Neste exato momento está chovendo aqui em casa, aquela chuva chata que no fim das contas não deixa ninguém seco, mas que também não molha nada. Não me pergunte o por quê, mas neste clima nunca consigo escrever de maneira confortável… É um cenário muito vago e mesmo que (aparentemente), isso não pareça interferir na música, atrapalha muito no aspecto sensorial. A atmosfera fica mais nebulosa, você fica mais quieto naturalmente e assim sendo, sempre acabo colocando meus fones e escutando Jazz.
O texto simplesmente não sai, as vezes tento insistir, mas parece que não estou sendo honesto. Tenho uma lista de posts que gostaria de dar forma, mas nessas condições a coisa simplesmente não flui e, em dias onde este clima gélido e introspectivo atinge meu ser, não me resta nada a não ser observar as gotas caindo da janela do meu quarto enquanto escuto um Chet Baker, mais precisamente a beleza de ”Let’s Get Lost”, clássico lançado em 1959, um disco que nos prova que só o Jazz faz alguém ver beleza em coisas tão simples!
Line Up:
Chet Baker (vocal/trompete)
Niccola Dtlio (guitarra/flauta)
John Leftwich (baixo)
Ralph Penland (bateria/percussão)
Frank Strazzeri (piano)
Nicola Stilo (guitarra/flauta)
Track List:
”Moon & Sand”
”Imagination”
”You’re My Thrill”
”For Heaven’s Sake”
”Ev’ry Time We Say Goodbye”
”I Don’t Stand A Ghost Of A Chance With You”
”Daydream”
”Zingaro”
”Blame It On My Youth”
”My One And Only Love”
”Everything Happens To Me”
”Almost Blue”
A música de Chet foi um retrato de sua vida, triste. O trompetista teve tudo: prestígio, dinheiro, todas as mulheres que poderia, beleza e talento. Lendo isso nem parece que seu fim foi tão trágico e, a culpa é (mais uma vez), do álcool e das drogas, mais especificamente da Heroína, companheira do americano durante boa parte de sua vida.
Conheci o timbre de seu trompete logo depois de escutar a mística de Miles Davis e, mesmo Chet não sendo tão virtuoso (ou até mesmo visionário como o mestre do Fusion), acho que poucos realmente percebem seu talento, sendo este um dos nomes mais injustiçados e subestimados do Jazz. Um ser dotado de uma voz leve, calma, aveludada, e um trompete delicado, econômico, que mesmo não sendo nada assombrosamente técnico, era sentimento puro.
Dizem que para alguém passar sentimento por meio de uma música o cidadão precisa ter passado por poucas e boas em sua vida. Se tem alguém que teve problemas, esse alguém foi Baker. Foram inúmeras prisões, crises financeiras, delírios em abstinência e, ao escutar alguma peça do músico, isso fica claro.
A tristeza, o feeling… Cada nota era valorizada por Chet, ele não desperdiçava nada e em sua vasta discografia ”Let’s Get Lost” é um dos grandes marcos para perceber tal fato. Sua voz doce faz o tempo passar devagar, nada reverbera despercebido, nem mesmo as gotas em minha janela…
Aperte play e não tenha pressa, sente-se numa posição confortável ou deite com a cabeça encostada no travesseiro. Assista ao tempo passar com os olhos fechados, respire tranquilo enquanto o trompetista inunda seus ouvidos com uma das vozes mais açucaradas do Jazz. Sinta ”Moon & Sand”. Repare na beleza e nas linhas econômicas de ”Imagination”, a melancolia explícita em ”You’re My Thrill”.
É algo triste, mas que (estranhamente) não deixa o ouvinte cabisbaixo nem nada do gênero, é tudo tão sincero que você incorpora as verdades que saem tanto da voz quanto de seu trompete. É tão bom que você dá aquele sorriso malandro, relaxa ainda mais e segue aproveitando cada segundo.
Admire as partituras poéticas de ”For Heaven’s Sake”, o transe duradouro de ”Ev’ry Time We Say Goodbye” e ”I Don’t Stand A Ghost Of A Chance With You”. A plenitude de ”Daydream”. É algo realmente absoluto, um dos melhores discos de Jazz que já ouvi e se você não conhece nada do gênero e quer começar a se aventurar por aqui, creio que este metal seja a porta de entrada perfeita.
Parece que tem algo de místico no som deste mito, parece irresistível. E escutando temas como ”Zingaro”, ”Blame It On My Youth”, e ”My One And Only Love”, parece ser o suficiente. Pra que escutar outra coisa? Conheço pessoas que após conhecerem este som nem foram além e não foi por falta de opções, muito pelo contrário!
Escute ”Everything Happens To Me” e ”Almost Blue” que entenderás o motivo. Esse som é universal, simplesmente se molda a qualquer coisa de uma tal maneira que não é preciso ter um vasto conhecimento sobre Jazz, ou até mesmo de música de maneira geral. Só Chet e seu trompete, isso me basta.