Separamos cinco clipes do Rap Nacional que o Youtube nos recomendou de uma só vez, lançamentos excelentes e diversos!
Aqui ninguém pagou um real, é tudo free. Menos a energia daqui de casa, o café e os cigarros que degusto enquanto escrevo, o serviço de internet e a hospedagem do site, de resto é tudo de graça. Como sempre o Rap Nacional segue com lançamentos em profusão de norte a sul do pais e buscamos conhecer e entender, além de curtir, é claro.
Mas na real, o que estamos aqui tentando pensar é também o que significa ouvir música, ou melhor, de que forma as pessoas a consomem. Existe uma grande quantidade de singles, uma mídia pulverizada e “amadora” de um lado, e alguns “profissionais” que só veiculam lixo. O engraçado é que as pessoas curtem muito mais conteúdos rasos e a imprensa marrom (Salve Hebreu), do que os portais que buscam fazer um trabalho de qualidade.
Possuímos um público muitas vezes preguiçoso que elege o melhor do ano, depois da primeira audição de um disco que acaba de ser lançado antes do mês seis. Que amam as tretas, que adoram replicar bobagens, mas não acessam e não compartilham matérias de qualidade. Isso certamente dificulta a possibilidade de uma visão mais ampla do cenário e de construir uma cena mais inclusiva, diversa e auto sustentável.
De nossa parte, a busca sempre foi e é por tentar ir aos poucos traçando uma visão de conjunto, mesmo que sempre por se completar, mas de conjunto. Por isso agora convidamos vocês para conhecerem alguns excelentes trabalhos. Começando com:
– Sergio Estranho
Ver o Sergio Estranho mandando num trap com esse swag aqui é pra glorificar de pé. Esse mano vem apresentando uma série de trampos fantásticos sempre numa pegada estética muito própria e sempre under. Não adianta, mentes inventivas vão sempre destravar portas e limitações que pra outros mortais parecem impossíveis. O artista lançou um EP muito bom recentemente: Tudo Isso É Um Sonho (2019).
Membro do Rancho Mont Gomer, pioneiros do Trap Country no Brasil, com rappers cowboys do condado de São Paulo, o artista chega com um audiovisual que possui assinatura típica da JODO, autorialidade e inventividade no máximo. O beat é dele, pois ele mesmo sela seus próprios cavalos. Segue o fluxo.
– Dalsin
Está um bom exemplo de um artista do rap nacional que eu preciso prestar mais atenção, mas como dissemos acima, são centenas de lançamentos por mês e temos que trabalhar pra trabalar aqui. O Dalsin é já um artista reconhecidamente talentoso e de algum modo firmado no cenário nacional.
Em “Cactos” ele apresenta em termos de poesia ritmada, um equivalente do vegetal que nomeia a faixa. Em cima do beat finesse total e peso do caralho, cortesia do Tibery, o mc desfia espinhosamente uma série de punchlines “pesadíssimas”. Resgatando os riscos do DJ e com uma utilização de samples muito bacanas, a faixa é daquelas pra ouvir no repeat. Vem com um clipe bonito e simples, fruto da direção do Daniel Garcia Filho com uma fotografia que mistura uma inteligente e bonita palheta de cores no trampo do Bruno Passos.
– Edgar
Limpem bem os ouvidos e prestem atenção, Edgar é um daqueles artistas que ao entrarem em contato com seus tímpanos, despertará em você uma estranheza que lhe levará a buscar mais. Isso claro, se você não estiver embotado e fechado a novas sonoridades e novas propostas. Pois é exatamente isso que o artista faz, nos convida a uma nova experiência que não encontra paralelos hoje.
Como vocês estão percebendo, estou aqui seguindo as recomendações do youtube. O nome de Edgar tinha me chegado através do Fernando Gomes que votou nele como um dos melhores do ano para o El Cabong. Baixei e não ouvi, começarei esse exercício agora.
O clipe de “Felizes Eram Os Golfinhos“, música retirada do disco Ultrassom (2018), é minha porta de entrada para a obra desse artista. Na faixa em questão que recebeu um clipe idealizado por Enivo e o Edgar, com a direção artística de Renan Soares, há muitas colagens, colagens nas imagens visuais e colagens de imagens poéticas e frases assertivas que trabalham códigos muito diversos. Mas que ao embaralhar performativamente esses códigos e imagens, produzem sentidos diversos. A composição de Pupillo e Edgar deu um nó aqui nas orelhas, precisamos pensar mais sobre.
– Beli Remour & Makalister
De dentro do underground, no mais ‘radical” sul do Brasil, Beli Remour e Makalister tem seguido na missão de explorar outras possibilidades musicais e audiovisuais. Aqui uma conjunção de experimentações entre as linguagens, a poesia, o cinema, o canto e o canto falado, o ritmo e o sample, colagens e cortes. A superfície da carne e as estantes cheias de livros, a natureza e a urbes. Um trabalho desafiador.
Makalister começou o ano a todo vapor, com os discos Extravagance Parfums (2019) e depois Extravangância e Perfume Mixtape (2019), dois trabalhos instigantes como tem sido a construção de sua obra. Beli Remour é um daqueles artistas do qual não se ouve falar, mas que segue produzindo trampos completamente fora da curva. O Minimalismo é Rosa (2018), foi um projeto que não recebeu a devida atenção. A reunião desses dois artistas não poderia produzir um resultado diferente, música e audiovisual do mais alto nível, quem tem ouvidos que veja, quem tem olhos que escute!
– NSC part. Mano Fler e X4nd0m
Poucas favelas foram tão bem representadas no rap nacional como o Reginaldo em Maceió, com tanta qualidade e verdade. O trabalho do NSC é um monumento do rap nacional que segue sendo silenciado, mesmo com toda a força que a poesia de Alex apresenta. Muito por ser um nordestino, muito por conta da ignorância dos que dizem curtir o gangsta rap de verdade e não olham além. Mais verdadeiro que o NSC não existe, você pode até gostar mais de outros, mas isso aqui é de verdade.
Com “Poesia Criminal”, o paranaense Mano Fler soma numa faixa pesadona, com a participação do X4nd0m, num beat do Mortão. A faixa vai destilando aquelas velhas armadilhas que cercam os nossos em nossas favelas, e ao mesmo tempo chama atenção para o caos em que vivemos em meio a guerra de facção e abusos policiais. O clipe flagra os mano em meio ao Reginaldo. e tem a direção de Ronaldo Moises, QUINZE e Felipe Zucon. Assistam e compartilhem!
– Clipes do Rap Nacional: 5 recomendações imperdíveis
Por Danilo Cruz