Capim Guiné, novo single da Baiana System contou com a parceria da cantora angolana Titica. Cinco dias após o lançamento do clipe, juntos, levaram seu público no Rock In Rio ao êxtase!
Não há dúvidas, o show mais aguardado desta edição do Rock In Rio foi o do Who. Pela primeira vez em terras brasileiras em 53 anos de existência, a banda não decepcionou e fez um show à altura da fama de ter uma das melhores performances ao vivo da história do rock.
Um dia antes, na sexta feira, 22 de setembro, os nordestinos da Baiana System subiram ao palco Sunset do Rock In Rio 2017 e fizeram um show para fazer Roger Daltrey e Peter Townshend aplaudirem de pé. A performance da banda irradiou altas ondas de energia, contagiando o público, levando as pessoas à catarse. Mergulhadas no transe do som que vinha do palco, cada pessoa deixou-se levar pelo som, que tendo o controle de mentes e corpos, determinou as interações e movimentos corporais de cada alma ali presente.
Russo Passapusso tratou de incendiar o público assim que botou os pés no palco, lançou a saudação: “Tá tudo certo aí” e emendando na sequencia o “Vamos derrubar essa casa hoje!” Os elementos eletrônicos fundidos aos riffs e solos da guitarra baiana de Roberto Barreto que dão forma à identidade sonora da banda baiana eletriza seus shows tornando-os acontecimentos permeados de multiplicidade culturais e sensoriais.
A música da Baiana System é uma arma carregada, pronta para lutar e derrubar golpistas. Foi assim no carnaval baiano deste ano e no Rock In Rio 2017 não foi diferente. Além do tradicional e sempre necessário FORA TEMER! houve o pedido da banda pela “Demarcação já!”. Solicitação urgente num momento em que os usurpadores colocam a Amazônia à venda. Em “Barra Avenida” a platéia sob os comandos de Russo Passapusso formou uma grande roda pra galera meter dança sem limites.
Contudo o momento marcante do show se deu através da presença da cantora angolana Titica, que entrou linda e radiante no palco ladeada por duas dançarinas portando a bandeira de Angola. Titica a convite dos baianos fechou a parceria no single e clipe de Capim Guiné, nova música da Baiana System e foi quando os primeiros acordes desta música foram dados que a cantora surgiu no palco. Em “Chão Chão” Titica cantou e requebrou ao som do kuduro, ritmo surgido nos guetos de Luanda, tendo como banda de apoio a própria Baiana System.
Cinco dias antes do show no Rock In Rio, a Baiana System havia lançado o clipe de Capim Guiné. Composta em parceria com Titica e Seko Bass, a música enlaça Angola e Brasil através de suas particularidades culturais semelhantes, em especial entre Salvador e Luanda.
Essa ligação se dá através da sacralidade do ritual mostrado durante o clipe. Embora o capim guiné seja uma planta usada em pastagens para alimentar o gado (que nos remete ao desmatamento de grandes áreas de floresta pra criação de pastos), também faz referência à erva guiné, planta usada em rituais da umbanda e do candomblé, representando a purificação do ambiente ou da pessoa iniciada. Temos assim a representação política e a representação cultural, ambas unidas na metáfora do capim guiné.
Não é segredo pra ninguém que a Baiana System possui uma posição política bastante clara e assume na esfera artística brasileira o protagonismo no combate e denúncia do governo ilegítimo instaurado no país e que levou o golpista Michel Temer à presidência da república.
Nesse sentido, é sintomático o lançamento de uma música pela Baiana System que busca, na presença de elementos da natureza na cultura e religiosidade brasileiras, a contextualização de problemas enfrentados pelo povo brasileiro. Isso porque o lançamento ocorreu quase um mês após o presidente ilegítimo e golpista assinar um decreto extinguindo uma reserva florestal na Amazônia com cerca de 46 mil metros quadrados para que mineradoras possam explorar a região. O pedido de “Demarcação Já!” proferido por Passapusso no show do Rock In Rio tem sua motivação aí.
A figura do caboclo na umbada tem na mata sua representação simbólica e a letra de Capim Guiné traz a presença da entidade através da dança e das imagens ritualísticas. No trecho
8 caboclo dançando com a boca espumando com a boca espumando de amor
Oito caboclo dançando com a boca espumando com a boca espumando de ódio
Passapusso canta a presentificação do caboclo através da incorporação, trazido à nossa dimensão a fim de purificar o ambiente, que diga-se de passagem, a presença de oito caboclos talvez não seja suficiente pra conseguir limpar todas as impurezas que, em pouco mais de um ano do GG (Governo Golpista), foram lançadas por todo território brasileiro. Quando nossas reservas naturais estão em risco nada mal convocar os caboclos através da “erva sobrenatural” para trazer a proteção necessária.
Se oito caboclos ainda é um número pequeno vamos fazer como no refrão e lotar o local:
“Não tava na conta, né
Erva de capim guiné
Vários caboclo lotando o local
E o cheiro da erva sobrenatural
É o que eu sinto”
A performance do dançarino Elivan Conceição seduz, toma o espectador graças a beleza dos movimentos, muito bem coreografados, personificam o caboclo nos convencendo de ser aquela a manifestação dessa entidade. A força imagética ganha contornos mais fortes na composição do figurino para a personagem de Elivan. Estamos destacando o dançarino pela centralidade que possui no vídeo, contudo vale pra toda produção de cenografia e direção que deram uma beleza visual magnífica ao vídeo.
O excelente trabalho feito nos videoclipes da Baiana System fazem com que todos corram para o youtoube assim que são lançados. A riqueza iconográfica, aliada à criatividade na composição das cenas, bem como a ligação feita entre som e imagem dão uma harmonia aos vídeos destacando seus detalhes sem que percebamos, o que atrai o expectador. Além disso existe sempre as ligações entre som e imagem, nos desafiando a interpretar aquilo que temos diante dos olhos e ouvidos.
Importante a parte cantada pela Titica que vem costurar os laços entre Brasil e Angola, países irmãos tendo em comum elementos culturais, ancestrais, históricos, que sofrem de problemas sociais semelhantes. Ambos colonizados, escravizados, explorados e ainda dominados por descendentes de nossos colonizadores devemos reconhecer essas semelhanças, unir forças para lutar.
Perdido por um, perdido por mil
É assim em Angola, é assim no Brasil
Podemos ser dois, o cobertor ser um
Se somos unidos ninguém passa frio
A metáfora presente nos versos cantados pela angolana mostra o valor da camaradagem entre aqueles que se veem como irmão, dispostos a compartilhar, abrir mão do privilégio a fim de conceder a ambas as partes o direito a uma existência livre de exploração.
Façamos coro entoando as músicas da Baiana System, o som que nos une para celebrar mas também para lutar. Como cantou Titica “Multiplicados somos mais fortes/ Não precisamos depender da sorte”.
FICHA TÉCNICA (VÍDEO)
Realização Maquina de Louco
Direção Cartaxo e Bezerra
Produção Executiva Renata Brasil
Assistente de Direção Jardel Souza Roteiro Cartaxo e Bezerra
Figurino Renata Berenstein
Assistente de Figurino Marina Baqueiro e Mariana Barbosa
Elenco Russo Passapusso Titica
Participação especial Margareth Menezes
Dançarino Elivan Conceição
Grupo Aldeia – Coletivo Cênico
Grupo Levante
Mayale Pitanga Rebouças Diana Fonseca Pinto Felipe Valente Lasserre Silva Mariana Damasio Pinto Silva Luiz Ailton Andrade Santos Filho Marijane de Jesus Rodrigues Bruno Torres de Arruda Heverton Dias Cunha Didoné
Produção de Cenografia Claudio/Fred Alvin Iluminação Jardel Souza/Fred Alvin
Cenotécnico: Bruno Peixoto/Fred Alvin
Assistente de Cenotécnico –Zé
Técnico de Luz – Eliedson Rosa
Locação Casa Preta
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EQUIPE ANGOLA
Direcção/Acting Coach: Karina Barbosa
Câmera Wilsoldiers
Iluminação Gerson Branco
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Agradecimentos João Paulo Rangel dos Reis, Luã Jeferson Soares de Menezes, Kainara Miranda Soares, Rodrigo de Araújo Albuquerque Maia, Felipe Magalhães de Campos, Marina Fonseca; Casa Preta, Grupo Aldeia
Produtor Fonográfico : BaianaSystem | Dudu Marote
Produção : Dudu Marote / Arranjo de Base : SekoBass
Artista :
BaianaSystem feat. Titica participação Margareth Menezes
Voz – Russo PassaPusso / Titica / Margareth Menezes
Bass, Synths , programação – SekoBass
Guitarra Baiana – Roberto Barreto
Guitarras – Junix
Percussão – JapaSystem
Edição – Mahal Pita
Programação, edição e mixagem – Dudu Marote
Versão Adubada – Buguinha Dub