A MC mineira Clara Lima soltou a primeira parte do seu EP Só Sei Falar De Amor repetindo a parceria com o Go Dassisti!
Artistas firmam o seu nome de modos distintos durante a sua trajetória e a caminhada da mineira Clara Lima tem buscado assentar o seu nome dentro da cultura nacional com trabalhos que merecem atenção.
Clarinha, como é carinhosamente chamada, tem uma caminhada que nos remete às batalhas de rima e a DV Tribo, coletivo que a apresentou ao país. Aí já se vão muitos anos, de uma jovem artista que de lá pra cá tem de modo solo buscado construir seu próprio nome. Porém, ao contrário dos seus antigos parceiros de grupo, Clara Lima não é um nome facilmente identificável quando se trata de apontar um estilo, apesar de ser uma artista ampla conhecida.
Longe de ser uma artista genérica, Clara Lima é amplamente reconhecida como uma MC talentosa, no entanto, em sua carreira solo, ainda não emplacou um sucesso que a faça ser associada a um determinado estilo e, consequentemente, a uma marca. Com Selfie (2019) seu primeiro e bom disco, a MC mineira mesclou diversas sonoridades e temas, num álbum de estreia em parceria com o beatmaker Go Dassisti que oscilava excelentes momentos com músicas que transitavam no mediano. Não havia ali nenhum momento de catarse, nenhuma grande música que pudesse fazer o público associar o nome Clara Lima a um estilo próprio.
Percebam, como dissemos acima, artistas buscam cunhar uma marca em seu público e na cultura em que estão inseridos de modo a se tornarem indeléveis, para o bem ou para o mal. E nesse sentido, nos parece que a Clara Lima ainda não conseguiu tal feito, se localizando assim como uma artista que apesar da grande qualidade técnica, ainda não entregou um trabalho marcante. Pensemos juntos: isso não é necessariamente um demérito, haja vista que ela só entrega bons trabalhos, haja vista sua pouca idade e o fato de que possui uma longa caminhada pela frente.
Esse novo EP concorre para se tornar uma pedra firme em sua carreira pois as 5 músicas que compõem “Só Sei Falar de Amor (2021)” estão muito bem amarradas em um conceito único, coeso e a entrega que Clarinha nos proporciona é empolgante. Ora, Selfie (2019) possui números grandiosos em si pensando o cenário do rap nacional, mas não é isso que nos preocupa, números mentem, ou muitas vezes fazem passar uma ideia que não corresponde à realidade. Novamente, não é demérito algum ter poucos números e tê-los grandes não faz ninguém está assentado numa carreira bem sucedida artisticamente falando.
Os beats do Go Dassisti que assina a produção deste trabalho, neste lado A do EP da Clara Lima, encontram uma MC solta, sincera e, sobretudo, centrada. Hoje, mais do que nunca, é dificil construir um EP ou um álbum falando sobre amor, principalmente dentro do rap nacional e sendo uma mulher lésbica. No entanto, Clara Lima consegue nos convencer a avançar no disco e a cada audição pescar novas nuances e belezas daquilo que nos traz, cantando, rimando sobre o amor e sobre sua independência. É um primeiro lado de um EP que nos transmite leveza e seriedade. O trabalho de mixagem e masterização ficou a cargo do Charret, que produziu um trabalho excelente.
Aqui em Salvador temos uma expressão que é bem curiosa: “fulana está Toda Toda” e curiosamente o sentido dessa expressão está amplamente presente na autoconfiança e na certeza da MC que canta essa faixa com uma entrega deliciosa. O EP já abre pra cima, em um momento onde as queixas, o ressentimento, a vontade de comunicar o nojo das relações mal resolvidas muitas vezes nos toma. O beat do Go Dassisti contribui muito para o clima da faixa, encontrando uma Clarinha segura demais, variando o flow, cantando, e com linhas muito firmes.
Na música que dá o título do projeto, temos um grande momento, De nossa parte aqui, fechamos os olhos e cantamos a mesma coisa: Amor, “Só Sei Falar de Amor”, é bonito, é convincente e sobretudo explora com muita qualidade esse lado da Clarinha. São cinco músicas e três participações, duas delas de nomes grandiosos do R&B nacional, porém é nessa faixa que nos fica evidente que a cantora está plena. Aqui sentimos a força do sorriso da foto que compõem o material gráfico do projeto e sobretudo nos confirma essa escolha estética da artista.
O disco encerra-se com um feat com o Luccas Carlos, e apesar da excelente participação do carioca, é a Clara Lima quem brilha com uma voz muito bem colocada e ganhando no conjunto. Esse lado A do EP “Só Sei Falar de Amor” faz um movimento interessante dentro da carreira de Clarinha que é centrar a MC e cantora dentro de um espectro. criando assim uma cara, uma marca, e mostrando que a artista não é uma colcha de retalhos de possibilidades,
Seus singles, caminhando por diversas possibilidades, muitas vezes mais confundem do que fixam um estilo. Como já reiteramos, ninguém em sã consciência duvida da imensa capacidade técnica e da caneta da Clara Lima, o caso que nos chama atenção, é a ausência de um direcionamento estético na carreira. E em “Só sei Falar de Amor” temos talvez o primeiro conjunto de canções fechadas em um bloco impactante pela determinação, leveza e escolha, assim como pela qualidade da escrita e do flow, pelas direções musical e visual, além do cantar.
Longe de nós querermos limitar uma artista, porém é necessário localizar melhor o trabalho para que o público saiba não o que esperar, mas que possa compreender a proposta para além de hits. A direção musical ficou a cargo de Don Cesão e a parte visual tem a direção da Beatriz Galvão , eu colaboram e muito para o aspecto coeso de todo o material!
Clara Lima consegue nesse EP apresentar um trabalho muito coeso , explorando todas as suas qualidades como rimadora e cantora, e focar um conceito atravessando todos os pouco mais de 15 minutos que dura o EP “Só sei Falar de Amor”! Escutem…
-Clara Lima lança o lado A de “Só Sei Falar de Amor”
Por Danilo Cruz