D.D.H. prova que poucos recursos não é desculpa para trabalhos ruins e Direto do Hospício chamado Salvador elevam as condições do jogo: arte
Muito escrevemos sobre os singles que forma esse EP enquanto eles foram lançados um após o outro. Se dúvida veja aqui aqui aqui aqui e aqui. Finalmente temos o prazer de apresentar essa pequena obra prima inteira, com o acréscimo de uma sexta faixa: Gênesis Criogênicos. E é com certeza um movimento de criação a baixíssimas temperaturas, retirando o glamour, acrescentando muita sujeira em alto teor lirico com gravações em estúdios caseiros. E o resultado dessa receita é um prato que nos leva a dois efeitos após sua ingestão. Repensarmos para onde caminha o rap e qual a potência artística que o rap possui.
A união das diferenças cantadas em versos, tanto no estilo quanto no conteúdo pelos dois membros do D.D.H., Baco e Mobb é mais do que uma promessa, é uma prática. A possibilidade de incorporarmos para além dos discursos uma questão (a união das diferenças) que é emergencial em nosso mundo, e que numa cena musical deve ser cultivada.
Ao mesmo tempo, reconhecemos aqui nesse trabalho, o peso da tradição a qual os meninos se filiam que vem da gringa até suas cidades de origem. Cosmopólis: Camaçari Salvador Mississipi Nova York. Não inventam a roda, certamente, porém inovam bastante e delimitam daqui pra frente qual o nível em que estamos. Essa delimitação obviamente não impõem cânones e cada qual se virará da forma que puder, mas um belo passo a frente foi dado.
Somente uma cena musical rica como a da Salvador atual pode dar a luz tamanha estrela, pois esta cercada de caos por todos os lados. E que todos os rappers da velha escola se sintam incluídos, pois sem alicerces a renovação é impossível.
O caos que nos cerca é imenso e Salvador bate recordes de violência. Numa cidade que a cada dia vai sendo privatizada a despeito da sua população. Por isso talvez, faça tanto sentido as loucuras que ouvimos a cada punch line que os meninos desfilam, pois essas sínteses poéticas representam veementemente nossa situação. Indivíduos presos numa cidade fabricada para nos enlouquecer, exterminar, empobrecer e nenhum delírio é suficientemente forte para chegar a altura daqueles que a comandam. Mas aqui estamos diante de um revide sinistro, ou de uma esquiva muito hábil, vocês escolhem.
Que bobagem nossa ter dito cidade, país, mundo, planeta seria mais adequado. Mas apegando-se as nossas particularidades e conseguindo transforma-las em arte o D.D.H alcança universalidade. E é nesse jogo que o Direto do Hospício se insere, com uma malandragem forte o bastante para nos ajudar a entender essa realidade que nos cerca. Com riqueza de detalhes, com aproximações a referências que podem parecer conflitantes, mas que depois de um olhar mais atento, fazem todo o sentido: pois isso é poesia refinadíssima.
Aqui é a linguagem que delira no mais alto nível e nos faz perceber tanto a beleza da arte quanto a feiura que nos cerca. As duas participações do disco também são signos importantíssimos. Dois mc’s da nova geração que vem encantando quem ouve, Beirando Teto e Dark (Contenção 33). Enfim, um disco que reuni e representa o novo rap brasileiro, mostrando do que Salvador é capaz, levando para os “grandes” centros – nós não somos – toda a riqueza do rap baiano.
Pois quem estiver moskando que se prepare, de onde esta saindo esses aí, tem pelo menos mais uma centena. O Hospício aqui é SUPERLOTADO.
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