disco todas as músicas que já compusemos durante esses 33 anos que tem esse ‘namoro’ entre esses dois estilos. Somos um power trio mas para esse álbum adicionamos outras texturas, sonoridades, efeitos e vozes para que tivéssemos um som mais encorpado, mas ao mesmo tempo sem perder a nossa origem punk. Isso foi possível com a ajuda do produtor e arranjador Pedro Diniz, que captou muito rápido nossa ideia”. 

Fiquemos atentos a esta reta final de 2021, pois o lançamento do novo álbum da Devotos se´ra feito neste segundo semestre. Sairá pelo selo Estelita e terá, além da inédita “Nossa História”, outras dez faixas que serão releituras feitas pela banda. Não há detalhes a respeito de quais músicas receberão essas novas versões pela Devotos, razão suficiente para nos deixar curiosos e ansiosos para o lançamentos do álbum.

Não podemos esquecer do vídeo clipe do single, disponibilizado no início da matéria. Teve direção de Ricardo Leão, que usou imagens captados no estúdio durante as gravações do álbum. 

Por Carlim

 

Ficha Técnica
“Nossa História” (Cannibal/ Neilton/ Celo)
Produzido por Pedro Diniz
Gravado no Estúdio Pólvora, Estúdio Carranca e Estúdio Estelita (Recife/PE)
Mixagem por Mathias Severien no Estúdio Pólvora (Recife/PE)
Masterização por Buguinha Dub no Mundo Novo (Olinda/PE)
Técnicos de Gravação: Mathias Severien, Rodrigo Araújo e Marco Melo
Arranjo de Sopro: Pedro Diniz 
Produção Executiva: Ricardo Leão
Realização: Selo Estelita
Patrocínio: Lei Aldir Blanc
Devotos:
Cannibal – Vocal e baixo
Neilton – Guitarra
Celo – Bateria
Músicos:
João Zarai – Backing vocals
Surama Ramos – Backing vocals
Diego Drão – Órgão, clavinete e piano elétrico
Henrique Albino – Sax tenor
Jonatas Gomes – Trompete
Thiago Duarte – Percussões

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