Chaves e Chapolin são séries que fizeram a cabeça de inúmeras gerações ao redor do mundo. Contudo, não fossem dois britânicos, algo ficaria faltando.
Chaves e Chapolin, fenômenos da cultura pop
Uma das poucas memórias da minha infância que ainda se mantém vivas em minha mente é a de quando assisti Chaves pela primeira vez. Foi nos anos finais da década de 80, estava próximo aos meus primeiros dez anos de vida. Provavelmente eu já assistia Chaves muito antes, pois o programa estreou no Brasil em 1984 no SBT.
Chegou a ser uma das atrações do programa do Bozo antes de ter um horário só seu. O que durou até recentemente quando o contrato, que parecia vitalício, que entre a emissora de Silvio Santos com a Televisa, que garantia à emissora brasileira os direitos de transmissão dos seriados, terminou.
Isso marcou gerações. Passei minha infância e adolescência assistindo Chaves almoçando. Chegava da escola, fazia meu prato e ia pra frente da TV assistir pela milionésima vez o episódio de Chaves que estivesse passando. Chaves e Chapolin se caracterizaram por continuarem a ser engraçados quanto mais você assistia seus episódios. Isso ocorreu com muitas outras séries, mas Chaves e Chapolin são as que identifico sua ocorrência pela primeira vez.
Ambos os programas são parte da cultura pop da internet atualmente. Isso porque a série ficou no ar 36 anos ininterruptos no SBT aqui no Brasil. Chaves e Chapolin ficaram quase 4 décadas ininterruptas na TV aberta, o que ajudou a construir a popularidade de ambas as séries entre os espectadores brasileiros.
Outro pontoe importante com relação a estas séries está no fato de que boa parte dos adultos que cresceram assistindo as séries permanecem as assistindo ainda hoje nos diversos dedicados à preservar o legado de Roberto Gomez Bolaños. Hoje é possível assistir os episódios tanto de Chaves quanto de Chapolin no YouTube.
As trilhas de fundo de Chaves e Chapolin
Essa contextualização acerca da importância de Chaves e Chapolin para gerações brasileiras nos últimos 40 anos pode parecer desnecessária. Contudo, a intenção é acionar gatilhos em sua memória que trouxessem à tona cenas marcantes para cada um de vocês leitores. Certamente muitas vieram, e junto delas os sons que compõem seu pano de fundo.
Claro todos vão lembrar de um efeito sonoro característicos, as risadas. São risadas que só existem naquelas versões específicas de Chaves e Chapolin que passavam no SBT. Os episódios que são transmitidos no Multishow não as tem, e isso me levou a não conseguir assistir a série neste canal.
Os dubladores não eram os mesmos, tampouco as risadas, isso mostra o impacto que o som tem nesse tipo de obra. Bom, voltando às memórias trazidas a tona. Certamente elas vieram também com as músicas de fundo que tanto caracterizaram diferentes momentos dos episódios.
Quando rolava algum momento triste, algo comovente essa era faixa que ouvíamos e que despertava os sentimentos de piedade e comoção em quem assistia:
Quando começava um episódio uma das músicas que sempre dava o tom inicial era esta:
E esse groove sempre era acionado quando Seu Madruga estava fazendo algum de seus bicos no pátio da Vila e uma das crianças chegavam pra tirar o sossego do cara:
Os compositores da trilha sonora de Chaves
John Charles Fiddy
As músicas que fazem o pano de fundo sonoro de muitos dos episódios de Chaves e Chapolin foram compostas por uma dupla de músicos britânicos. Ambos especializados em músicas para trilha sonora, jingles, que atuaram tanto na indústria cinematográfica quanto televisiva.
O primeiro deles é John Charles Fiddy, nascido em Londres em 1944, especializou-se em composição e arranjo. Graduou-se em música pela Stationer´s Company´s School and Nottinghan University. Antes de se dedicar às composições de trilhas de filmes e séries televisivas, atuou como guitarrista e baixista em álbuns de artistas consagrados como Olivia Newton-John, Alvin Stardust, Petula Clark, David Essex, The Wombles e Uriah Heep.
Com o tempo desenvolveu seu método e estilo a partir da experiência profissional adquirida, especializando-se na composição de jingles comerciais e musicas de fundo para TV. Ele se destacou principalmente como arranjador e compositor do chamado Background Music, conhecida pela sigla BGM, que pode ser traduzido como trilha de fundo.
As mais conhecidas delas são certamente as BGM feitas para Chaves e Chapolin. Também ganou notoriedade como jingles de comerciais famosos e de músicas para filmes como Um Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco e O Diário da Princesa.
Tony Hymas
Na parceria das composições das trilhas de fundo de Chaves e Chapolin com o John Fiddy, temos o tecladista, pianista e compositor britânico Tony Hymas. Estudou piano na Royal Academy of Music e entre 1976 e 1978 tocou na banda de Jack Bruce.
Depois disso esteve ao lado de Jeff Beck durante 20 anos, gravando grandes álbuns com o icônico guitarrista.
Nos anos 2010 gravou 5 álbuns solo: Hope Street (Nato) de 2010, De L´origine du Monde também de 2010, I Will Not Take ‘But’ for an Answer, gravado com a banda ‘Ursus Minor’ em 2010, Chroniques des Resistance de 2013 e Tony Hymas Joue Léo Ferré (álbum com reduções de piano de canções de Léo Ferré) lançado em 2016.
Uma das características principais de Tony está na versatilidade como pianista e tecladista. Fundou a banda Ph.D.
O álbum ‘Bruton Music – Kids and Cartoons’
Em 1979 foi lançado o LP Kids and Cartoons pelo selo britânico Bruton Music, fundado em 1977 pelo londrino Robin Phillips. Originalmente foi nomeada como Bruton Street, para mais tarde ser renomeada como Bruton Music.
O setlist do álbum é composto por 31 faixas. Cada uma delas nos remete aos episódios de Chaves e à cenas que marcaram nossa infância e que no caso de algumas pessoas como eu, marcam toda a vida.
Segundo informações encontradas no site Monolito Nimbus, que vocês podem acessar clicando aqui, grande parte das músicas incidentais nos episódios exibidos no Brasil, foram adicionadas quando foi feita a dublagem em nosso país.
Dublagens feitas no estúdio MAGA, na verdade uma cooperativa de dubladores responsáveis por muitas dublagens icônicas nos anos 80, destacando-se as dublagens de Chaves e Chapolin. Era de propriedade do dublador Marcelo Gastaldi e funcionava na sede do SBT. A MAGA ao fechar se tornou a Marshmallow, que está na ativa ainda hoje.
Portanto, boa parte das músicas incidentais dos episódios do Chaves e Chapolin nas versões dubladas no Brasil tem poucas trilhas aproveitadas do áudio original mexicano. Isso quer dizer que o processo de dublagem nos estúdio MAGA levou ao acréscimo das músicas presentes nas coletâneas da Bruton Music. Em especial, na que destacamos aqui, a coletânea Kids And Cartoon lançada em 1979.
Abaixo vocês conferem o álbum completo. Infelizmente ele está disponível apenas no YouTube, mas dá pra ter essa experiência nostálgica completa.