Não é de se estranhar que o lançamento do disco tenha sido cercado de muita expectativa. E depois de toda essa longa espera, a obra chegou ao público dividindo opiniões. O álbum tem um ritmo arrastado, com músicas mais lentas que parecem expressar uma necessidade reflexiva do compositor em relação à sua própria vida. A proposta introspectiva é evidente em cada detalhe. Além disso, Cavalo confirma a veia cosmopolita de Amarante trazendo canções interpretadas em inglês, francês e em português.
Em comparação ao seu parceiro de Los Hermanos, Marcelo Camelo, que foi dirigindo sua carreira para águas mais calmas e hoje não parece mais capaz de fazer nada de relevante fora da sua zona de conforto, Rodrigo Amarante desde o início mostrou-se um compositor mais inquieto e disposto a passear por outras paisagens sonoras. Cavalo, no entanto, é um disco um tanto monocromático no que se refere aos seus ritmos e à roupagem econômica e cadenciada das suas composições.
Não há muitas oscilações. O disco mergulha inteiramente num sentimento melancólico e contemplativo que Amarante explora de maneiras variadas ao longo da obra, sem sair daquele clima meio nublado com esporádicos raios de sol iluminando um ou outro momento. As únicas músicas que fogem desse padrão (mas nem tanto) são Hourglass que lembra um pouco da energia do Little Joy e traz uma instrumentação mais voltada ao rock, com uma presença maior do baixo e da bateria, e Maná com clara inspiração de ritmos afro-brasileiros.
Mas mesmo nessas duas faixas existe a constância da métrica suave com que o músico costuma entoar suas letras e melodias, além do minimalismo nos arranjos e nas harmonias, que procuram explorar os silêncios e os espaços vazios. Amarante já disse em entrevistas que, entre outras coisas, Cavalo é sobre ausências. O que se comprova tanto no tema de algumas canções (a ausência de uma pessoa amada como em Maná e em Irene ou até em O Cometa, inspirada num amigo do músico que faleceu) quanto do ponto de vista da forma, enxugando o instrumental e entregando letras concisas.
Nada em Vão, a música que abre o disco, já expressa essa inclinação de evidenciar o vazio; o vão. “No espaço entre eu e você / No silêncio um grito” canta Amarante entre lacunas de silêncio logo na primeira estrofe. Essa sensação de alheamento vai permear todo o registro e talvez por isso a música que melhor represente o disco seja Mon Nom. O fato dela ser cantada em francês funciona bem enquanto metalinguagem na medida em que a letra traz à tona o sentimento de solidão ligado à figura do estrangeiro. O clipe recém lançado também captura com sucesso essa atmosfera em uma bela animação feita com colagens criadas pelo próprio músico.
Apesar dos seus bons e belos momentos (principalmente em sua primeira metade) o disco não decola. Ele insiste em perpetuar o mesmo tom monótono que depois de um tempo termina cansando. A música que dá título ao álbum é uma das que mais encarnam esse conceito, com um teclado soturno, um vocal quase sussurrado e frases em japonês que aparecem vez ou outra. O clima é tão etéreo que parece que pode ser dissipado com um simples sopro. E essa foi a sensação que ficou na minha cabeça depois de escutar o disco, de algo fugidio, que escapa entre os dedos e se arrisca em cair no esquecimento.