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Deep Purple: uma noite endiabrada eternizada em Graz 1975
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admin
abril 12, 2015
Minha fase favorita do Deep Purple é a que compreende o período mais complicado da história da banda, o balanço Funk/Soul que fez a cabeça das principais mentes criativas do chamado ”MK III”, entre 1974 e 1975. Nesse meio tempo nós tivemos (em ordem cronológica), ”Burn”, (1974) ”Stormbringer” (1974) e o meu favorito dessa época fechando o ciclo, ”Come And Taste The Band” de 1975.
O problema é que dentro do âmbito de fãs do Purple, eu faço parte de um minúsculo grupo que aprecia essa fase, se bem que hoje o som é melhor assimilado (talvez pela passagem de tempo), mas na época do lançamento desses trabalhos os xiitas Purplelianos queriam morrer com a sonoridade desses discos.
Mas acho que isso mudou consideravelmente, por que se não tivesse, duvido (e muito), que depois de quase 40 anos eles iriam lançar um dos ao vivos mais pirateados da história da banda e ainda por cima um show desta fase. Porém foi exatamente isso que foi feito, ficou na gaveta por milênios, mas finalmente a demencial apresentação da line up Funkeada em um de seus últimos momentos unidos, em Graz, Áustria (terra do lindíssimo Vienne Opera House), viu a luz do dia…
Line Up: Ritchie Blackmore (guitarra) Glenn Hughes (baixo/vocal) David Coverdale (vocal) Ian Paice (bateria) Jon Lord (órgão)
Track List: ”Burn” ”Stormbringer” ”The Gypsy” ”Lady Double Dealer” ”Mistreated” ”Smoke On The Water” ”You Fool No One” ”Space Truckin”’
Olhando o set até parece que o show foi curto, e o motivo pode ser a erosão afetiva que a banda estava passando, mas não, são poucos temas é verdade, porém o estrago é fulminante. Quem escuta esse CD nem imagina que a banda estava a beira de um colapso, vale lembrar que pouquíssimo tempo depois deste grande evento que o menino Blackmore resolveu sair da banda. Ele não estava feliz com o rumo swingado que sua banda tinha tomado e fazer parte de três trabalhos de estúdio nessa pegada foi realmente um tormento para seu fraseado clássico-Heavy-Metal, por isso que o Rainbow foi criado. ”Heavy Metal hoje, Heavy Metal amanhã, Heavy Metal sempre”, este muito provavelmente era o slogan do guitar hero na época.
Mas voltando para o show, quero que os senhores foquem na dupla Hughes-Coverdale, os responsáveis primários pelos novos rumos criativos que a banda tomou. Ambos arrebentam, na realidade a banda toda manda muito bem, inclusive o Blackmore, mas a qualidade de som destacou ainda mais essas belas vozes e o baixão loop de Glenn.
Pra início de conversa o quinteto já abre o deus nos acuda com quase oito minutos de ”Burn”. A voz da dupa Soul com qualidade de estúdio é brincadeira e quando chega na parte ”A” da música o que esses caras fazem no improviso é um completo absurdo, perceba que SEMPRE foi assim, a banda muda, mas o Purple solto no groove sempre chamou uma jam como poucos.
Tem Paice a milhão na batera acompanhando o Lord inglês do órgão com a faixa título do último disco da banda até então (”Stormbringer”), temas mais curtos, inclusive batendo com o cronômetro da versão de estúdio, como ”The Gypsy” e ”Lady Double Dealer”.
Mas a síntese desta banda, do som deste momento sonoro-histórico está nos longos temas. A energia, a acidez, a nova forma de vislumbrar o caos, o DNA entruso dessa formação está em temas como ”Mistreated” e seus quase 15 minutos de derretimento de geleiras mentais, os dez minutos de criatividade live ao som do riff mais conhecido de todos os tempos (”Smoke On The Water) e o brilhantismo inicial do erudito Jon Lord no clima espacial de ”You Fool No One” e seus 12 minutos do puro néctar Hard- Funk Star Wars.
Mas tudo isso ainda é pouco perto do grand finale deste que, para muitos fãs da fase James Brown da banda, é o Santo Graal desta instrumentalização cósmica. Fique com os vinte, sim, 20 minutos de ”Space Truckin”’. Mas fora o tempo, digo sem medo algum que a versão DESTE tema em especial é a mais chapada já registrada, inclusive é superior a que temos no mítico ”Made In Japan”. A música é completamente desconstruída, Hughes devia estar mais cheirado que o Pablo Escobar e o que o senhor Jon faz no órgão, tocando o tema do Jornada nas Estrelas no meio da música é um absurdo, mais ainda é o rumo que essa jam segue… Deep Purple hoje, Deep Purple amanhã, Deep Purple Sempre!