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Chet Faker, Sacadura 154, Shows

Chet Faker – Sacadura 154: Data Estelar 19/03/2015

Música é um termo do bruto que possuímos quando temos o encontro de vários intrumentos em plena fusão de um brainstorming de notas. Cada veia sonora é uma camada desse folhado sampleado, que cobertura após cobertura, sempre encontra um elo no forno da jam e se torna uma coisa só.
É raro tomar contato com sons que desafiam esse paradigma construtivista, mas quando encontramos algo assim, sempre conseguimos expandir nossa percepção para novas vertentes, e esse é o maior presente que o Chet Faker pode dar para alguém, além é claro de um show absolutamente fantástico, sediado no Rio de Janeiro e plenamente inspirado nas paisagens paradisíacas que o som do australiano tanto invoca e acaricia, com um sex appeal que só ele possui.
Agregando Jazz, Blues, Soul, Hip-Hop e mostrando como é necessário uma bela bagagem para poder construir algo com tantas variações sazonais, a mente deste cidadão é um convite irrecusável aos brilhos de cada estação do ano, só que com uma condução meteorologista.
A música eletrônica é o charme do som, o segredo é ter um combo que toque praticamente tudo que ouvimos em seus EP’s e no full Lengh ”Built On Glass”, sabendo que toda essa energia de efeitos e instrumentalização Cool Jazz, precisa equalizar mentes para uma mesma frequência dentro de um show, esvaziando o que você (espectador), trouxe para o recinto e usando do refil de sua própria criação, para executar uma fotossíntese de live session… Não é apenas música.

A energia do show é muito densa, a música flui de uma forma que parece que cada tema se trata de um mantra, um disco em particular, uma atmosfera em sub camadas. Isso e claro, o elemento mais importante dentro do som de Faker: A ambientação única que cada música apresenta, mas que mesmo se juntando com temas diferentes, conseguem se unir no mesmo clima… Um tremendo paradoxo.
Em cada acorde, beat ou repeat os ouvintes notam o esmero, os pequenos detalhes… É um som completamente diferenciado no ramo, e que quando pede embarque na estação da sua mente, trata de levá-la para vários lugares. Só que diferentemente de muitos sons, o senhor Faker não isola sua cabeça, ele gosta da alquimia de levar para outro plano e trazer de volta, quase um efeito Dopler com flashbacks e um clima tão descolado que além de aumentar seu nível de respect no GTA, ainda faz com que o show se muna de uma fluência tão eloquente como uma rajada de vento no calor de 78 Farenheits cariocas de Drummond, na vista do Arpoador.
Houve uma procura absurda por ingressos quando estes acabaram, diversas reclamações sobre a escolha do recinto e outras tantas pela divulgação, mas o fato é um só: O evento foi bem divulgado, e se você não acredita basta recordar que a parceira do QUEREMOS! é a Heineken. E outra coisa que ninguém levou em consideração foi que o show do Chet Faker não é um evento para estádio ou algo similar, é a mesma coisa que colocar o Portishead no Rock In Rio, não rola. Primeiro que a própria banda iria recusar e segundo que a energia do som, o fator que ambos os artístas citados mais prezam, se descaracterizaria completamente.

Por isso o Sacadura foi escolhido, e depois do ocorrido creio que não existiria lugar melhor. Clima intimista, qualidade de som fantástica, suporte de luz excelente e um tal de Chet Faker fritando eternamente (com banda), e as vezes pedindo a palavra para atos solo de grande sensibilidade, e que resultaram em cerca de duas horas de sinergia suficiente para montar uma agência de energia eólica… A coisa funciona sozinha.
Esqueça o disco. Na realidade o show é bastante fiel ao CD de estúdio, a voz é no mesmo tom, a bateria não erra um nanossegundo e a guitarra é ainda mais chapante. O problema é que ao vivo rola improvisação e ai é que tudo se desconfigura. É nesse momento que dividimos os homens dos meninos. Quem foi no show sabe que é igual ao disco mas que é outro nível, quem não foi simplesmente não poderar decifrar esse código morse do Trip-Hop.
Ao vivo ocorre um crackeamento da sua mente, você sente uma coisa completamente pessoal e absolutamente instransferível. No todo o show foi fabuloso, mas para cada pessoa ele significa uma coisa única e singular nos detalhes, algo que até o próprio criador deste universo deixa claro quando canta: ”You Gotta Feel It On Your Own”. 

E rapaz, isso arrebenta todo e qualquer argumento. Fazer uma resenha desse show serial algo ridículo da parte de quaquer resenhista, ainda mais se o bendito escriba o fizesse de forma definitiva. Não posso sintetizar um ponto e falar que a visão é absoluta, não com este show, tampouco com esse grande músico.
Falar que foi excelente é um pleonasmo, foi um grau acima disso, mas as energias são escolhidas por você, creio que cada um de nós se resguardou para apreciar este ato sozinho também, tamanha a energia que foi necessária para tal sinestesia… Esse show vai ser um enigma durante algum tempo, uma ideia que será pensada e relembrada sempre com novos detalhes. Foi de falto algo bastante singular, mas a parte transcendental fica com a platéia, cada um possuirá seu próprio releato sobre o ocorrido e isso não se coloca em palavras, é quase uma transcrição de DNA.

Uma fita pura e dupla de material genético Chill Out, o Ying Yang sonoro, o nascer e o por do sol ao mesmo tempo… Um medley de puro requinte e toneladas de sentimento em prol do clássico ”estilo econômico”. Esse cara não se esforça pra cantar ou para tocar, ele é diferente também por isso. O reverendo Chet Faker senhoras e senhores, se esforça para sentir, e isso vale o ingresso, uma viagem para o Rio e o que mais estiver incluso.

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