Uma das maiores musicistas da cena eupeia contemporânea, Camilla George exalta suas raízes por meio de seu miscigenado Jazz.
Line Up:
Camilla George (saxofone)
Sarah Tandy (piano)
Quentin Collins (trompete)
Winston Clifford (bateria)
Daniel Casimir (baixo)
Femi Koleoso (bateria)
Cherise Adams-Burnett (vocal)
Omar Lye-Fook (vocal)
Track List:
“Tappin The Land Turtle”
“He Lion, Bruh Bear, Bruh Rabbit”
“How Nohemiah Got Free”
“Little Eight John”
“The People Could Fly”
“Carrying The Runnings Away”
“The Most Useful Slave”
“Here but i’m Gone”
Quando criança, a mãe de Camilla tinha o costume de ler algumas histórias do livro “The People Could Fly” para sua filhota. Um livro de contos com claras referências ao período da escravidão no continente africano, essas histórias fizeram Camilla ir muito além de seus sonhos com a cabeça no travesseiro.
Demonstrando grande sensibilidade e um sentimento que é de fato palpável, faixa após faixa, a instrumentista entrega seu melhor disco até o momento. Com uma produção cristalina e grandes músicos no apoio da Jam, talvez o maior trunfo desse trabalho seja justamente a consciência social que o motivou.
Quando Cherise Adams-Burnett abre o disco com “Tapping The Land Turtle”, fica claro com essa cozinha é diferente da que eternizou seu primeiro disco. Apesar de manter alguns nomes que figuraram no outro trabalho, a sonoridade desse disco é mais moderna e flerta não só com o Jazz, mas com o Hip-Hop e alguns elementos da música Africana, mas num contexto que beira os Spirituals da IMPULSE.
Um disco instrumental em sua essência, “The People Could Fly” não é só uma aula de bom gosto. O timbre do sax de George em “He Lion, Bruh Bear, Bruh Rabbit” é lindíssimo. Seu domínio frente ao instrumento é notável e tema após tema ela parece libertar muito mais do que apenas escravos, ela alforria espíritos livres.
Em “How Nohemian Got Free” o trabalho da sessão rítmica Femi-Daniel sustenta um groove de alto quilate. Tight shit, como diriam os americanos. Na hora do play fica claro como a improvisação é um pilar primordial não só na carreira da saxofonista, mas para esse trabalho em específico. Até o vocal parece sofrer impacto desse formato mais livre. Em “Little Eight John”, a voz de Cherise Adams parece estar num tempo à parte do instrumental. Mas tudo está bastante bem amarrado e aqui não tem ponto sem nó.
O som das correntes, a leveza e o cuidado na cirúrgica abordagem dos músicos, mesmo que inspirado num assunto denso como esse… A faixa título hipnotiza o ouvinte como um canto celestial. Os pianos de Sarah Tandy quebram os tempos do groove em “Carrying The Runnings Away” e quando você achou que o disco não poderia lhe surpreender mais, Camilla surge absoluta, esbanjando seus dotes melódicos com “The Most Useful Slave”.
Mas é com a última faixa que a casa cai. “Here but i’m Gone” é um cover de Curtis Mayfield com participação de Omar Lye-Fook na voz. Tema presente no disco “New World Order”, lançado em 1996, esse cover mostra como a luta por uma nova ordem mundial ainda é realidade, mas se depender da Camilla George, bom, aí o gueto vai dominar o mundo.
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