Camaradas e o ideal de equilíbrio que buscamos – Entrevista

Camaradas e o ideal de equilíbrio que buscamos – Entrevista onde conversamos sobre os lançamentos, a política e várias outras ideias!

No finalzinho de 2019 a banda Camaradas lançou o disco de estreia, “Ombro a Ombro”. É um EP com seis faixas de puro hardcore, cheio de melodias com letras incisivas e necessárias em qualquer conjuntura que estejamos.

Aproveitei esse lançamento para bater um papo com os caras e acabar por apresenta-los a vocês caros leitores e caras leitoras do Oganpazan.

Confiram e avante camaradas!

Dudu (Oganpazan): E ai galera, de pronto vamos sanar uma dúvida que me perturba: Animo Y Fúria / Rethink, Jah Hell Kick / Camaradas, o que rola dessas mudanças de nomes, com sons e formações tão parecidas?

Jorel (Camaradas): Eu acho que tenho que responder essa… Bom, primeiramente é importante dizer que somos outra banda, foram situações completamente diferentes, são bandas completamente diferentes e situadas em um tempo diferente. O Rethink acabou já faz quase 20 anos… rs.  Enfim a mudança ali rolou somente na capa do álbum, pois o Rethink tocou poucas vezes como AYF. Foi uma mudança feita às pressas, sem muita reflexão, eu simplesmente não queria um nome em inglês, só isso, mas não rolou na época uma troca de ideias séria a respeito, ninguém se opôs a princípio, mas depois ficou claro que não queriam e a banda chegou ao fim, águas passadas.

Agora a coisa aqui é bem diferente, em comum somente o fato do vocal ser o mesmo da outra banda. Já tocamos juntos eu, Alex e o Denis (antigo baixista) desde 2005 e embora nossos shows e mesmo ensaios ao longo desse tempo sejam bem irregulares quanto à frequência, nós sempre conversamos muito, aliás, falamos muito mais do que tocamos, sempre houve muito diálogo. Jah Hell Kick nunca foi um nome que achássemos foda, (o Kabelo ainda acha vai, rs) era só uma piada, no entanto foi ficando. Nunca tocamos muito, por uma série de fatores e com estas inúmeras paradas fomos levando, mas frequentemente essa coisa do nome vinha à tona. Enfim, discutimos bastante ao longo dos últimos anos e não se pode dizer que foi algo fácil, um consenso pleno nem sempre é possível, mas todos opinaram e seguramente não se pode dizer que foi uma decisão unilateral.  O nome JHK não tinha um significado, contrariamente, Camaradas abraça e busca resgatar essa ideia do coletivo em torno de um princípio revolucionário, remete à solidariedade. Puta responsa, na verdade.

Dudu (Oganpazan): Se as pessoas tinham dúvidas sobre o posicionamento político do Jah Hell Kick, com o “Reds” tudo ficou vermelhecido, vamos por assim dizer. Com a Camaradas, desde o lançamento do primeiro single, “Em qualquer lugar”, não apenas as letras, como toda a estética do bandcamp já dava pistas desse posicionamento político.

Falem um pouco disso, do posicionamento político de vocês enquanto indivíduos e enquanto banda.

Jorel (Camaradas): Na real a banda sempre se posicionou politicamente, na primeira Demo já questionávamos a democracia burguesa, isto é, já tínhamos letras que davam conta do direcionamento político. Escrever não é fácil e sempre tentamos dosar essa coisa, mas é necessária uma habilidade que por vezes nos escapa. Ser direto, sem ser tosco, nem sempre róla… A música “Nada”, por exemplo, foi escrita em 5 minutos. Algumas vezes escrever por meio de metáforas também pode não surtir um bom efeito, enfim, o ideal é encontrar um equilíbrio entre uma poesia e um chute na cara. O nosso tempo tem nos obrigado a dizer as coisas que sempre estiveram conosco, mas que por vezes não dizíamos ou que ficavam nas entrelinhas. A realidade atual mudou isso, ser direto é essencial neste momento.

É simplesmente fundamental se afirmar enquanto socialistas, comunistas, enfim, defender o que queremos construir e não somente contra quem lutamos e queremos destruir. É muito comum as pessoas no meio punk hardcore se afirmarem antifascistas, e isso é ótimo, mas na real é algo básico. Na boa, ser antifascista é o mínimo para se ter alguma coerência. No entanto, aí vem pergunta, o que vocês propõem? Muitas vezes fica tudo muito solto no ar, pois ser contra o sistema é algo que é inerente ao punk, mas a dúvida persiste. Portanto essa problemática, ou melhor a falta de problematizar isso expõe algo que sempre fez parte da cena aqui em São Paulo, sempre houve uma resistência, mas na prática, pode-se dizer que o que foi feito sempre foi algo superficial, restrito à subcultura,  apenas um passo, que nunca foi além desse mínimo.

Em nossa concepção é preciso ir além, fazer com que essa pequena ação contra cultural se enlace aos movimentos sociais de alguma forma para uma atuação política mais concreta, maior politização, que possa surgir células próprias e atuantes, enfim um trabalho de base. Não é algo fácil, inclusive hoje, nos questionamos muito quanto ao que poderíamos e deveríamos fazer para mudar isso, mas seguramente é fato que grande parte da cena punk e hardcore precisa superar uma série de limitações, buscar uma formação mais sólida e com isso partir pra ação fora da cena. E nos incluímos ai também, claro. Isso passa por ter objetivos mais concretos, formação, e que leve a um trabalho de base, com isso é possível superar as generalidades e nos posicionarmos claramente quanto ao que defendemos, que tipo de sociedade queremos, o que significa superar a sociedade baseada em classes. Ter isso claro facilita a organização, gera maior unidade. E é justamente neste momento que o capitalismo apresenta cada vez mais rachaduras e que o fascismo expõe sua face novamente que devemos dar passos adiante, pois é um momento crucial para intensificar a disputa política, estreitar laços com camaradas espalhados por aí, estarmos presentes no dia a dia na luta, para quando a marcha da história fizer seu movimento e tudo vier abaixo, estarmos preparados.

Dudu (Oganpazan): Muita dessa estética citada na pergunta anterior veio da capa feita por Rafael “KBL” Stringasci (Bateria) com as ilustrações do Alexandre Kool, um dos mais fodas desse país. A ideia foi dele ou de vocês? Como foi a construção da identidade visual da banda?

KBL (Camaradas): Muito antes de falarmos com o Alexandre “Bill” Kool, antes mesmo de gravarmos o EP, eu já vinha pesquisando e tentando criar um novo logo, capa e alguma coisa de arte que representasse essa ideia da banda. Quando a concepção da arte foi criada, eu precisava de alguma coisa pra inserir de ilustração, foi aí que chamamos o Bill e passamos a ideia pra ele. E o resultado nos agradou muito, pois os desenhos encaixaram bem no visual que eu havia criado. E vamos seguir usando essa ideia em outros materiais da banda, achamos que agora conseguimos passar a ideia através da imagem também.

Dudu (Oganpazan): Creio que todos da banda já tenham ultrapassado a marca dos 30 anos de idade, e na música “Fúria Adolescente” fala-se sobre aquele ímpeto juvenil, com um certo ar de nostalgia. O que sobra em vocês dessa fúria adolescente e o que se perdeu no tempo?

Jorel (Camaradas): A fúria que é muito presente na adolescência e normalmente leva os jovens a questionarem o modo de vida, nesta fase muita gente busca sua identidade e o inconformismo da juventude sempre foi um combustível do punk em geral. A questão é que as obrigações que a vida cotidiana nos impõe geralmente levam muitos jovens questionadores a se adaptarem ao modo de vida, tido como ideal, o tal “cidadão de bem”, a família tradicional, que levam a essas aberrações que vemos por aí com camisetas da CBF. Muito além de compartir bons e intensos momentos a juventude tem a coragem como uma característica marcante que segue necessária ao longo da vida, isso não significa que você tenha que seguir escutando o mesmo tipo de música ou se vestir de uma maneira específica, mas simplesmente manter sua capacidade de se indignar, de reconhecer a injustiça e isso é algo fundamental, pois essa normalidade é doentia e se rebelar contra não pode ser algo restrito à nossa juventude.

A nostalgia da infância é algo positivo, ter o dia todo livre pra jogar futebol, estar sobre as lajes soltando pipa, causando por aí, falar besteiras ao pôr do sol, porra, não ter saudade disso é estar doente. Você não volta à juventude fazendo uma música, claro, mas perder esse gosto da liberdade é algo muito triste. Quando se perde essa perspectiva não é que se perdeu a juventude, a nossa já se foi é um fato, principalmente a do vocalista que é só uma lembrança remota, rs mas a rebeldia e o ímpeto de transformar o mundo que os jovens têm não se pode perder, nunca.

Sendo bem franco, a vitalidade do corpo físico se perde com o tempo, isso é inevitável, mas a fúria, esta pode inclusive se intensificar e acho que estamos neste estágio.

Dudu (Oganpazan): Muito se fala, atualmente, sobre “desgoverno” e sobre a atual conjuntura política do país. Qual a atual visão de vocês, de forma sintética, sobre o presente momento político/social que vivemos?

Alex / Felipe (Camaradas): É difícil falar sobre esse momento crítico da conjuntura atual sem considerarmos alguns episódios políticos que vem se arrastando desde 2013, não só no Brasil, mas também em uma boa parte dos países latino-americanos. Na nossa avaliação o ano de 2013 foi emblemático, pois simbolizou um verdadeiro divisor de águas no que diz respeito a polarização política que o país se encontra até hoje e, simultaneamente, expressou nas ruas uma profunda insatisfação de uma parte das massas trabalhadoras com a ordem político-institucional vigente ao longo nesses últimos trinta anos representado pelos partidos da ordem, PSDB, PMDB e PT. Ambos partidos, embora apresentassem diferenças significativas no que diz respeito ao projeto político de país, adotaram cegamente um pacto junto às classes dominantes para poderem governar, sem romper com as políticas neoliberais propostas pelos receituários do Banco mundial, FMI e o capital financeiro, criando crescimento e estabilização econômica em um curto intervalo de tempo, sem aplicar as reformas sociais profundas que de  fato superassem o abismo social que marca a realidade desigual do país ao longo de séculos.

Esta contradição não resolvida em décadas deu seus primeiros sinais com a crise de 2008 nos países  centrais (EUA e Europa) e explodiu no Brasil em 2013, favorecendo de um lado o florescimento de protestos, atos (como a luta pelo passe livre organizado pelo Movimento Passe Livre) e greves em diversas cidades do país, organizados por militantes jovens e estudantes oriundos das classes médias e trabalhadoras das grandes metrópoles do país. No outro polo, passam a ganhar espaço nas ruas, movimentos difusos com características: ultranacionalistas, religiosos, autoritários, anticomunistas, pró-Estados Unidos, e com características autoritárias análogas aos movimentos nazi-fascistas do século passado. Muitos deles apoiados por organizações internacionais, bancos, meios de comunicação, Federação das Indústrias, igrejas neopentecostais e até mesmo partidos de direita da ordem, como PMDB, PSDB, MBL, etc. Tais movimentos passaram a ganhar corpo ao longo de alguns anos e foram usados como massa de manobra para derrubar governos por golpes parlamentares, aprovar reformas antipopulares e posteriormente eleger figuras à sua imagem e semelhança, como é o caso de personalidades asquerosas representadas por Bolsonaro e seu clã.

Apesar das profundas derrotas que a classe trabalhadora sofreu nos últimos anos, tanto no plano político-institucional quanto fora dele, e diante de uma pandemia que tem dizimado milhares de vidas, desafiando os sistemas de saúde do mundo inteiro, o momento histórico atual obriga as organizações e vanguardas da classe trabalhadora (Partidos, sindicatos e movimentos sociais) a construírem junto às massas que vivem do suor do trabalho, um projeto radical anticapitalista, internacionalista e alternativo que coloquem as reflexões sobre os êxitos e limites das experiências revolucionárias dos séculos passados, como necessárias para a formulação de um projeto socialista novo e radicalmente crítico à ilusão liberal da democracia burguesa.

Sabemos dos desafios e dificuldades práticas para a realização desse tipo de empreitada e que não existe uma “fórmula mágica” ou ideal para isso, acreditamos que a fase pós-pandemia ficará marcada por um aprofundamento ainda maior das lutas de classes em diversas partes do mundo e esse será o momento que teremos para expor de forma clara a todas e todos trabalhadores que diante da ordem capitalista não existe outra alternativa senão a barbárie, e que o único horizonte que temos diante de nós para seguir em frente é o socialismo como possibilidade real.

Dudu (Oganpazan): Engraçado que vocês citaram essa questão da “virada à direita” que rolou na latinoamérica e logo me remeteu a um excelente documentário que fala um pouco sobre essa guerra que criaram, não só no Brasil, contra a “ideologia de gênero”, vou deixar aqui como dica o documentário “Gênero sob ataque”:

Voltando ao disco, em minha opinião, de todas as músicas, o melhor trecho de letra desse EP de estreia é o da faixa “Em qualquer lugar”:

“Dos vales de Chiapas às montanhas do Curdistão, nossa luta é a mesma em qualquer lugar. Por mais que queiram nos calar, pássaros livres não reconhecem fronteiras”.

Quando li isso pela primeira vez fiquei emocionado de uma forma mágica, nesse momento eu já ansiava em ver as demais letras e curtir as músicas.

Ademais, o próprio nome da banda já nos dar uma ideia de unidade, uma pegada classista. Gostaria que falassem um pouco sobre isso, sobre a importância da coletividade e da luta em conjunto nos tempos atuais.

Jorel (Camaradas): Legal, nós também gostamos dessa frase… rs

É importante dizer que esse trecho da letra acabou ficando de fora, não encontramos uma forma de manter. Nossas letras muitas vezes têm muitas partes e que sobram por conta da métrica, tempo, melodia, enfim, mas nós gostamos de manter algo que consideramos legal, mas que sobrou. Acho que o Kabelo fez isso em alguma de nossas artes e é até possível que possamos usar em alguma arte, camiseta no futuro. Nossas letras em geral são bem curtas por isso algumas vezes deixar ideias que estavam na original é uma opção, pois deixa a mensagem mais completa mesmo não cantando este trecho específico.

Estamos totalmente de acordo, ter uma perspectiva de classe é fundamental. Seguramente o maior erro da esquerda no mundo inteiro é deixar de lado essa premissa. A sociedade é dividida em classes e simplesmente não é possível vislumbrar uma sociedade melhor, mais justa e igualitária se não partirmos dessa perspectiva. A consciência e unidade da classe trabalhadora significará o fim da classe burguesa. E a partir daí podemos construir sob as ruínas desta, uma outra sociedade onde o bem comum seja de usufruto de todos.

Dudu (Oganpazan) Em que pese as letras de vocês serem verdadeiras pedradas e bem politizadas, o som feito beira o hardcore melódico, com vozes bem cantadinhas até. Acham que isso facilita o acesso das pessoas ao que a banda se propõe a passar nas letras?

Jorel (Camaradas): Nós escutamos muitas coisas diferentes e cada um tem um gosto musical particular, eu ouço muito reggae, ska, rock steady. O Alex ouve rock em geral, do punk ao metal, tudo que tenha muita guitarra (rs). O Felipe ouve de hardcore ao metal também, toca numa banda de crossover, e gosta de Rush a Piazzolla. O Kabelo ouve de punk/hc até rap e afrobeat. E assim vai… E é lógico que nessa miscelânea há um monte de coisas que temos em comum, mas enquanto ao som que fazemos as principais influencias são basicamente hardcore americano dos 80 e punk rock inglês. Obviamente que temos algumas bandas que nos influenciaram mais diretamente, no entanto, não podemos dizer que nosso som provém somente delas, gostamos de muita coisa e tudo que ouvimos nos influencia e logicamente alguma coisa acaba ficando mais próxima, mas consideramos que o que fazemos é bem nosso na real.

Nós não nos preocupamos em tocar algo mais palatável para que nossa mensagem chegue a mais pessoas, tocamos o que gostamos e isso possivelmente até tenha afastado alguns. Somos uma banda oriunda do meio sXe (Straight Edge), só que não nos encaixamos estética e musicalmente nesse padrão. E também não somos uma banda punk rock clássica. Gostamos de tocar, só isso. E logicamente temos algo a dizer, tentamos juntar tudo isso.

Dudu (Oganpazan) Falem o pouco do processo de produção desse disco de estréia.

KBL (Camaradas): A banda sempre teve alguns hiatos devido aos compromissos pessoais de todos. Quando resolvemos fazer algo novo, resgatamos boa parte de bases e gravações de ensaios (sempre gravamos as músicas novas pra ouvir em casa, com calma, após ensaiarmos na casa do Jorel) e colocamos em prática. Tínhamos uma lista de mais ou menos uns 14 sons, muitas delas desde a época que o Denis tocava baixo conosco (cara fundamental para a banda e que ajudou no EP “Ombro a Ombro” também) e no começo achamos que sairia um disco cheio. Mas como trampamos muito em cima de cada música, acabamos focando nesses 5 sons (+1 adaptação acústica). Foi bem trabalhoso chegar nesse resultado. Pouco mais de um ano ensaiando os mesmos sons, pensando em cada refrão, para que fossem fortes e marcantes, sempre com a ideia de que sejam palavras de alento em meio as adversidades que passamos. Pensando muito na melodia, nos riffs de guitarra, antes de entrar no estúdio. Gravamos no Bay Area, com o Diego Rocha, ele é amigo de infância do Felipe, então estávamos em casa. O cara já trampou muito com punk e hc embora seja conhecido no cenário do metal. Foi ele quem mixou e masterizou, além de ajudar muito em todo processo. Alguns detalhes foram definidos na gravação e mixagem, mas deu tudo certo no final.

Dudu (Oganpazan) O lançamento será apenas nas plataformas virtuais, ou tem a possibilidade de adquirir ele em sua versão física?

KBL (Camaradas): Sempre quisemos lançar algo em vinil. Além de escutarmos discos em casa, achamos que é o único formato físico que ainda resistirá ao tempo, como tem sido. Embora uma banda minha já tenha saído nesse formato, com o Jah-Hell Kick a banda nunca teve esse material, e nem nas demais bandas que os caras tocam/tocaram. O Jorel por exemplo, que curte e tem uns discos de vinil, assim como os outros, nunca teve uma banda com esse registro. Estamos conversando com 2 amigos nossos que estão com um selo e tentando armar esse lançamento. Por enquanto preferimos não garantir nada, mas achamos que seja possível um 7” EP sim. Mas o digital também tem o lado bom, quebrar as barreiras da distância, você é da Bahia e ouviu a parada assim que saiu, ao mesmo tempo que qualquer outra pessoa no mundo. Isso é importante também.

Dudu (Oganpazan): Pra finalizar, o hardcore voltou as ruas?

KBL (Camaradas): Nunca deveria ter saído (rs).

Todos sabemos que o hardcore, desde o seu começo, foi uma parada criada pela classe média, temos total consciência disso. E no decorrer da história passou por transformações. De Minor Threat à Fugazi, de DC à Califórnia, bandas europeias e latino americanas. Se ele se despolitizou no processo, não da pra generalizar, pois muitas bandas mantém uma essência e outras se perderam totalmente pelo caminho, por escolha própria mesmo. A questão é as pessoas saberem quem são, de onde vem, onde vivem e entender a realidade independente de hardcore, seja a música ou as identidades que ele carrega. O que o hardcore/punk nos passou de informação é o mais importante. Se carregamos uma ideia de mundo que ele (HC) nos deu a base, é porque esse veio das ruas, por assim dizer. E em relação aos dias de hoje, acho que com esse cenário político adverso no mundo todo, as manifestações se fazem presentes em vários campos, e pelo que estamos vendo, no hardcore e na música em geral também, embora tenhamos que romper outros limites.

Dudu (Oganpazan): Deixem uma mensagem aos leitores e leitoras do site.

CAMARADAS: Gostaríamos, principalmente, agradecer pelo espaço que nos foi cedido. No passado nós tínhamos os fanzines e eles eram um importante meio de comunicação e difusão de ideias na contracultura. Hoje existem outros meios, a coisa é mais fácil, no entanto existe tanta informação disponível que as pessoas se perdem nesse meio virtual. É super importante que as pessoas continuem escrevendo, fazendo bandas, organizando shows, quando isso for possível, claro, e que as ideias que questionam esse sistema que segue escravizando as pessoas (umas mais que outras), poluindo e destruindo o meio ambiente de maneira geral, sejam difundidas por todos os meios possíveis, gerem reflexões, e principalmente, levem as pessoas a se engajarem nas lutas, que se dão efetivamente nas escolas, sindicatos, nas ruas e não necessariamente em espaços de shows.

Esperamos que todos tenham mais curiosidade e não aceitem as coisas dogmaticamente. A história é contada de formas muito suspeitas, geralmente com um viés contra revolucionário e que geralmente leva a equívocos grosseiros ou à apatia. É preciso estar esperto ao que acontece no mundo, ler, estudar e principalmente estar junto com as pessoas que estão ao nosso lado da luta, fortalecendo nossos laços buscando respostas, formas de atuação para que desta forma, organizados, possamos de fato nos livrar dos grilhões e ganhar o mundo.

-Camaradas e o ideal de equilíbrio que buscamos – Entrevista

Por Dudu 

Fotos por Nathan Motta, Roberto Gasparro, Dani Moreira, Mateus Mondini   

 

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