O criativo compositor também não deixou de prestar tributo aos mestres e tratou de apresentar alguns standards que moldaram tudo que sua musicalidade alcançou hoje. Mostrando que as influências seguem batendo na porta, apesar de ter criado algo com sua própria assinatura no contra cheque da jam.
Foi uma apresentação intimista, completamente livre e espontânea, assim como seu novo disco. Trilha sonora que preparou a estrutura da casa para o Mescalines Duo subir ao palco e mostrar com quantas jams se pratica um crime de excesso de volume.
Jack Rubens & Mariô Onofre possuem uma química absurda no palco. Até a relação da dupla com o público é interessante. Jack fica de costas, parece que ele troca informações por telepátia com seu comparsa, reverendo baterista que tratou de nos mostrar o lado baiano de Buddy Miles com seus fundamentos Jazzísticos, espírito cru made in Rock ‘N’ Roll e um peso nas viradas que nós achamos apenas nas melhores famílias.
O improviso impera no som dos caras, os riffs entram por baixo da catraca sem pagar passagem mesmo e foda-se, ninguém liga. Funciona muito bem e a fluência do som foi tanta, que não seria exagero dizer que os caras fizeram o show em praticamente dois takes. Foi denso, mas libertador e teve de tudo, rolou até delírios de Karl Marx com as ideias kamikazes de ”Não Roube, Se Aproprie”, claro.
No intervalo deste show, após o recolhimento de uma taça de vinho quebrada por Jack (acredito eu, que por excesso de vontade), a próxima atração marcada era o Bombay Groovy. Coletivo que além da exploração sonora sem limites, teve que segurar o groove mais um pouco em virtude de problemas técnicos envolvendo o playmobil da bateria, coisas de vida já diria André Arcângelo.
Mas foi aí que o momento mais especial da noite teve início. Exatamente quando a grade teve que ficar suspensa, o mesmo André tomou a liberdade de contar ”causos” sobre o saudoso Danniel. A platéia deu risada, os amigos do mestre das notas graves se identificaram e, a partir daí, mais pessoas subiram ao palco para se expressar, arte que Danniel também foi soberbo.
No fim das contas esse foi o melhor atraso de show que já tive o privilégio de presenciar. Jimmy Pappon foi elementar quando salientou a força das linhas do criador do Riff swingado de ”Tala Motown”, a energia do baixista estava lá: o mais importante para esse man era valorizar o encontro, e neste dia a reunião foi sublime.
Logo após o concerto do lego da Estrela, o show pode retormar o fluxo e apresentar um Bombay Groovy inspirado, fluente e classudamente pesado. Passando pelas linhas de muito bom gosto no Hammond, açucaradas elevações na batera e lindos insights no sitar e na guitarra do quase francês Rodrigo Bourganos. Cidadão que estava particularmente inspirado nessa noite e que além de esquentar o amplificador com a Bombay, fez cosplay de Jimmy Page com o lindo cover de ”Going To Califórnia”, entoado de forma grandiosa por Murilo Sá.
Foi mais um grande show, outro momento que coloca a prova todo meu vocabulário de sinônimos e que além de explorar os caminhos das ”Auroras”, apresentou um tema inédito, criado especialmente para as festividades. Falo sobre ”Chacal”, apelido do sagaz Danniel e que, em meio a todo o dinamismo instrumental do trio, mostrou uma banda visceral quando preciso e que apesar do alto padrão técnico, não perde o feeling e consegue transmitir mais sentimento do que muito grupo com vocal por aí.
Mas isso não foi tudo. Ainda tivemos a chance de encerrar a noite no habitat natural de Murilo Sá & seus comparsas do Grande Elenco, que ao som do excelente ”Sentido Centro”, embalaram um track list que assim como ouvimos em disco, é um best off em potecial. Seja com a chapação chromakeyniana de ”Eis Que Eu Tento Me Entreter” ou ao som da bilíngue ”Está Tudo Bem (It’s Ok)”.
Rapaz, foi massa! Teve Erico Jônis fazendo o groove para a Bombay, Bourganos improvisando com o Grande Elenco, Mariô entrando em cena com seu conterrâneo, Jack Rubens dichavando riffs (dessa vez sem quebrar taças, fazendo uso de um genial copo de plástico). Pastoriz com Murilo & Mescalines, Murilo mais uma vez só que mandando ver no baixo com a Bombay…
Acho que não teve um que não entrou no improv rapaz, foi uma homenagem a tudo que importa desde Johan Cruyff até Aleister Crowley, paralelos que jamais poderiam ser traçados sem o elo Danniel Costa.
Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma criança, a fidalguia deste evento foi maior do que um coquetel com a presença do Duque de Kent. E a festa não poderia ser encerrada com outro som que não fosse Stones, grupo pelo qual o homenageado sempre nutriu grande admiração e que ao som de ”Dead Flowers”, reuniu praticamente todos os nomes citados no palco.
Foi um grande momento, purificou alma & ouvidos. Agradeço a todos os presentes e ao reverendo Paulo Baba pelas imagens que ilustraram esse dia de feixes psicodélicos. Exuberante foi pouco!