Sexta 01/05/2015:
Tempo chuvoso na capital baiana, os relâmpagos atravessam o céu prenunciando as chuvas que não tardaram a cair. Coloco um disco para ouvir e pqp! Primeiro meus ouvidos doem um pouco até se acostumarem com a altura, para em seguida uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo.
Acabou! A maresia e o tédio foram apagados definitivamente. Penso comigo: que sonzeira é essa? Que banda é essa desfilando seu som a mil por hora, nos dando a nítida impressão de que estamos no carro com o Stuntman Mike, do filme À Prova De Morte de Quentin Tarantino.
A banda é o Motor City Madness e eles acabam de lançar seu segundo disco: Dead City Riot. O nome é gringo, mas a banda é nacional, os caras são de Porto Alegre. Ao todo são onze faixas que trazem um som stoner com forte pegada punk, todas elas tocadas com urgência e vigor, lotadas de riffs e solos velozes e com letras cantadas por uma voz rouca e alucinada.
Os predadores em questão são: Sergio Caldas (Guitarra e Voz) Rene Mendes (baixo) Fabian Steinert (guitarra) e Rodrigo Fernandes (bateria). Esse quarteto consegue nos provar que o nosso rock vai muito bem obrigado.
O disco (desde a capa, passando pelo título e indo até as músicas) vai desenhando imagética, sonora e liricamente o quadro de um apocalipse, do caos. Algo que tem sido muito explorado hoje em dia em filmes e séries de tv, mas que remonta a uma velha tradição. De Bosch e Bruegel a Rick Grimes essa parece ser uma preocupação constante na história das artes. E como em toda obra de arte que se preze, os Motor City Madness não propõem nenhuma saída, apenas pintam, ou melhor, tocam e cantam o que seria a trilha sonora ideal para o combate na cidade morta.
Quem tem colhões que busque habitar as nossas cidades enfestadas de mortos vivos, desabamentos, violência policial, engarrafamentos, falta de saneamento básico e outros problemas que enfrentamos todos os dias, mas que muitos preferem continuar ignorando e vivendo como zumbis. Nesse sentido a música dos caras serve também como trilha sonora da luta contra o conformismo em todas as suas vertentes. Não falo aqui de mero engajamento ideológico, eles próprios não elegem aquilo que as boas almas entendem como o bom combate.
O que percebemos claramente é um chamado veloz e agressivo para o bom e velho procurar e destruir. Que cada um eleja os seus alvos e trace a partir daí suas linhas de fuga. O único valor que aqui parece assumir a frente de batalha é a vida. Viver, buscar a liberdade de ação, não compactua com os agentes da morte como em Death Patrol. Habitar a cidade morta é estar consciente de si mesmo enquanto agente potencial da transformação: “We’re outsiders living in the dark side o’town. You gotta fight the system, revolution underground.”
Os loucos sabem que são os fluxos subterrâneos que de maneira lenta, porém intensiva, vão minando os hábitos que nos condicionam a aceitar toda essa merda que dia a dia nos assola. Aqueles que são Strong As A Rat, os “daddys little boys”, são os detentores dos privilégios contra os quais todos os riffs e letras do disco (toda a porrada sonora apresentada) está direcionada. O fato é que vocês precisam ouvir este disco, dar o play e caminhar pela cidade como dizia o poeta: ”I’m street walking chetaah with a heart full of napalm.”
Sim, é a mensagem suprema: procurar e destruir!
Clique aqui para baixar o disco ou escute pelo soundcloud essa nova pedrada do Motor City Madness: