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O saxofone celestial da Camilla George

Camilla george

Uma das maiores musicistas da cena eupeia contemporânea, Camilla George exalta suas raízes por meio de seu miscigenado Jazz.

Nascida na Nigéria, mas radicada na Inglaterra, a saxofonista Camila George não é só uma das mulheres que estão na linha de frente da cena Jazz em UK, como também é uma das maiores musicistas de sua geração, ao lado de nomes como Nubya Garcia, Shabaka Hutchings, Zara McFarlene e muitos outros.
Camilla, apesar da pouca idade – um dos traços que caracterizam essa vívida nova cena – possui uma experiência respeitável no groove. Graduada na famosíssima Trinity College of Music, com um mestrado focado nas curvas do Jazz, a moça, além de sua carreira solo, ainda colabora com a Nu Civilisation Orchestra e o queridinho da crítica inglesa, o Jazz Jamaica.
Camila George e o seu sax alto.
Camilla George começou a tocar sax aos 11 anos de idade. Desde 2014 que ela lidera seu próprio quarteto e é via Ubuntu Music que ela lança suas preciosidades. A primeira delas saiu em 2017 ao lado do Camilla George Quartet com o elogiadíssimo “Isang” e sua excelente banda de apoio, que incluiu o baterista Femi Koleoso (Nubya Garcia/Jorja Smith/Ezra Collective), o baixista Daniel Casimir (Ashley Henry), a pianista Sarah Tandy, além da participação especial de Zara McFarlene na voz.
Um ano depois, já em 2018, Camilla voltou para o estúdio e o resultado foi “The People Could Fly“, lançado em setembro de 2018. Um disco poderoso e que mais do que retratar a sofrida história de seu povo, engrandece o DNA negro e toda a sua história de luta e resistência. É notável como apesar da longa distância cronológica, esse disco ainda assim parece conectar todo o contexto social dos grooves conscientes dos anos 70… o Curtis Mayfield estaria orgulhoso.

Line Up:
Camilla George (saxofone)
Sarah Tandy (piano)
Quentin Collins (trompete)
Winston Clifford (bateria)
Daniel Casimir (baixo)
Femi Koleoso (bateria)
Cherise Adams-Burnett (vocal)
Omar Lye-Fook (vocal)

Track List:
“Tappin The Land Turtle”
“He Lion, Bruh Bear, Bruh Rabbit”
“How Nohemiah Got Free”
“Little Eight John”
“The People Could Fly”
“Carrying The Runnings Away”
“The Most Useful Slave”
“Here but i’m Gone”

Quando criança, a mãe de Camilla tinha o costume de ler algumas histórias do livro “The People Could Fly” para sua filhota. Um livro de contos com claras referências ao período da escravidão no continente africano, essas histórias fizeram Camilla ir muito além de seus sonhos com a cabeça no travesseiro.

Demonstrando grande sensibilidade e um sentimento que é de fato palpável, faixa após faixa, a instrumentista entrega seu melhor disco até o momento. Com uma produção cristalina e grandes músicos no apoio da Jam, talvez o maior trunfo desse trabalho seja justamente a consciência social que o motivou.

Quando Cherise Adams-Burnett abre o disco com “Tapping The Land Turtle”, fica claro com essa cozinha é diferente da que eternizou seu primeiro disco. Apesar de manter alguns nomes que figuraram no outro trabalho, a sonoridade desse disco é mais moderna e flerta não só com o Jazz, mas com o Hip-Hop e alguns elementos da música Africana, mas num contexto que beira os Spirituals da IMPULSE.

Um disco instrumental em sua essência, “The People Could Fly” não é só uma aula de bom gosto. O timbre do sax de George em “He Lion, Bruh Bear, Bruh Rabbit” é lindíssimo. Seu domínio frente ao instrumento é notável e tema após tema ela parece libertar muito mais do que apenas escravos, ela alforria espíritos livres.

Em “How Nohemian Got Free” o trabalho da sessão rítmica Femi-Daniel sustenta um groove de alto quilate. Tight shit, como diriam os americanos. Na hora do play fica claro como a improvisação é um pilar primordial não só na carreira da saxofonista, mas para esse trabalho em específico. Até o vocal parece sofrer impacto desse formato mais livre. Em “Little Eight John”, a voz de Cherise Adams parece estar num tempo à parte do instrumental. Mas tudo está bastante bem amarrado e aqui não tem ponto sem nó.

O som das correntes, a leveza e o cuidado na cirúrgica abordagem dos músicos, mesmo que inspirado num assunto denso como esse… A faixa título hipnotiza o ouvinte como um canto celestial. Os pianos de Sarah Tandy quebram os tempos do groove em “Carrying The Runnings Away” e quando você achou que o disco não poderia lhe surpreender mais, Camilla surge absoluta, esbanjando seus dotes melódicos com “The Most Useful Slave”.

Mas é com a última faixa que a casa cai. “Here but i’m Gone” é um cover de Curtis Mayfield com participação de Omar Lye-Fook na voz. Tema presente no disco “New World Order”, lançado em 1996, esse cover mostra como a luta por uma nova ordem mundial ainda é realidade, mas se depender da Camilla George, bom, aí o gueto vai dominar o mundo.

Ubuntu

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