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Conheça o sinuoso Afrobeat do Kokoroko

kokoroko

Um dos grupos mais quentes da cena de Londres, a fusão de Afrobeat com Jazz moderno do Kokoroko é um prato cheio pra quem gosta de swing.

A cena Jazz de UK está em plena ebulição criativa. O ano de 2018 representou uma grande mudança no cenário, principalmente em termos de difusão sonora, com grupos dos mais variados estilos fazendo barulho em níveis diferentes da cena.

Rola desde a Jorja Smith fazendo turnê mundial – e passando até pelo Brasil durante a última edição do Lollapalooza – até uma série de shows lotados do Kamaal Williams, groovando em Los Angeles & Nova York.

O som continua pulsando e se desenvolvendo, mas ainda é um fato que nem todas as bandas da cena já concretizaram o seu nome, gravando um trabalho de estreia.

Tudo bem que isso não impediu que as atividades dos grupos crescessem naturalmente graças à atenção que a cena está recebendo, mas ainda assim, cozinhas como a do interessantíssimo coletivo de Afrobeat, Kokoroko, definitivamente precisavam gravar, e o EP homônimo lançado pelo grupo, via Brownswood Recordings, mostra o por quê.

Line Up:
Sheila Maurice-Grey (trompete)
Cassie Kinoshi (saxofone)
Oscar Jerome (guitarra)
Mutale Chashi (baixo)
Ayo Salawu (bateria)
Richie Seivwright (trombone)
Yohan Kebede (teclados)
Onome Edgeworth (percussão)

 

Track List:
“Adwa”
“Ti-de”
“Uman”
“Abusey Junction”

Digo sem exagero algum que esse trabalho é um dos mais esperados da cena para o ano de 2019. Vale lembrar que o Kokoroko, mesmo sem disco lançado, tocou até no Brasil ano passado – dentro da programação da SIM São Paulo – realizada no final de 2018.

Num showzaço no Jazz nos Fundos, o grupo liderado pela saxofonista Sheila Maurice-Grey, mostrou que o poder dessa cozinha não poderia ficar restrito à singles (“Abusey Junction”) e compilações (“We Out Here”). O buraco é mais embaixo.

O Kokoroko reúne alguns dos melhores músicos da cena.

O time de metais é extremamente sólido. Nas guitarras a banda ainda conta com a luxuosa colaboração de Oscar Jerome – um dos guitarristas e vocalistas mais talentosos dessa geração – e os outros músicos que fecham o septeto (ou octeto em alguns shows), também contribuem com um groove intenso e cabuloso em termos de dinâmica.  

Não se engane pela pouca quantidade de faixas. Cada um dos temas é totalmente desdobrado e o resultado são quase 25 minutos de pura musicalidade e ancestralidade africana. O Jazz foi a linguagem escolhida e os metais são responsáveis por tunar a jam.

Respeitando a tradição de nomes como Fela Kuti, Tony Allen, Ebo Taylor, Babatunde Olatunji e tantos outros, o grupo entrega uma visão contemporânea que cumpre a difícil tarefa de subverter toda essa história, para criar uma abordagem moderna.

 

Se liga na pressão do tema de abertura. “Adwa” surge açucarada com um riff de teclados de Yohan Kebede, bem ali, incitando o swing. Depois que os metais entram e o Oscar Jerome sola, a jam ganha em riqueza, densidade no baixo e fluência, graças ao Jazz.

A percussão de Onome Edgeworth também agrega muito na cozinha. Os timbres são muito cristalinos e nota-se como o som é bastante orgânico, com pouquíssima adição de efeitos. “Ti-de” é um dos temas mais bonitos do EP.

A leveza do instrumental e a maneira como a música cresce de forma ascendente evidenciam uma das maiores habilidades desse grupo de jovens músicos: a capacidade de criar climas delirantes. 

 

 

O EP termina com duas faixas já conhecidas. “Uman” e, principalmente, “Abusey Junction”, foram 2 dos temas responsáveis por viralizar o som da banda no Spotify e no Youtube. Aqui as composições surgem revitalizadas e ganham versões definitivas.

“Uman” vem forte nos metais e junto com a faixa seguinte apresenta os únicos versos cantados do disco. “Abusey Junction” faz uso de tons épicos pra terminar o EP com o groove em tom de mensagem. 

Kokoroko é uma palavra oriunda do “Orobo”, uma tribo e também um dialeto nigeriano que significa: “seja forte”. Esse som é a prova da resistência e mostra como música negra nunca perderá o vínculo com sua nave mãe, o continente africano. O Oscar Jerome gasta demais na guitarra.

Não deixe esse som passar batido.

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