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Daniel ADR, se recusa a sair do rap em busca de PJL (2021)

Daniel ADR

O MC e beatmaker paraense Daniel ADR lançou PJL (2021), sem desistir do rap ou viver o rap de ilusão, real hip-hop

“Periferia é periferia em qualquer lugar, é só observar” GOG

O poeta e beatmaker paraense Daniel ADR, traz também em seu nome artístico uma sigla de três letras, mas não fica aí a analogia. É curioso como os “ensinamentos” efetuados pela história do hip-hop são renegados na prática, pois´o grande público insiste em não observar a força do hip-hop em todas as periferias do Brasil. Produzindo uma exclusão de diversos artistas ao longo de todo território nacional que resistem e enfrentam com muita qualidade as dificuldade de produzir fora do eixo, e ao mesmo tempo geram suas próprias contribuições e “ensinamentos”.  

Se por um lado, a relação dos artistas com os diversos territórios e culturas nacionais geram uma riqueza grande em termos musicais e poéticos. Por outro, deveriam – e o conseguem no subterrâneo – gerar um transcendental capaz de pensar não somente o hip hop nacional, como as desigualdades em nosso país. E é aí também que Daniel ADR e GOG se comunicam, o poeta de Brasília se encontra devidamente representado no poeta de Belém. 

A capacidade de subverter a linguagem e estender nossa compreensão é aplicada com bastante proficiência por Daniel ADR, em seu novo trabalho PJL (2021). O EP que traz 5 faixas e é uma produção executiva da Psica Produções, toma seu principal apelo na sigla criada pelas facções criminosas que atuam nas periferias de todo o Brasil e o ressignifica dentro dos termos da cultura hip-hop. Desde  o final da infância e começo da adolescência envolvido na cultura hip-hop, o paraense começou sua caminhada dentro da cultura através do freestyle. 

De lá pra cá, além de diversos singles e participações, saíram os EP’s Até Agora (2017) e Luminescente (2019), que valem a pena para conhecer tanto o desenvolvimento do MC e beatmaker como sua versatilidade. Trajetória que nos faz perceber um artista em franco desenvolvimento e que nesse último trabalho busca experimentar novas sonoridades, com produtores locais e dialogando tanto com a cultura global quanto local. 

Daniel ADR dá pista para as pistas?

A busca por paz, justiça e liberdade presente no novo EP do Daniel ADR dialoga com o amor como força regenerativa de diversas feridas que as vivências nas ruas nos causam. A house music é presença forte em PJL (2021) imprimindo um caráter mais leve e festivo que contrasta com algumas faixas que não deixam de abordar os problemas sociais, mas vão além. A faixa homônima ao título, vai muito no caminho da recuperação da autoestima de si mesmo e dos seus, além de razer a participação do Pelé do Manifesto, produça do Pratagy.

Assim como na faixa de abertura – Tiro de 12 (prod. Pratagy) – Daniel ADR se junta a cantora Luê e dropam com muito “Sex Appeal” no  beat do Erick Di. Amor e sensualidade são as tônicas das duas faixas que apresentam um diálogo com o pop e até com o funk carioca, sem diluição da força de contestação do trabalho. 

O coração periférico e negro se encontra muito bem musicado e poetizado por Daniel ADR, que é capaz de escrever sobre perdas e conquistas com a mesma desenvoltura. “Vida Bandida (prod. Pratagy)” é a faceta da rua, da consciência afiada de modo crítico  contra as opressões estruturais de nossa sociedade.      

O disco se encerra com uma abertura maior do Daniel ADR para sua cultura de base e para uma sonoridade que o obriga a sair da zona de conforto de rimar. A faixa “É Fogo” produção do Felipe Cordeiro figura de proa da música contemporânea vinda de Belém do Pará, encontra um Daniel ADR livre leve e solto, rasgando o coração no auto-tune, e cantando com qualidade. Música de alto teor radiofônico, e pronta para bater nos sistemas de som de lá e de cá! 

Com PJL (2021) podemos perceber muito do que GOG cantava lá Brasilia Periferia (1994), aqui recorrendo aos afetos e atualizando as descrições que lá eram feitas em ritmo de storytelling, pelo poeta de Brasília. Daniel ADR moderniza o seu som, dialoga com outras sonoridades condensando descrições e focando na humanidade de pretos e periféricos, Pois, em todas as periferias do Brasil e na diáspora a luta permanece sendo a mesma: Paz, Justiça e Liberdade. 

-Daniel ADR, se recusa a sair do rap em busca de PJL (2021)

Por Danilo Cruz 

 

 

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