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“Carcará” primeiro single de Ravi Lobo, uma reflexão sobre tornar-se o que se é!

Ravi Lobo

“Carcará” com a produção do Edubeatz é o primeiro single lançado por Ravi Lobo preparando o lançamento de seu disco de estreia!

“No fundo do poço jogaram a corda, hoje sou eu que tô jogando a corda, fazendo os pivete se sentir bem” Mundo Moderno (Composição de Ravi Lobo – Rap Nova Era)

Qualquer cultura subversiva ou a arte em si mesma é sempre uma porta de entrada para outros mundos possíveis, para devires outros, para a tomada de consciência e a expansão da vida. Dito isso, o papo de que o Hip-Hop ou qualquer outra cultura negra periférica e de combate ao sistema colonial salva é uma meia verdade, um clichê desmentido cotidianamente. Dito de outro modo, eu tenho bastante medo de encontrar e gostar de uma arte que cura.

O lançamento de “Carcará” do MC baiano Ravi Lobo marca o começo de um movimento de expansão e de confirmação da pessoa e do artista, do pai, do esposo e do “líder comunitário da Linha 8” no bairro da Liberdade. É o primeiro single rumo ao seu primeiro disco solo de estreia “Shakespeare do Gueto II”, que vem para dar sequência ao premiado EP homônimo lançado em 2022.  

-Leia nossa resenha sobre o Rap Nova Era, clicando aqui

Como professor do ensino fundamental II, consigo imaginar perfeitamente o “Lil Ravi” nos tempos do Colégio Estadual Getúlio Vargas no Barbalho. Fecho os olhos e consigo imaginar ele ganhando fuga pulando o portão ao lado do Quartel. Posso por experiência, traçar um perfil imaginário, do estudante que manda o mundo e os adultos chatos e acriticamente apoiadores do modelo escolar repressor e vazio, se fuder. 

O fato é que Ravi Lobo puxou cadeia e foi lá dentro que através das cartas escritas por Moreno, seu parceiro por mais de 7 anos no Rap Nova Era, ele começou a ver um sol maior do que o quadrado da cela. Com o Rap Nova Era construindo uma carreira sólida no cenário do rap baiano e com passagens por vários estados brasileiros, Ravi Lobo fez nessa caminhada de mais de dez anos de estrada e com 3 discos lançados, o seu alicerce existencial.

As apresentações com microfones de brinquedo na Favela de Plástico abriu-lhe a possibilidade de ser cantor, de expressar suas inquietações, de lutar um combate justo e mais salutar contra as injustiças. Materializar sua poética e seu canto em discos, poder se apresentar, encontrar outros “guerreiros do terceiro mundo” lhe afastou do encarceramento ou da morte.

Em 2022, surpreendendo a muitos, ele lança um EP dentro da estética do drill, com participações de Baco Exu do Blues, Sky, Cronista do Morro, Diomedes Chinaski e o angolano Migas49. Nomeando-se como Shakespeare do Gueto, o EP foi lançado em vinil como compacto 7”. Dois dos clipes foram premiados pelo festival M.V.F (Music Video Festival Awards) por dois anos consecutivos. 

-Leia nossa resenha sobre o EP Shakespeare do Gueto, clicando aqui

Nesta trajetória que poderia endurecer o espírito, frustrar expectativas, torná-lo um adulto sério e sisudo, como prega os mandamentos de quem é rua e gangster, se faz curioso notar que em muitos aspectos Ravi Lobo é uma criança. Perceba, existe uma diferença, um abismo entre ser infantil e manter uma reserva de pureza e inocência que faz com que sejamos genuínos – salve “Bulbo”, o contrário do ingênuo. 

É fato público, que desde os tempos do Nova Era, Ravi capitaneava um evento anual de dia das crianças levando a cultura Hip-Hop para os guris da sua quebrada, entre rimas, grafites, breaking dance, pipoca, pula-pula e algodão doce. É fato público também, que atualmente Ravi é pai de dois: Dom (o mais novo) e Lis Lobo que participou do premiado videoclipe “Shakespeare do Gueto”, cantando e atuando como uma fadinha. Mas um estilo não se constroi do nada como campanha de marketing, ou como mera exploração da imagem de uma criança.  

Dentro de sua poética, Ravi traz as crianças, as suas e as da “Linha 8”, em núpcias artísticas, como aquilo que foi e que segue na sua música em um “intermezzo” com os pequenos prisioneiros das escolas chatas, das normas que teimam em buscar endurecê-las. Da mesma sorte, com as genuínas interações com a criança grande Jefinho aka zefinho, que sempre sempre pode ser visto nos seus stories.  

“Quando eu crescer quero voltar a ser criança”

Há um povoamento poético e estético presente na obra solo de Ravi que aprofunda a questão das crianças como futuro do povo preto. No videoclipe da faixa “Manda Buscar” feat com a Cronista do Morro, o clipe “gansgta” na lírica até a medula, tem como cenário matinal, uma piscina de plástico, vasos enormes de jujuba e a criança tomando banho no mangueirão junto com Ravi. 

De certo modo, desenvolvendo sua carreira solo dentro do drill como ritmo hegemônico de seus trabalhos, Ravi Lobo tem atualizado com muita qualidade um discurso muito presente no rap nacional dos anos 90, porém com outros conteúdos e formas. E não por acaso, foi o MC Sam a substituir a Cronista do Morro e encantar a todos presentes nos shows onde a MC não pôde participar. 

Desta forma, não é à toa que Ravi Lobo escolhe a música que abre o seu desde já histórico trabalho como disco solo, a ser lançado em janeiro, com o single da música “Carcará”. O disco que os ouvintes terão acesso em janeiro é histórico pelas participações, pela construção, pelo conteúdo e pela forma que apresentará, mas sobretudo por apresentar um artista pronto, maduro e de certo modo cantando não pelas crianças mas através da relação entre o ancestral e a infância, nesse genocídio que vivemos. 

O coro das crianças – e é importante aqui a noção de coro – em “Carcará” é nas palavras de Ravi Lobo: “O canto da vida, do esperançar que precisamos cultivar e oportunizar”. Ravi traz um marco importante para a cultura nordestina com a composição de João do Vale, imortalizada na voz de Maria Bethânia no show do teatro Opinião em 1965. E atualiza para o seu contexto, para o espaço existencial e de luta que ele vem construindo. 

Algo comum na pseudo crítica musical racista brasileira, inclusive entre os “bem intencionados” é acreditar que os MC’s são meros rimadores obtusos, o que não é o caso de Ravi Lobo, que trabalhou ao lado dos beatmakers para produzir o que precisava comunicar em termos musicais. Em “Carcará” uma produção do Edubeatz. liricamente ele cita Edson Gomes, referência presente no disco como um todo, em um drill pesadíssimo onde Ravi rima amor a família e ao mesmo tempo mostra-nos a crueldade do genocídio negro em marcha. 

E aqui fechamos o texto com o Coro: “Carcará pega mata, estraçalha e come” cantado pelas crianças é o contrário do coro trágico dos gregos. O Shakespeare do Gueto II se define por ser um Shakespeare viralata, sem pedigree colonial, apenas um a mais dos grandes rimadores de visão ampla, tipo da Gamboa para Ilha de Itaparica. E que nossas crianças cresçam como aves de rapina diante do racismo e de todas as violências que sofremos enquanto povo preto, sem espaço para vítimas! 

-“Carcará” primeiro single de Ravi Lobo, uma reflexão sobre tornar-se o que se é!

Por Danilo Cruz 

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