Por Dentro Da Cena de Jazz UK – Top 5: Parte 2

Guilherme Espir – em sua incansável verve “bisbilhoteira” – compartilha novos achados da prolífera cena jazzística contemporânea no Reino Unido. 

Com o objetivo de descentralizar o consumo tradicional do Jazz no cenário contemporâneo, o Oganpazan sempre tenta trazer discos e artistas pouco óbvios na hora de falar sobre músicos que estão delineando novos embates criativos para o estilo.

Foi com esse objetivo que surgiu a série “Por dentro da cena Jazz de Uk”. Num formato de Top 5, essa linha de grooves dissertativos apareceu em função do grande volume de discos que o pessoal do Reino Unido está gravando. Não só a quantidade, mas a qualidade dos registros é tão alta e a pluralidade de sons tão rica, que em alguns momentos é até difícil acompanhar tudo que está acontecendo.

Mas o que poucas pessoas sabem é que esse movimento não apareceu ontem. Desde meados de 2016 que o cenário londrino está numa crescente, por isso a necessidade de mapear esses novos grupos/artistas, por que, acredite, você vai ouvir falar deles mais cedo ou mais tarde.

1) Tenderlonious – “The Shakedown”

Um dos maiores workaholics da cena, Tenderlonious é o pseudônimo criativo de Ed Cawthorne. DJ, produtor, beatmaker, saxofonista e flautista autodidata, o meliante ainda é dono do selo 22a e lidera a Ruby Hushton, seu chapante combo de Jazz-Funk que inclusive já conta com 4 discos de estúdio: “Two For Joy” (2015), “Trudi’s Songbook: Volume One” (2017), “Trudi’s Songbook: Volume Two” (2017) e “Iron Side” (2019).

Em carreira solo, o carequinha tem 2 trampos na praça em termos de sonoridade a abordagem é completamente diferente do Ruby Hushton. Com claras ligações africanas, ele montou uma bandaça (a 22 archestra) – que conta inclusive com o Yussef Dayes na bateria – e lançou o excelente “The Shakedown”.

 Com uma sonoridade que explora as possibilidades rítmicas da diáspora, Tenderlonious mostra uma percepção extremamente aguçada para fazer o preenchimento do groove. Além desse disco, ele lançou também “Hard Rain” (2019), mas dessa vez com uma sonoridade que aposta nos seus trampos de DJ, beatmaker, com um approach mais eletrônico, porém bastante interessante.

2) The Comet Is Coming – “Trust in the LifeForce of the Deep Mystery”

O The Comet Is Coming é sem dúvida alguma um dos projetos de Jazz mais chapantes que surgiram nos últimos anos. Liderado por um dos principais nomes radicados da cena de UK, o saxofonista e clarinetista de Barbados, Shabaka Hutchings, o grupo é apenas 1 dos 3 combos que o negrão lidera.

Os 3 projetos chefiados pelo meliante são “Shabaka And The Ancestor” (Spiritual Jazz), “Sons Of Kemet” (Jazz caribenho) e The Comet Is Coming (Fusion Psicodélico) e os 3 sons espantam pela criatividade e pela versatilidade de linguagem, mas dentre os 3 acredito que o The Comet Is Coming seja a jam mais peculiar.

Formado por Shabaka Hutchings, sob a alcunha de King Shabaka (saxofone) acompanhado de Maxwell Hallett, a.k.a. Danalogue (bateria) e Dan Leavers – sob a batura de Betamax – nos sintetizadores, o grupo cria um som que emula um apocalipse cósmico.

A banda foi formada à partir do Soccer96, grupo que Dan Leavers e Maxwell ainda mantém. A banda goza de certa notoriedade no cenário londrino desde meados de 2012 e, após acompanhar algumas apresentações do projeto, Shabaka fez um convinte para que a textura de Funks cibernéticos dos meliantes se transformasse na sessão rítmica do The Comet Is Coming.

O resultado é não só um dos melhores discos de 2019, mas também um trabalho extremamente original e que consegue colocar o Funk, a psicodelia, o Jazz e a música eletrônica sob um contexto completamente novo e sem ficar chupinhando o Sun Ra.

3) Eric Lau – “Examples Vol. 2”

Além de centenas de instrumentistas primorosos, essa nova geração de meliantes londrinos também conta com um grande poderio na ala de produção. Com nomes como Kamaal Williams, por exemplo, é bem comum encontrar músicos que além de produtores, também são beatmakers, como é o caso do já citado Tenderlonious.

Um exemplo disso é o Eric Lau, produtor e DJ dos mais requisitados na cena. Dono de colaborações ao lada de nomes como Oddisee e Georgia Anne Muldrow, o R&B funkeado do cidadão surge com umas vinhetas absolutamente cremosas, com propostas que viram o groove do avesso e chegam gordurosas, pra fazer você se remexer todo em menos de 30 segundos. 

A abordagem e os timbres são o mais puro veneno. É interessante observar o cuidado com as tracks e como cada segundo é valorizado. Se ligue no “Examples” (2017) e depois já plugue o volume 2, já que a açucarada sequência saiu em 2018.

4) Ezra Collective – “You Cant Steal My Joy”

Uma das bandas de Fusion mais requisitadas no cenário de festivais da europa, o Ezra Collective é formado por alguns dos nomes mais requisitados da cena. Lembra do último case da Uefa Champions League, que um baterista fazia a abertura da transmissão? Pois bem, o batera é o Femi Koleoso e o seu groove pode ser ouvido na sessão rítmica da saxofonista Nubya Garcia, na banda de apoio da Jorja Smith e no grupo da também saxofonista, Camilla George.

Nos teclados o grupo ainda conta com Joe Armon-Jones, tecladista de grande habilidade e que além de uma bela carreira solo, ainda toca com a Nubya Garcia ao lado de Femi. Pra fechar o quinteto, a banda ainda é formada por TJ Koleoso (baixo), James Mollison (saxofone) e Dylan Jones (trompete).

Com 2 EP’s sensacionais na praça – “Chapter 7” e “Juan Pablo: The Philosopher”- liberados em 2016 e 2017, respectivamente, o som do quinteto é um prato cheio para um subgênero do Jazz que começa a dar sinais de revisionismo, algo que nessa cozinha está longe de acontecer.

Com um repertório influenciado pelos ritmos da diáspora, o grupo funde ritmos caribenhos com um quê cubano, sempre embebido em muito Funk e ácidos embates. Sem excessos de virtuosismo ou muito barulho por nada, o som do combo é redondinho e ela vieram com um inspirado debutante em 2019 – lançado via Enter The Jungle em abril – intitulado “You Can’t Steal My Joy”.

Acredito, essa pérola está apenas esperando você apertar o play. Na hora que começar o Reggae, será amor à primeira brisa.

5) Ashley Henry – “Beautiful Vinyl Hunter”

Esse é pra você indicar para aquele seu amigo que acha que piano Jazz é só Robert Glasper. Um dos pianistas mais interessantes que apareceram nos últimos anos, Ashley Henry, apensar de jovem (28 anos de idade) é um dos artistas com repertório mais sólido na cena.

Com 2 EP’s na conta e um full lengh lançado em 2019 (“Beautiful Vinyl Hunter”), o swing do negrão vai do Rap ao Rock, transitando com notável liberdade entre estéticas diversas, com uma configuração em trio que deixa tudo ainda mais interessante, principalmente em termos de dinâmica.

Ai lado do baixista Daniel Casimir (Nubya Garcia) e do baterista Sam Gardner, o garotão registrou um disco riquíssimo e que dialogo com muitas linguagens, sempre com uma identidade muito bem estabelecida. Com participações de nomes como o baterista Moses Boyd e do trompetista Theon Croker, esse trampo vai deixar causar um impacto duradouro nos seus ouvidos.

Se possível, escute os discos na ordem. Começo pelo “Henry’s 5ive” (2016), depois plugue o “Easter” (2018) e feche a trinca com o “Beautiful Vinyl Hunter”. Observar como a sonoridade do cidadão está crescendo é um exercício grandioso.

-Por Dentro Da Cena de Jazz UK – Top 5: Parte 2

Por Guilherme Espir

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