Amanhã começa a 3a. edição do Dopesmoke Festival, que traz um setlist que mostra a presença do dêndê em toda gama de estilos variantes do metal.
Por Carlim e Tom Siqueira
Amanhã começa a edição número três do Dopesmoke Festival. Estamos ansiosos por se tratar de um festival que vinha de duas edições muito bem produzidas, organizadas e com atrações que são referência no underground nacional como o The Mist, os Ratos de Porão, Headhunter D.C e do underground mundial como o Brujeria e o Mystifier. Você pode conferir detalhes sobre a história do festival lendo a entrevista concedida ao Oganpazan por um dos idealizadores e produtores do evento, Joilson Santos. Basta clicar neste link.
Devido ao fortalecimento da pandemia no Brasil, graças ao aperfeiçoamento do vírus através de uma engenharia sanitária pautada em negacionismo olavista mais rasteiro, perpetrada pelo governo genocida do excrementíssimo presidente da república Jair Bolsonaro, que rendeu ao mundo uma nova variante do covid 19, os eventos musicais ainda devem ocorrer via transmissão online.
Sabemos das dificuldades inerentes a este modelo, principalmente no que diz respeito aos problemas técnicos garantidos em transmissões ao vivo. Por isso mesmo, muitos festivais estão adotando o recurso de gravar antecipadamente a apresentação das bandas para então transmitir no dia e horário determinados para a transmissão do festival.
Muitos desses festivais solicitam às bandas uma gravação, que fica por cota das mesmas, que deve ser enviada para ser encaixada na programação para ser exibida como participação das bandas no evento. Contudo, esse recurso, embora elimine o problema dos imprevistos técnicos das apresentações transmitidas ao vivo, não elimina aquele referente à falta de uma identidade visual que transmita ao espectador uma percepção de unidade acerca do festival. Fica aquela sensação de que se trata de um compilado aleatório de shows.
A produção do Dopesmoke mostra mais uma vez sua criatividade, profissionalismo e competência na execução das ações que viabilizam um evento de excelência. Conforme vocês podem constatar no teaser do festival no início desta matéria, todas as apresentações foram gravadas no mesmo local, um cenário dentro de um estúdio cujo cenário reproduz toda a estética criada para esta edição do Dopesmoke.
Vale lembrar que a concepção visual da edição 3 do Dopesmoke se baseia na arte criada pelo Cristiano Suarez para o cartaz oficial do festival. Cristiano Suarez foi o artista que criou o pôster anunciando as apresentações dos Dead Kennedys no Brasil em 2019, que acabou não rolando pois os caras mostrando que sem o Jello Biafra o nome da banda deve ser entendido de forma literal.
Então meus caros e minhas caras oganautas, a partir de amanhã teremos 3 dias de muita música da pesada com performances alucinantes da nata do metal baiano. Além de ser um setlist que oferece toda variedade das vertentes do metal extremo, concentra esforços em mostrar a força do underground baiano no interior, tanto nas referências já clássica quanto nas mais recentes. Claro, Salvador também está muito bem representada, vocês podem conferir abaixo um breve resumo das principais características e histórica de cada uma das bandas.
Legacy Of The Deaf:
Referência na mescla do Doom com o heavy metal tradicional, o grupo de Irecê apaga o mundo com seus climas épicos e atmosfera setentista. A carta na manga do Legacy para o show será seu festejado EP homônimo, que traz viagens espaciais e soturnas como “Space Ship of Doom”, que nos leva direto ao melhor do Candlemass e passagens do Sabbath.
My Friend Is A Gray:
A banda soteropolitana já é conhecida pelas experimentações, e, a cada lançamento, adiciona mais elementos ao seu desert/stoner rock, que já tem flertado com o Doom, o Sludge, o punk, sempre à procura de um som mais cru e setentista, lembrando desde Nebula a clássicos daquela década, como o Dust, por exemplo.
Pestis:
Outra banda veterana oriunda de Feira de Santana, outra banda representante do black metal no Dopesmoke, a Pestis. Em 2021 a banda completa vinte anos da sua fundação, nada mais oportuno que celebrar essas duas décadas se apresentando na edição online do Dopesmoke. Pra sentir a força do som da Pestis dá um clique neste link pra conferir a faixa Examination at the WWomb-Door.
MetalWar:
A MetalWar deve ser considerada uma das bandas tradicionais representantes do metal baiano. A banda feirense foi criada em 2004, tornando-se uma referência do power metal em seu estado. Dividiu palco com outras grandes bandas do segmento extremo como Torture Squad, Violator e Headhunter DC, só pra citar alguns nomes. Por tocarem num festival sediado em sua cidade natal, a responsabilidade de mostrar a força do metal local coloca uma carga a mais para a banda em sua apresentação no Dopesmoke 2021.
Infected Cells:
Diretamente de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, o power trio Infected Cell subiu no palco do Dopesmoke 2021 para mostrar sua combinação explosiva de death e trash. Os caras vem de um excelente lançamento, o EP Voices of the Hell, que vocês podem ouvir clicando neste link aqui. Conferi a performance dos caras ao vivo pouco antes da pandemia estourar por aqui, em fevereiro de 2020, quando formaram o line up do Crust or Die Fest com a Aphorism e a Rancor.
Martyrdom:
Uma das bandas que podemos considerar “de casa” por ser de Feira de Santana, a Martyrdom faz por merecer sua presença no Dopesmoke só pelo modo como “avisaram” sobre o nascimento da banda. Logo em seu primeiro ano lançaram o EP Culto Primitivo à Morte, deixando claro que ali uma promissora banda híbrida de death, doom e black metal iniciava sua trajetória. Não demorou muito e lançaram um álbum cheio, mostrando que o EP era um aperitivo para o prato principal, o álbum Ritual Místico de Adoração à Sabedoria Ancestral, lançado em 2018. Particularmente, espero um show não menos que insano.
Act Of Revenge:
Heavy metal soteropolitano em estado puro, a Act of Revenge vem de uma estrada percorrida há mais de uma década. Embora tenha classificado a banda como heavy metal, não podemos considerar se tratar de um caso de exclusividade, isso porque a banda se caracteriza pela sua diversificação sonora. Mantém-se inalterável apenas sua lealdade ao metal. Em 2009, apenas um ano após a fundação da banda, foram lançados dois singles: Believe e Peace of Mind. Em 2015 lançaram o álbum No More Suffering e em 2018 o Ep 5 Atos, que foi muito bem recebido pela mídia especializada.
Viscerall:
A Viscerall engrossa o coro de vozes do metal do interior baiano com seu heavy metal primordial. Fundada em Alagoinhas no início do século XXI, a longa história da Viscerall rendeu cicatrizes à banda, contribuindo para dar ainda mais casca aos seus integrantes e mais densidade à sua sonoridade.
God Funeral:
Death Metal old school feito de forma intensa e segura a God Funeral é daquelas bandas que investem numa sonoridade densa e funesta. Embora seja uma banda recente, tem o respeito devido dentro da cena, não apenas pela trajetória de seus componentes que vem de longa data, mas também pelo excelente Ep Where Every One Is Equal, lançado em 2018. Certamente há grande expectativa quanto à apresentação da banda nessa edição do Dopesmoke.
Sofie Jell:
O grupo de som cheio de fuzz é oriundo de Feira de Santana, mas parece mais ter saído diretamente das garagens de Seattle, e tudo aqui nos leva aos dias chuvosos da MTV dos anos 90. Impressionante o domínio e o cuidado nas escolhas dos timbres e estruturas para promover essa viagem no tempo, que emula grandes momentos da revolução capitaneada por Nevermind.
Erasy:
Os filhos feirenses mais amados do Black Sabbath estão de volta ao Dopesmoke para liderar a noite de viagens distorcidas do festival. O vazio nunca foi tão atrelado aos mistérios da personalidade humana como em seu mais recente trabalho, Some Nice Flowers, e é nele que o grupo se apoia para encher o palco de sombras, com os pioneiros do heavy metal como base para suas incursões por territórios que equilibram muito bem a psicodelia, com vocais e andamentos altamente catárticos.
Papa Necrose:
O segundo dia do Dopesmoke não podia começar de jeito mais significativo, em um ano que traz tanto protagonismo ao metal baiano. O Papa Necrose é um verdadeiro defensor e entusiasta do underground e do Death Metal Old School, e em seu novo momento, com a chegada do EP Open Infected Body, promete se aprofundar ainda mais na crueza e agressividade daquele som regado à Obituary e referências do big 4 do thrash teutônico.
Behavior:
Um dos verdadeiros destaques do festival, o Behavior chega ao Dopesmoke com o peso do seu festejado single Necrophagic Necrophilia, projeto que adiciona ainda mais uma atmosfera blackened ao death metal do grupo. Necrophagic chama muita atenção pelo seu som robusto e vocais absurdos de Fabrício Pazelli, que foram gravados no lendário Estúdio Beco, sob a batuta do renomado Vicente Fonseca, outra figura mais do que importante para a cena baiana.
Human:
A virtuose invade o palco do Dopesmoke com o Human, banda que sempre levantou a bandeira do heavy metal tradicional, se apoiando nas melodias da NWOBHM e nas variações e construções rítmicas arrojadas do Death, para criar viagens incríveis como base para letras inteligentes e bem estruturadas, e atualizar um som que faz parte do DNA de todo mundo que gosta de metal oitentista.
Suffocation of Soul:
Chegando de Poções, com sua thrashera alucinante, o Suffocation of Soul, já com seu, hoje, icônico debut, conquistou todos os amantes do som da Bay Area, e encontrou seu lugar de respeito na cena. As letras ácidas e riffs e estruturas que sempre nos levam aos momentos áureos de bandas como Nuclear Assault e Flotsam and Jetsam, se apoiam em belos solos e momentos melodiosos herdados da NWOBHM para compor um ataque sonoro completo.
Headhunter DC:
Depois de mais de 30 anos de estrada, o Headhunter chega ao festival que celebra o “metal com dendê” com o que poucas bandas em nosso país conseguem ter, a certeza do respeito e da, ainda, latente relevância para a história e cena da música extrema do Brasil, e de quebra, carregando sempre a identidade do som feito na Bahia sem se entregar aos modismos. O Headhunter traz ao Dopesmoke apenas o fogo da sua paixão pelo Death Metal, o que já é mais do que suficiente para coroar uma noite de sons ensurdecedores.
Pilot Wolf:
Representando muito bem Vitória da Conquista, o Pilot Wolf traz um dos grandes lançamentos nacionais da quarentena em Killer Machine, um verdadeiro soco na cara de heavy metal bem alemão, nos moldes do Accept e Grave Digger, mas seguindo a produção bem moderna e grandiosa na qual esses grupos também tem apostado em seus trabalhos mais recentes. O grande diferencial do Pilot é justamente um peso extra vindo de outro lado do som da Alemanha, o inflamado thrash do Destruction e do Sodom, que tempera muito bem os já cortantes riffs do grupo.
Inner Call:
Verdadeiro orgulho nacional, o Inner Call dispensa apresentações, e ostenta uma parede de indicações e premiações ao redor do mundo, e sempre nos lembra de uma época de apogeu do metal tradicional. Com nova formação, e começando os trabalhos de divulgação do seu novo trabalho, Leviathan, o Call continua nos brindando com suas belíssimas linhas vocais, e ecos de anos 80, que alternam momentos sombrios com a pura diversão do hard/heavy e até do rock n roll.
Mercy Killing:
Destaque da nossa playlist Mulheres no Metal, a lendária Mercy Killing sempre foi referência na mistura de thrash com punk/hardcore no nosso país, e se destacou pelo texto e postura politizada e contundente. Dessa forma, mostra-se extremamente necessária no line up do festival no momento em que vivemos. Com a chegada da Vanessa Rafaelly aos vocais, a banda promete energia renovada combinada à pegada forte que só a experiência desses mais de 30 anos de estrada pode trazer.
Mystifer:
Para fechar o Dopesmoke, temos uma das mais importantes bandas de black metal do mundo, o nefasto Mystifier, que traz todo o peso da originalidade do seu som que conquistou o mercado internacional. The Sign of The Unholy Baphomet, box set lançado em 2020, e que celebra seus mais de 30 anos de blasfêmia, já indica que podemos aguardar sons de todas as fases da carreira séria e aclamada da banda no palco da última noite do festival.
Você assiste a 3a edição do Dopesmoke no canal da banda no YouTube, que pode ser acessado no link abaixo: