No dia 18 de dezembro aconteceu no EscoBar o evento Conexão Subterrânea, revelando mais um foco de resistência em Salvador contra a opressão em todas as suas instâncias.
Falta ao mainstream aquilo que sobra no underground: autenticidade, companheirismo, luta, criatividade. Muitos procuram esses elementos na arte e não os encontra no mainstream, território ocupado pelo entretenimento vazio, onde a arte é pasteurizada e servida como mero artigo de consumo.
Essa condição exige que seja assumida a responsabilidade, tanto por artistas quanto por público, de construir os espaços para se fazer arte, que nos divirta, emocione, inspire, mas faça refletir, conhecer, construir novos laços de amizade e satisfazer nosso desejo de ser parte constituinte de algo e ter companheirxs que estejam dispostos a alcançar realizações coletivamente. A experiência de construir coletivamente esse campo de possibilidades coloca público e artistas como agentes transformadores de uma mesma realidade. Isso leva a uma outra percepção da vivência artística de um evento.
O Conexão Subterrânea permite a articulação entre artistas e público, para juntos desfrutarem de momentos de arte, informação e diversão. Cristian, Diego e Andres, nossos irmãos colombianos radicados em Salvador, disponibilizam seu bar, o EscoBar, localizado no boêmio bairro do Rio Vermelho, para realização do evento. O EscoBar se torna assim um dos locais de resistência pelo fortalecimento da cena underground baiana.
Embora seja um evento, cuja tônica musical seja o rap, o Conexão Subterrânea, possui ligação direta com o hardcore. Os rappers Gorinez e Daniel Infoguerra, organizadores do evento, se formaram pelas sendas do hardcore e migraram para o rap a fim de criar novas possibilidades para dar vazão a seus versos recheados de crítica social e reflexão política. Temáticas características de ambos os estilos musicais, que jamais descolam sua existência da sua música.
Além da música, o Conexões Subterrâneas teve exposição da artista plástica Sandrini Santos (@p.ussycat.art), mais exposição de fanzines, destacando a Gigito Comics e Marromenos Comics, ambos de autoria de Gigito, A Inimiga da Rainha de Mirna Wabi-Sabi e Rafael e o Porão Zine de Paula Holanda. Além do arquivo pessoal de fanzines de Daniel Infoguerra com inúmeros zines de todo Brasil, um acervo importante através do qual há fontes de pesquisa riquíssimas sobre o underground brasileiro dos anos noventa até nossos dias.
Em torno dessas publicações girou o bate papo sobre Publicações Independentes onde foram compartilhadas reflexões e experiências acerca do tema. A conversa rolou em torno das falas de Mirna Wabi-Sabi, de Rafael, de Gigito e da minha, Carlim, representando o Oganpazan. Foi uma conversa bastante produtiva, dificuldades acerca das publicações independentes foram expostas e maneiras de lidar e vencer essas dificuldades foram colocadas, apontando caminhos possíveis que levem ao fortalecimento desse tipo de produção.
Daniel Infoguerra abriu as apresentações musicais com seus versos certeiros, carregados de imagens combativas, problematizadoras, focados na libertação das mentes das amarras opressoras. Somos convidados a fazer parte dessa luta, motivados a abrir mão das jaulas confortáveis que nos prendem pela efêmera sensação de realização proporcionada pelo consumo e da máxima moralista “O trabalho dignifica o homem”, que nos mantêm felizes por estarmos acorrentados.
O rapper Gorinez empunha o microfone para despejar o flow das músicas do seu Ep Guerrilha – Parte 1, lançado em novembro, além das já conhecidas faixas dos singles lançados anteriormente. Gorinez é um batalhador, o que fica perceptível nos temas abordados na sua música. Mostram a necessidade de estarmos ligados em tudo que nos cerca para saber ler os sinais e assim entender qual melhor posicionamento ter. A superação é uma marca e mostra a força de quem não faz da vitória o fim, mas este é a própria luta. Precisamos estar sempre em prontidão, sempre dispostos a lutar, pois quem nasceu do lado de cá da luta de classes não se pode dar ao luxo de cruzar os braços.
Identidade Lírica aborda principalmente temas que orbitam as relações interpessoais. A apresentação deu um suavizada na pegada dos dois MC´s anteriores. Os beats cadenciados ampararam bem os versos de forte lirismo, criando uma atmosfera intimista.
Após a apresentação de Identidade Lírica, DJ Sica foi para trás de sua mesa e esquentou o início da noite com um set cheio de groove e swing.
Nesse tempo Sandrini Santos iniciou sua intervenção pintando sob uma das paredes do EscoBar. Suas pinturas abordam o erotismo através de um estilo que preza a simplicidade e cores intensas. Ao final da matéria vocês podem ver alguns registros das telas da Sandrini expostas durante o Conexão Subterrânea.
Quando Scamma empunhou o microfone a noite começava a avançar e seus versos agitaram a galera presente, envenenados por beats de levada agitada.
Bob Portela fechou a noite. Infelizmente não encontramos registros da apresentação de Bob, por isso colocamos um de seus clipes oficiais para vocês ficarem cientes da pegada forte do rapaz!
Outras edições do Conexão Subterrânea vão rolar e movimentar a cena underground baiana. Essa parceria com a rapaziada do EscoBar viabiliza um espaço onde artistas interessados em mostrar seu trabalho, sem que haja concessões a serem feitas para que isso ocorra, junto com os demais habitantes dos subterrâneos baianos continuem traçando novos planos em meio a muito som, imagens e cores diversas e boas trocas de ideias.
Abaixo algumas telas de Sandrini Santos conforme prometido mais acima