Bratz é um jovem valor da cena baiana de rap e acaba de soltar seu EP de estreia na chave do Plug, relatando suas vivências!
Para quem está como nós, conhecendo o trabalho da Bratz agora, vale muito a pena buscar a faixa que já possui mais de 13 mil views no soundcloud. Mostrando evolução em relação com sua estréia na faixa “Bucetinha de Fada”, onde relatava um caso de amor e sexo, sem meias palavras. Aqui nesse EP, sexo, lifestyle, vivências, sonhos, obstáculos, relações interpessoais, família, são questões abordadas ao longo das faixas.
Não se engane, não é apenas um convite para o “meteflix”, apesar da opção não está descartada, porém “Sessão das 11” é um convite amplamente trabalhado, com um conceito bem amarradinho e com uma sonoridade centrada no plug. Já nos dando um pequeno aperitivo do que podemos esperar dessa artista nos próximos anos, a tal da Bratz que afirma focar seu trabalho no drill e no plug, vem desenvolvendo um estilo próprio.
Trazendo ao público como referência filmes que lhe marcaram ao longo de sua vida, em “Sessão das 11” ela subverte as temáticas originais retrabalhando-as em seu próprio roteiro. Como a artista parece ter uma certa predileção por Tarantino e afiliados, nós poderíamos por analogia dizer que o EP é uma atualização soteropolitana do clássico: “Amor a Queima Roupa”. Tanto pelas temáticas originais apresentadas quanto pelo impacto que o trabalho gera.
O EP foi lançado pelo selo Embaixxada, que assina também a mixagem junto com Lilbice, e já na primeira faixa “Rocky”, temos Bratz rimando no beat do Cans4do, onde a MC relata suas vivências pela quebrada e o cotidiano prosaico de jantares e rolês. Contrastando entre a leveza do beat de plug com uma toques de drum’n bass, ela pesa nas linhas e nas imagens de sua lírica. Outro aspecto interessante é notar como as questões tecnológicas são inseridas com naturalidade dentro do texto, a paquera via instagram, a busca por visualizações, questões mesmas dessa nova geração.
Já em “Drink no Inferno” começamos a assistir os trechos que a ligam ao hip-hop de modo inequívoco, onde ouvimos os relatos das dificuldades de uma jovem mulher negra e periférica seguir com seus corres na arte e na vida. As inserções que Cans4do aplica no plug apresentam um frescor e uma busca de identidade sonora própria, fugindo ou tentando fugir de uma pegada mais genérica. Na segunda faixa ele aplica um trecho introdutório na pegada do groove pagodão, antes de solta um drill mais lento.
Em um diálogo de gerações muito bacana, Bratz inseri um comentário bastante relevante sobre o quanto a apologia da luta e da meritocracia desconsidera os efeitos a longo prazo, dessa corrida em mulheres negras que precisam manter essa postura de “resiliência” por décadas. Na visão, a MC sabe o que quer, e tem corrido para isso.
O pequeno EP fecha com a participação da multi talentos Paulilo, onde a dupla explicita a regra que a essa altura já deveria ser clara: jogador só pode entrar em campo, depois de beijar o gramado. “Pulp Fiction: Tempo de Violência” traz o beat de Jxkv e encerra o trampo com uma sexsong didática, o que certamente é ainda hoje uma função fundamental!
Além deste EP, e da faixa inicialmente mencionada a MC da Suburbana, tem outros dois singles em seu canal no Spotify: A tal da Bratz (2020) e a recente “Flow Doja Cat (2022), single lançado após o lançamento do EP. Temos aqui uma artista que precisa ser observada de perto pelo público interessado na renovação do cenário rap/hip-hop baiano e nacional. Em sua arte, podemos observar a necessidade de expressão de uma sexualidade livre, de uma política que busca emancipação e de uma ética da favela, esperamos pelos próximos trampos.
-Bratz e o seu EP de estreia: Sessão das 11 (2022), plug de vivências femininas pretas!
Por Danilo Cruz