Charlotte Matou um Cara estão ‘Atentas’ e ainda mais agressivas

‘Atentas’, segundo álbum da Charlotte Matou um Cara está ainda mais explosivo e agressivo que o primeiro. Levando-se em conta o contexto político e social no qual nos metemos, não esperávamos menos que isso. 

Charlotte Matou um Cara
Capa de ‘Atentas’, novo álbum da Charlotte Matou um Cara. Arte de capa por Amanda Miranda.

Quando ouvi a Charlotte Matou um Cara pela primeira vez, chamou atenção logo de cara a agressividade do vocal da Déa. Calma aê, deixa eu me corrigir, chamou atenção a intensidade da agressividade do vocal da Déa. Pensei comigo mesmo “Cara, será esse o limite da intensidade agressiva que uma voz pode chegar?” Essa dúvida surgiu porque eu ainda não tinha relacionado essa intensidade agressiva com aquilo que a causa.

“E o que causa essa agressividade alucinante?”, você deve estar se perguntando. A fúria diante de um mundo dominado por opressores, que fazem do gênero, da política, da economia, da raça, da ideologia instrumentos de domínio e exploração.

O vocal gritado, rasgado e furioso explode em palavras e ideias contra uma estrutura social que sufoca cada vez mais as pessoas pertencentes a categorias sociais minoritárias. O álbum de estreia, que leva o nome da banda, foi lançado em 2017, um ano após Michel Temer ser empossado presidente da república. Ação decorrente do golpe institucional dado na presidenta legítima, Dilma Roussef.

Durante o Governo Temer foram aprovadas inúmeras medidas no campo econômico que afetavam diretamente a vida da classe trabalhadora. Entre elas a PEC 55 que congelava o investimento em áreas essenciais, como educação e saúde por um período de 20 anos.

Outra herança maldita do Governo Temer foi a reforma trabalhista de 2017, que alterou 20 pontos da CLT, desprotegendo os trabalhadoras, tornando-os mais vulneráveis a seus empregadores. A flexibilização da terceirização através da Lei de Terceirização ajudou a precarizar ainda mais as condições de trabalho de atividades desempenhadas pela esmagadora maioria da população brasileira. Leia aqui.

Atrelado a este projeto acintoso de retirada de direitos da classe trabalhadora, tornando-a ainda mais vulnerável ao controle das grandes empresas e conglomerados comerciais, crescia a onda ultraconservadora que aos poucos ia dando forma ao fascismo à brasileira. Tal qual um pokémon sombrio, evoluiu para sua forma definitiva, o bolonarismo, ainda mais forte ao longo do Governo Bolsonaro.

Eis o combustível que inflama as almas das integrantes da Charlotte Matou um Cara, e da maioria de nós brasileiros, que transparece tão nitidamente em sua música. Em particular no altíssimo teor de agressividade nos gritos de Déa. Do álbum homônimo lançado em 2017 até o lançamento de Atentas, as coisas pioraram bastante no país. E pioraram ainda mais para mulheres, pessoas negras, periféricas, assalariadas, LGBTQIA+, quilombolas, para os povos originários, enfim, para todes que vivem numa sociedade na qual são vistes e tratades como párias.

As faixas refletem esse contexto político e social no qual vivemos, tanto nas letras quanto nas sonoridades que permeiam as composições. O negacionismo relacionado ao combate à pandemia (faixa 2 – Pandemia), os pedidos de intervenção militar e a apologia fascista ao Golpe de 1964, que implementou o regime militar brasileiro ao longo de 20 anos (Faixa 8 – 1964), o uso compulsivo das redes sociais e o uso das mesmas para canalização das frustrações e ódios dos usuários (faixa 03 – Angry People Click More) são alguns desses temas.

A Charlotte Matou Um Cara além de ser uma banda punk, também é uma banda feminista. Dessa forma, músicas que abordam temas ligados à violência contra as mulheres, através de letras críticas, que denunciam e convocam para a luta contra os vetores dessas diferentes modalidades de violência dão a tônica dos seus álbum. Em Atentas as músicas Você Quer Me Matar (faixa 01), Buceta Dentada (faixa 04), Todas Juntas (faixa 06) e Atentas – faixa 10 traçam o arco dessa temática.

Duas músicas receberam versões da banda. Poder Popular (faixa 09) da banda argentina Sudor Marika, cuja versão punk da Charlotte dá ainda mais pujança à mensagem presente na letra. A outra música que ganha versão da banda é o clássico do punk brasileiro Festa Punk dos Replicantes. Destaque para a letra que na versão da Charlotte nos apresenta o que seria uma festa punk com trilha sonora de bandas punk de mulheres.

                                                                                                  

                                                                                                                   Por Carlim

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Charlotte Matou Um Cara são:

Déa – vocal
Nina – guitarra
Dori – batera
Camis – baixo

 

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