Charles Bradley – Victim Of Love

Construir uma carreira no ramo musical leva tempo. Existem centenas de guitarristas, baixistas, bateristas, cantores e etc com mais de 40 anos por aí, que muitos de nós (incluindo você eu) nem sabemos que existe. Não existe uma idade certa, mas é importante que o indivíduo comece cedo por que assim como qualquer coisa na vida, o sucesso e o reconhecimento demoram a chegar.

Se bem que se idade for o parâmetro muitos dos senhores vão se impressionar com o homem do texto de hoje, acendam seus corpos com Charles Bradley e seu segundo disco de estúdio, o excelente ”Victim Of Love”, um dos melhores trabalhos que escutei nos últimos anos.

A história de Charles é de luta. Luta para conseguir realizar um sonho. Sonho este que pareceu tão distante em alguns momentos, mas que agora é real, verdadeiro, repleto de Soul, Funk, R&B… Um revival intenso dos anos de ouro da imponente Black Music americana.

O caminho que o cantor teve que percorrer não foi fácil, ao longo de seus 66 anos Bradley tentou a sorte na indústria do Groove milhares de vezes, mas nunca conseguiu ganhar a projeção necessária. O negrão que já fez bico de cozinheiro, cover do James Brown e que já teve que morar na rua mendig hoje sente o gosto do sucesso e do reconhecimento.

Ápice de sua vida que veio a duras penas, graças à Gabriel Roth que viu potencial e força no vozerio nostálgico do sentimental soul man e logo trouxe seu swing para a Daptone Records, pois o mundo ignorou a voz de Charles por tempo demais, ele precisa ser ouvido pelo maior número de pessoas possíveis.

E mesmo que o cantor não tenha muitos anos de carreira pela frente, com apenas 2 discos já marcou seu nome no toca discos aqui de casa, aperte play e sinta a áurea de Bradley, um sujeito que transpira emoção e humildade, uma voz que sabe como poucos o quanto a vida pode ser dura e fria como uma noite debaixo da ponte.

Track List:
”Strictly Reserved For You”
”You Put The Flame On It”
”Let Love Stand A Chance”
”Victim Of Love”
”Love Big Blues”
”Dusty Blue”
”Confusion”
”Where Do We Go From Here”
”Crying In The Chapel”
”Hurricane”
”Through The Storm”

Conheço o som do americano ha quase 3 anos e me lembro que quando escutei o disco podia jurar pelo que fosse que se tratava de uma pérola perdida da década de 60 ou 70, mas não, esse é o ”Efeito Bradley”. Desde de seu primeiro trabalho, o também excelente ”No Time For Dreaming” (lançado em 2011), é simplesmente impossível não apertar play no seu discurso de fêniz funkeado e não se lembrar de James Brown, Otis Redding… ”Strictly Reserved For You” arrasta o ouvinte para a Motown, sinta o balanço de ”You Put The Flame On It”, a vibração de ”Let Love Stand A Chance”, a paixão da faixa título ”Victim Of Love”…
Paixão, talvez seja esta a palavra para definir Charles. É tocante sentir a alegria com que essa voz arrepia seus ouvintes por onde quer que passe. É de arrepiar, é incrível também como um cara com um talento desses não foi descoberto antes, mas é lindo ver que agora sua voz corre contra o tempo para concertar este infortúnio!

Aprecie o swing classuto de ”Love Big Blues”, a levada genuinamente clássica de ”Dusty Blue”… O baixo a ponto de explodir em ”Confusion”… De fato, escutar esse Black Power é um deleite! O que dizer de ”Where Do We Go From Here”? Alguma ideia?! Depois de escutar o desabafo tocante de ”Through The Storm” não nos resta outra alternativa a não ser agradecer a este senhor por esta bela obra, muito obrigado Charles, por favor, envelheça no estilo Benjamim Button.

São dois CD’s fabulosos, ambos muito bem avaliados pela crítica e que em tempos de vacas magras na indústria fonográfica venderam muito bem. Ultimamente prefiro ouvir esse Soul à qualquer outra coisa pois são raros os artistas que mensuram a importância de passar o legado de sua arte para novos ouvidos como esse old geezer o faz.

É lindo ver seus shows começarem e chegarem ao fim com um Charles completamente esgotado… É um brilho no olhar que chega a ser digno de um quadro! É indescritível ver como estas histórias sonoras nos tocam, mas que também impactam o criador disso tudo, que sempre cantando com um sentimento que quase chega a doer, consegue cobrir todo o sofrimento de uma vida com uma felicidade revigorante de um slap.

A longevidade de sua carreira está comprometida e ele sabe disso, assim como seus fãs, mas o magnetismo de seus relatos surge justamente desse pouco tempo, cada letra, cada sílaba e cada lágrima importam, o tempo é só um detalhe. Lindíssimo.

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