Céu ao vivo no Bourbon Street: 15 anos de carreira, um show que brindou o público com repertório que foi reconstruíndo seus passos até aqui!
Ser um artista é entregar a si mesmo para a arte. É revelar-se nu e cru, toda noite sob um palco. É não esconder nada de seu público, escancarando suas crenças, suas aspirações sonoras e sua visão de mundo.
É um desafio enorme. Doar-se diariamente frente ao que você acredita, não apenas musicalmente, é muito desafiador. São muitas incertezas e dúvidas, mas a arte alimenta e ao optar por viver disso, o músico desafia a si mesmo.
É por isso que é importante celebrar a caminhada, por que está longe de ser fácil. E foi isso que a Céu fez quando subiu ao palco do Bourbon Street, na última sexta-feira, dia 26 de abril de 2019. Para celebrar 15 anos de carreira, a cantora fez um show intimista, ao lado de uma plateia devota e que cantou as músicas o tempo todo.
No setlist, um apanhado triunfal com temas que compreenderam esses 15 anos de rolê e 4 discos de estúdio. Tocando com um quarteto bem enxuto, a voz malandra em tom soprano da paulista veio acompanhada por bateria, teclados, baixo e guitarra.
Os presentes tiveram a oportunidade de acompanhar um bom espetáculo, enquanto Céu nos guiava por sua história e agradecia sempre que possível, ressaltando o longo caminho que teve que percorrer pra chegar até aqui. Foi muito nostálgico promover esse passeio em seu repertório – desde 2005 com seu debutante homônimo – passando por “Vagarosa” (2009), “Caravana Sereia Bloom” (2012) e “Tropix“, sua gravação de estúdio mais recente, lançada em 2016.
Conforme o show passava, Céu mostrava o quanto evoluiu desde que tudo começou pra ela, 15 anos atrás. O amadurecimento das letras é nítido e seu vasto leque de influências foi dissecado conforme os temas chegavam com elementos de R&B, Afrobeat, Samba, Jazz e Trip Hop.
Foi muito interessante ver como a sua música ganhou corpo. Não é só a questão de referência x repertório. É algo intrínseco ao compositor, traduz suas verdades e com a já conhecida eloquência de quem canta com uma naturalidade quase que banal, sem nenhum esforço aparente, o público do Bourbon teve uma oportunidade de entender um pouco mais sobre os amores pixelados da compositora.
Com um show de aproximadamente 90 minutos, o quinteto mostrou um entrosamento fino. O trabalho de teclas e das notas graves chamou bastante atenção. A banda estava azeitadíssima e a cantora estava se sentindo em casa ao reviver a sua própria história.
Foi singelo e o show cumpriu a difícil tarefa de condensar o trabalho de uma das cantoras mais inventivas e criativas que o Brasil revelou nos últimos anos. Com um coquetel sonoro que desafia até o processo de classificar a música que ela produz, Céu mostrou a leveza e a doçura de sempre, sentindo cada nota, seja ela mais eletrônica ou jamaicana.
Encurtando distâncias estéticas em prol da miscigenação do groove, mais do que comemorar sua caminhada, Céu mostrou a força da música autoral e mostra que mesmo depois de todo esse tempo, ela segue tão atual e relevante como há 15 anos atrás.
Um sopro de ar fresco para dizer o mínimo. Que venham mais 15 anos, dona Maria.
Por Guilherme Espir do Macrocefalia Musical
Fotos por Welder Rodrigues
Um dos excelentes discos da Céu: