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CD's, Chris Squire

Chris Squire – Fish Out Of Water

Existem certos discos que ao serem escutados chegam a desanimar o ouvinte. Não me entendam mal por esta pequena frase introdutória, mas existem certos trabalhos que desencorajam o cidadão a pegar a guitarra de volta (ou seja lá qual for o instrumento de sua preferência), pois o ouvinte logo percebe que dificilmente conseguirá tocar atingindo tal grau de qualidade, e por que não dizer perfeição.
Na ala da virtuose existem muitos discos que deixariam você leitor (e guitarrista de final de semana), completamente envergonhado. Só que tais trabalhos não são de todo mal, são belas experiências, porém deixam claro que você tem duas opções se quiser ser um músico de calibre celestial:

1 – Nascer com um dom.
2 – Praticar até seus dedos entrarem em gangrena.

Este que vos escreve não nasceu com um dom, aliás nunca nem tentei tocar um instrumento, mas acho que até cheguei a declarar por aqui algumas vezes que se tocasse algum, provavelmente escolheria o baixo, o porta voz do verdadeiro Groove, aliás falando nele…
O senhor da foto acima chama-se Chris Squire. Este cidadão foi o meu primeiro baixista favorito, um dos meus grandes nortes e padrões para escolher outros mestres nas quatro cordas. Como a grande maioria das pessoas que conhecem o britânico, conheci seu Rickenbacker durante minhas fritações ao som do Yes, um dos grandes pilares do Prog.
Me lembro que gostei logo de cara do timbre que Chris exalava de seu instrumento. Era algo bastante melódico e que me chamou muita atenção, tanto que me lembro claramente que ao apertar play, tentei ”seguir” o som do baixo, que em meio a toda aquela dose de viagem e virtuosismo, conseguia se sobressair de maneira brilhante, sempre com belos riffs e linhas bastante inventivas.
O tempo passou e fui conhecendo outros nomes do instrumento. Com o passar dos ponteiros conheci baixistas de Jazz, Funk, Hard… São vários nomes, todos exímios músicos, mas ainda assim tenho uma afeição especial por Squire, e olha que não sou muito chegado em baixistas que usam palheta, aliás esse gênio foi um dos melhores com uma dessas entre os dedos!

Por isso hoje é dia de falar sobre um disco que poucos conhecem, um dos trabalhos solo da trinca do Sr. Rickenbacker, o excelente ”Fish Out Of Water”, clássico LP lançado em 1975, um dos grande discos que o senhor escutará na vida!

Line Up:
Chris Squire (baixo/vocal/guitarra)
Andrew Jackman (violão/piano)
Bill Bruford (bateria)
Patrick Moraz (sintetizadores/órgão)
Jimmy Hastings (flauta)
Mel Collins (saxofone)
Barry Rose (órgão)
Nikki Squire (vocal)

Track List:
”Hold Out Your Hand”
”You By My Side”
”Silently Falling”
”Lucky Seven”
”Safe (Canon Song)”

Esse disco é bem desconhecido, mas de fato não sei o motivo, pois na época do lançamento foi muito bem recebido pela crítica, inclusive com relativo sucesso nas paradas britânicas, atingindo o vigésimo quinto posto.

Talvez o fato que tenha dificultado a divulgação, tanto na época de lançamento quanto recentemente, seja o fato de que achar essa bolacha é bem complicado. Na época a tiragem era bem limitada (mesmo tendo saído pela Atlantic), e hoje em dia pra arrumar um exemplar, ou você compra dos nossos amigos japoneses pagando uma fábula ou baixa pela internet, já que essa maravilha está fora de catálogo desde 2007.

Em relação à sonoridade do disco em si, é importantíssimo ressaltar que não é nada muito inventivo, mas não no sentido que seja um disco comum, não, longe disso! Disso isso para destacar que aqui temos um resultado bem parecido com que já era praticado dentro Yes. E esse fato mostra que o conceito da banda e toda a essência do som tinha grande influência de seu grave, timbre que aqui é bastante destacado, junto  com sua bela e afinada voz.

Abra o disco com ”Hold Out Your Hand” e siga os passos do baixo do mestre. Note a qualidade do instrumental, veja a excelência do Prog, menos de cinco minutos de Jam e você já está levantando voo! Seja confortado pelos detalhes milimétricos de ”You By My Side”, tema que se desenvolve enquanto Chris entra para aveludar os vocais.
Não se engane pelo pouco número de faixas, são mais de quarenta minutos de negociação, temos takes bem longos como a excelente (e minha preferida) ”Silently Falling” e sua flauta viajante ao extremo. Momentos de puro brilhantismo como a contribuição chave de Patrick Moraz (tecladista no épico ”Relayer) em ”Lucky Seven” e sua bela base ao tempero Jazz.

E para fechar o disco, nada melhor do que uma suite, algo que Chris sempre tratou de arquitetar para as obras de estúdio de seu grupo. Só que não é só pelo tamanho que ”Safe (Canon Song)” é um dos pontos altos do disco, a qualidade instrumental é soberba e a ficha técnica com 8 músicos envolvidos mostra requintes de orquestra.

É uma pena que o mundo siga omitindo registros tão ricos e belos como este, faça uma boa viagem meu amigo, eis aqui um Rock Progressivo de primeiríssima qualidade. Mais do que uma aula de baixo com palheta ou sem palheta, ”Fish Out Of Water” é uma aula de música e toda sua beleza, sutileza, complexidade e sentimento, vieram de um músico que viveu para tocar baixo. É inspirador.

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