Oganpazan
Destaque, Dicas, Discoteca Básica

Bunny Wailer, Peter Tosh e Bob Marley em 3 clássicos

Há 40 anos Bunny Wailer, Peter Tosh e Bob Marley laçavam discos clássicos, agora como os principais compositores de suas respectivas bandas

Há 40 anos eram lançados os discos Rastaman Vibration, Legalize it e Blackheart Man, por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer respectivamente, 3 álbuns essenciais na coleção de todo amante do Reggae. O ano de 1976 pode ser considerado um renascimento para os Wailers, agora, principais compositores e líderes de suas respectivas bandas. Diante da dispersão do trio, em 1974, após o lançamento do disco “Burnin”, essa nova realidade demandou a inserção de novos personagens.

É nesse período que o grupo vocal The I Trees, composto por Rita Marley, Judd Mowatt e Marcia Griffits, passa a acompanhar definitivamente Bob Marley e The Wailers, assim como os guitarristas de blues vindos dos EUA, Al Anderson, que tocou com bandas de rock como Traffic e Donald Kinsey, filho do blueseiro Big Daddy Kinsey e fundador do Kinsey Report, um dos grandes grupos de Blues da decada de 80.

Um fato curioso sobre estas duas lendas da guitarra Reggae, é que Donald Kinsey substituiu Al Anderson quando este deixou os Wailers apos gravar o álbum Natty Dread, em 1975, para fazer parte da banda de Peter Tosh com quem gravaria o incendiário álbum Legalize it. E viria a substitui-lo novamente dessa vez na Word, Sound and Power, banda de Peter Tosh quando Al Anderson retornou ao The Wailers, na turnê do álbum Kaya, em 1978, e permaneceu com a banda mesmo após a morte de B. Marley.

Recompostas as lacunas Bob Marley e The Wailers lançaram-se em uma série de shows cujos registros deram origem a álbuns clássicos como Live at the Lyceum, gravado em Londres e Live at the Roxy, gravado em Los Angeles. Peter Tosh se lançou em uma excursão pelos EUA acompanhado agora pela sessão rítmica do lendário Studio One, composta pelo baterista Sly Dunbar e pelo contrabaixista Robbie Shakespeare, conhecidos como “The Rhythm Twins” (Os Gêmeos do Ritmo).

Um ótimo registro desse período é o disco Live in Boston que além dos Gêmeos do Ritmo ainda conta com o suingue do tecladista Earl Wire Lindo e a virtuosidade do guitarrista Al Anderson, ambos vindos da The Wailers. Somente Bunny Wailer não parecia preocupado em estabelecer uma carreira fora da Jamaica, mas com o lançamento de Blackheart Man viria a se consolidar como um dos principais ícones do Reggae de todos os tempos. Dono de um timbre vocal suave e bastante influenciado pela música Gospel, produziu um som autêntico e que carrega a marca dos Wailers.

Blackheart Man, Legalize it e Rastaman Vibration podem ser apreciados como uma trilogia. A começar pela sonoridade, principalmente em relação a timbragem da bateria de Carlton Barret, bastante parecida nos três álbuns. Os irmãos Carlton e Aston Barrett, que imprimiram uma assinatura inconfundível em todos os trabalhos em que participaram, foram os responsáveis pela condução rítmica nos três discos, ainda que tenham dividido os créditos com outros instrumentistas como o baterista Carlton Santa Davis e o contrabaixista Robbie Skakespeare. 

As guitarras são outro ponto forte desses albuns, basta apreciar os solos de Al Anderson em musicas como “Crazy Baldheads“, “Why Most I Cry“, fruto da parceria entre Peter Tosh e Bob Marley que está em Legalize It, ou o fraseado blueseiro de Donald Kinsey em “Want More” faixa presente em “Rastaman Vibration” e “Till Your Well Runs Dry“, do álbum Legalize It e que indica uma influencia muito forte do country dos EUA na música de Peter Tosh. Além dessas duas feras, Bob Marley e Bunny Wailer ainda contam em seus respectivos álbuns com o premiado guitarrista Earl Chinna Smith, várias vezes vencedor do prêmio Grammy em diferentes categorias. 

As harmonizações dos três álbuns ficam por conta do tecladista Tyrone “Organ” Downie, que se juntou aos Wailers ainda em 75, substituindo o tecladista original Earl “Wire” Lindo. Impossível lembrar de “Roots, Rock, Reggae” ou “Who the Cap Fit” sem os belíssimos arranjos introdutórios produzidos pelo psicodélico tecladista.

As canções “Igziabeher (Let Jah Be Praised)” de Peter Tosh e “Armagideon (Armagedon)” de Bunny Wailer, com seus arranjos sombrios e sofisticados são outros grandes exemplos da capacidade criativa desse grande instrumentista. O qual tive a oportunidade de ver tocando quando o mesmo esteve em Salvador em 2015 com a turnê “Wailers Reunion“, juntamente com Julian Marley (filho de Bob Marley) e os Wailers, que também incluiu nessa oportunidade, o anteriormente citado, guitarrista Chinna Smith, showzaço inesquecível.

Para deixar as já poderosas mensagens ainda mais irresistíveis, os Wailers além de colaborarem mutuamente, contaram com o reforço vocal das I-Trees Judy Mowatt e Rita Marley, que além de serem co-responsáveis pelos vocais de “Rastaman Vibration”, participam juntamente com Bob Marley e Bunny Wailer do álbum “Legalize It” de Peter Tosh. Em contrapartida, Tosh contribui com Bunny Wailer nos vocais de “Blackheart man”.

Uma curiosidade sobre essas colaborações é que Tosh e Marley, assim como outros Wailers, também contribuíram com “Mellow Mood“, disco de estréia solo de Judy Mowatt, lançado em 1975 e que pode ser incluído como parte dessa série de álbuns produzidos nesse período 1975-76, formando uma quadrilogia dos Wailers.

Música boa não tem prazo de validade, e mesmo depois de 40 anos esses discos ainda conseguem impressionar e emocionar quem os escuta, tanto pela sua inegável qualidade musical mas também pela força espiritual de suas mensagens.

Aumenta o som e acende o Chalice.

 

Matérias Relacionadas

Marcola Bituca e a fé inabalável badalando os “Sinos de São José”

Danilo
4 anos ago

TRETA COSTA LESTE X COSTA OESTE

Dudu
6 anos ago

Bad Religion retrata a era Trump em Age of Unreason

Carlim
6 anos ago
Sair da versão mobile