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Canned Heat & Clarence Brown em Montreux: boogie na suiça

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Disco ao vivo do Canned Heat com participação de Clarence “Gatemouth” Brown, Live In Montreux 1973 é um tesouro do Blues.

O Canned Heat é uma das bandas que melhor compreendem o Blues. Um dos atos mais cavernosas da história do Boogie, e em seu auge, um núcleo que só tinha os maiores entendedores da arte dos campos de algodão.
O Heat era tão foda que todo mundo que levava a escola do som de B.B. King à sério, tocou ou queria muito dividir o palco com Bob Hite & cia. Aliás, Hite não era apenas um gigante barbudo com uma traqueia avantajada e muito feeling na gaita, não, Bob, ”The Bear” – como era conhecido – também foi um dos maiores colecionadores de compactos de Blues de todos os tempos.

Bob “The Bear” Hite

Com uma coleção de discos de Blues que começou a se formar ainda quando Robert Ernest Hite tinha apenas 5 anos de idade, em 1948, o músico que trocava brinquedos por LP’s cresceu e, junto dele, além de uma bela barriga, deu-se também a criação de um acervo que definitivamente fez frente à sua considerável circunferência abdominal.

Só para se ter uma ideia, por volta de 1980 – cerca de um ano antes de sua morte – sua coleção contava com inacreditáveis 78 MIL discos de 45 e 75 rotações. O problema foi que naquela época, infelizmente, o vocalista precisou vender algumas pérolas para quitar dívidas.

Infelizmente Bob nos deixou e o fez de maneira esdrúxula. Vítima de um dos casos de overdose mais estúpidos de todos os tempos, a história nos diz o seguinte: um fã do Canned Heat ofereceu um frasco para Hite durante um dos intervalos de um show em Hollywood.

O grandão, pensando que era cocaína, deu uma bela enxugada no conteúdo, mas ai quando falaram que era heroína o estrago já estava feito. O cidadão ficou azul e entrou em coma. Para piorar, tentaram reanimá-lo com uma dose industrial de cocaína, mas não deu certo e os roadies do grupo acabaram levando o vocalista para a casa do baterista Fito De La Parra, onde o californiano faleceu, no dia 05 de abril de 1981.

Depois de sua morte, a coleção de compactos sofreu bastante. Grande parte foi vendida por sua família, outra parte foi roubada, até mesmo dizimada e o pouco que sobrou, está sob a batuta de seu ex companheiro, Fito De La Parra.

Aliás, vale lembrar que a coleção de Hite foi tão grande, que esta serviu de base para que duas importantíssimas compilações saíssem. Através do selo belga Sub Rosa, ”Rarities From The Bob Hite Vault” e ”Bear Traces: Nuggets From Bob’s Bard” (”Bob Hite Vaults Volume 2″), vieram ao mundo e brindaram dezenas de historiadores com faixas que nunca tinham visto a luz do dia!

Canned Heat & John Lee Hooker

Só que mais do que um ávido conhecedor do estilo, Bob ajudou muitos dos maiores mestres do Blues dentro dos meandros cruéis do Business no Boogie. A banda gravou dois LP’s com John Lee Hooker, falo sobre ”Hooker ‘n Heat” de 71 e ”Hooker ‘n Heat: Live At The Fox Venice Theatre”, lançado em 1981.

Discos que ajudaram John a entrar nas paradas de sucesso pela primeira vez, ”favor” que foi retribuído em 1989, ano em que o Bluesman voltou à ativa com ”The Healer”, um disco recheado de participações, sendo uma delas do próprio Heat.

Sunnyland Smith e o boogie

Mas não foi só John Lee Hooker que teve a sorte de encontrar esses caras. Em 1968, Alan Wilson, Bob Hite e Fito De La Parra pegaram um taxi e perceberam algo estranho. O motorista do veículo era nada mais nada menos que Sunnyland Slim, um dos maiores pianistas da história do Blues.

Na hora em que todos perceberam que no lugar de manipular as teclas, Sunny estava gastando seus dedos na fricção de um volante, todos trataram de convencer o americano do Delta do Mississippi a voltar aos estúdios por uma subsidiária do próprio selo da banda na época, a Liberty Records.

E o resultado de toda essas desventuras, além de concretizar o retorno de um filho pródigo ao piano com um excelente registro, ‘‘Slim’s Got His Thing Goin’ On”. Lp lançado em 1968 e que conta com Mick Taylor nas guitarras, esse projeto ainda rendeu uma bela parceria para o Heat com ”Turpine Moan”, tema que conta com as notas quentes de Sunny, recheando o ”Boogie With Canned Heat”, segundo disco da banda, também datado de 1968.

 

Memphis Slim e Canned Heat

Acha que acabou? Como você é ingênuo pequeno gafanhoto! Sabe quem é esse senhor no primeiro plano da capa do décimo primeiro registro da banda? Muito bem trajado por sinal, o cidadão de blazer é Memphis Slim, outro grande pilar do piano Blueseiro.

Memphis foi outro mestre esquecido que cruzou o caminho do Heat. O ano foi 1970 e o CEP foi a lindíssima Paris, terra que recebeu uma das sessões de estúdio mais pesadas de todos os tempos. É bem verdade que demorou para sair, mas quatro anos depois, em 1974, essas sessões se tornaram o exuberante ”Memphis Heat” e com ele, Memphis Slim ganhou novo fôlego para seguir na batalha.

Albert Collins: o mestre da Telecaster

Mas ainda tem mais. Em 1968 Albert Collins estava tocando num clube qualquer e deu sorte de ter o Canned Heat no meio do público. A banda não só cantou a pedra para o guitarrista, apontando que o caminho para o seu Blues era Los Angeles, como também tratou de apresentá-lo para os executivos da United Artists, além de descolar um empresário decente para o texano.

Não sei o que seria da carreira de Collins sem essa ajudinha do Canned, mas o que posso afirmar é que depois que seu segundo disco (o primeiro via United Artists), saiu, ”Love Can Be Found Anywhere” (trecho extraído de um tema do Canned Heat, ”Fried Hockey Boogie”), o play não só o recolou na indústria, como também deu toda a visibilidade que o debutante do mestre, o pontual ”The Cool Sounds Of Albert Collins”, não conseguiu.

Então antes de falar mal sobre esses caras, por favor, veja que o trabalho deles possui uma importância histórica gigantesca. Ao cruzar e ajudar nomes como os dos citados acima, a banda conseguiu se aproximar de seus ídolos e com toda a certeza aprendeu muito com todos eles. E já que estamos no clima das colaborações, deixei a melhor delas para o final.

Line Up:
Bob ”The Bear” Hite (vocal/gaita/baixo)
Ed Beyer (teclado/piano)
Henry Vestine (guitarra)
Fito De La Parra (bateria)
Richard Hite (baixo/vocal)
James Shane (guitarra/vocal)
Clarence ”Gatemouth” Brown (guitarra/gaita/violino/vocal)

Track List:
”On The Road Again”
”Please Mr. Nixon”
”Worried Life Blues”
”About My Oo Poo Pa Doo”
”Funky”
”Night Time Is The Right Time”
”Let’s Work Together”
”Rock And Roll Music”
”Lookin’ For My Rainbow”
”Shake ‘N Boogie”

 

Clarecence “Gatemouth” Brown on the road again

Na mesma época da colaboração do Canned Heat com Memphis Slim, Clarence Brown também gravou com a banda, mas a sinergia foi tanta que além de um disco de estúdio para registrar essa colaboração (”Gate’s On The Heat” de 74), Clarence voltou a tocar com a banda, só que dessa vez foi ao vivo no Montreux Jazz Festival, no line up da programação de 1973. O show foi tão bom que virou até DVD.

E que registro! Com o Boogie de uma das maiores bandas de Blues brancas em todos os tempos vivendo um de seus picos criativos, a participação de Clarence foi o termômetro para que ouvidos não iniciados conseguissem pulsar perante o conhecimento quase enciclopédico de Bob Hite e cia.

Na realidade o Sr. Gatemouth só participa de 4 temas, mas de ”Please Mr. Nixon” até o groove ácido de ”Funky”, o reverendo gasta seu talento com muita classe, feeling e bom humor. A perícia no violino é um deleite, os solos na guitarra absolutamente inventivos e seus lamentos na gaita são tão contundentes que ele nem precisaria ter um vozeirão para chamar a responsa no gogó, mas ele tinha!

Além de resgatar um dos nomes mais subestimados da música negra, o Canned Heat fez um showzaço antes e depois que Brown deixou o palco. Com uma banda azeitada, duas guitarras, piano e um baixo encorpado, dá até gosto de ver o que essa nata de branquelos fez pelo Blues.

Mais do que ter paixão pelo slide, esse núcleo de mestres mostra que o sentimento é a base de tudo, e que até para sentir, é necessário conhecer a história desse gênero. A plateia cumpriu seu papel de ficar perplexa por cerca de 80 minutos e o Blues, bom, ele segue dando um rolê por aí até hoje.

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