Bonke Music é reunião de talentos no EP Tudo em Casa (2020) Conheça esse projeto que começou seus trabalhos em um excelente nível!
Um coletivo surgido em Salvador tem apresentado trabalhos muito bons chegando com trampos bem sólidos na cena. A Bonke Music reúne um bonde de artistas que estão há algum tempo se desenvolvendo no cenário do rap baiano e que agora se uniram e tem mostrado o quanto musicalmente Salcity representa grandão dentro do cenário do rap nacional. Já tínhamos tomado contato com o primeiro EP Não Leve Pro Coração (2020) lançado alguns meses atrás, e naquela altura já nos impressionava a qualidade da produção de estréia. Eis que pouco tempo depois chegam novamente com outro EP: Tudo em Casa (2020) e reafirmam as excelentes impressões deixadas com o primeiro trampo.
Formado por Nessa, Dactes, Faustino, Yan Cloud e Sico, além do DJ Mhc e do mano Zamba, esse coletivo reúne muito talento e ao se lançarem como uma banca produzem na reunião e versatilidade dessas peças em total harmonia. Formando assim uma engrenagem muito bem azeitada, com originalidade e negociando as singularidades de cada um de modo a apresentar um trampo coeso, crítico e reflexivo. Trabalhando a princípio dentro da estética do Trap, com pitadas de R&B e soul, as letras falam de relacionamentos, das lutas na cena, de problemas sociais e raciais também. Com produções que reúnem as linhas dos quatro mc’s, o resultado das faixas é um mosaico muito bem desenhado de líricas e timbres vocais, envoltos em produções atmosféricas capazes de seduzir quaisquer moças e rapazes.
Adicionamos o primeiro EP Não Leve Pro Coração (2020) em uma matéria sobre EP’s lançados no Brasil inteiro, mas com esse segundo lançamento entramos em contato com os caras e mandamos algumas perguntas para sabermos melhor sobre o trampo. Abaixo você acompanha a conversa:
Como surgiu a ideia de reunir os talentos da Bonke Music? A Bonke é uma banca, um grupo, como vocês pretendem trampar, sempre em grupo ou pensam em soltar trampos solo?
Primeiramente, obrigado pelo espaço, Danilo! Então nós operamos como coletivo musical e produtora. Desde 2017 eu, Zamba e DJ MHC vislumbramos a ideia de trabalhar juntos como produtores. Já a ideia original da parte de coletivo começou alguns anos atrás era só fazer um ep comigo, Dactes e Yan Cloud. Certo dia Sico chegou do trampo no estúdio NaCaladaRec (onde ele e Dactes moram) e colou numa música. A sinergia da galera fazendo som junto foi muito natural, e aí fomos fazendo músicas novas. Unimos os projetos em um único “ecossistema” chamado Bonke, que também tem a Nessa. No mais, a gente cria junto, mas não impõe restrição, todo mundo tá liberado pra soltar trampo solo e também pra fazer feat com quem quiser.
Como é harmonizar estilos de artistas diferentes e com caminhadas distintas numa perspectiva de criação coletiva?
O fato de cada um trazer seu “tempero” é o que torna a mistura tão legal. Mesmo quando combinamos o mesmo tema pra escrever, cada um sempre traz uma perspectiva diferente e quando vemos o resultado final fica muito maior do que poderíamos fazer sozinhos. É sempre divertido compor todo mundo junto./
O “grupo” possui dois excelentes beatmakers e produtores (Dactes e Faustino) e que além de tudo rimam, e mais outros dois excelentes MC’s (Sico e Yan Cloud) e uma mc e cantora (Nessa), como tem se dado o processo criativo?
Então, além de mim e Dactes, Zamba e DJ MHC também produzem! Antes da quarentena a gente se reunia no NaCaladaRec escolhia um beat (ou fazia um na hora) e começava a escrever, sem roteiro, só deixando a criatividade levar mesmo. Teve dias que saía várias músicas, outro dias não saía nada, mas faz parte!
Percebemos nos dois primeiros trampos apresentados uma influência grande de um estética muito desenvolvida por grupos como The Weekend, estou viajando?
Na parte do som, a gente trabalha muito nos beats do Dactes, e ele tem uma atmosfera bem espacial nos instrumentais, talvez remeta aos grupos que você citou mas não é uma referência intencional! E na parte visual, Yan e Zamba quiseram trazer um look de embalagem pras duas capas, uma estética moderna que achamos que combina muito com nosso trampo.
A sonoridade dos EPs da Bonke Music é algo bastante diferente do que estou acostumado a ouvir na cena nacional. Quais influências vocês tem utilizado para desenvolver esse som tão singular?
Sico: Trap, Childish Gambino, Samba Reggae, Joji e Travis Scott
Dactes: R&B, Trap, Tory Lanez
Yan Cloud: Então… desde o começo sempre tive Emicida como minha maior referência, mas atualmente tenho absorvido muita referência do pop, dancehall, afrobeat, pagotrap e plug, tenho escutado bastante Mr. Easy, Glória Groove, J Balvin e uns plug de Lil Gotit.
Faustino: R&B, Jazz, Metal, Mikael Akerfeldt (Opeth), Casey Crescenzo (The Dear Hunter), Djavan.
Como vocês tem percebido a recepção do público aos trampos lançados?
A galera abraçou bem o “Não Leve Pro Coração”, apesar da gente não ter divulgado de forma tão pesada. Agora com o “Tudo Em Casa” estamos mais focados na difusão do trampo e esperamos conquistar novos fãs que visitem os dois EPs, assim como os trampos solos!
Em tempos de Pandemia, como vocês têm se planejado? Antes do isolamento social chegou a rolar algum show da Bonke?
Então, o momento é de se cuidar então temos evitado reuniões. Graças a Deus todo mundo do coletivo consegue gravar voz de casa mesmo, então criativamente a gente não tá parado. Estamos fazendo mais coisas e guardando repertório. Antes do isolamento rolaram alguns eventos pela cidade, e a resposta do público foi muito boa, mesmo com as músicas não lançadas ainda, todo mundo se divertiu muito.
Quais são os planos para o futuro da Bonke?
Quando isso tudo passar queremos fazer mais shows, sentimos falta da energia da galera. Também queremos continuar soltando trabalhos de estúdio e expandindo a marca da Bonke em outros projetos que estamos preparando com bastante calma aqui nos bastidores.
Se não perguntamos alguma coisa, gostaria de abrir o espaço para que você comuniquem algo que esquecemos de perguntar!
A mais, fica o recado pra galera ficar em casa, cuidar da cabeça, lavar a mão, respeitar pai e mãe e ouvir nossos sons! É nois mermooo!
Boatos nos contam que a Bonke Music possui um arsenal, um verdadeiro paiol de músicas gravadas antes da Pandemia, onde os caras se reuniam para produzir, compor e gravar. E aos poucos eles vem mostrando que esses boatos são verdadeiros. Em pouco tempo, com dois lançamentos bem relevantes, para uma estréia de “veteranos” na cena local e alguns já alcançando projeção nacional, os caras tem trilhado um caminho musical muito interessante.
Os caras além de possuírem bastante intimidade com o ofício, desenvolveram nessas sessões uma forma de integrar os 5 MC’s em faixas que reúnem flows e líricas próprias a cada um, mas que juntas formam o mosaico poético musical da Bonke. Trazendo nesse novo trabalho a talentosa Nessa e o underista Ares O Alef, trazem também sabores a mais para a sua receita de um trap bem baiano. Com referência a cultura local e regionais: “Asas Livres” e “Calcinha Preta”, com linhas sex song, a receita é apimentada também.
A cada audição o ouvinte é levado a viajar nas “partes” que formam os dois mosaicos de Não Leve Para o Coração (2020) e Tudo em Casa (2020), flows distintos e linhas que se complementam, beats num groove trap contido suave, mas que marca e te pega também pela atmosfera criada. Como vocês puderam perceber nas influências do coletivo citadas na entrevista, as origens e referências são diferentes mas eles harmonizam tudo isso num sauce único. A cozinha dos caras está a pleno vapor, os convidados trazem outros tantos ingredientes, mas certamente não é nenhuma loucura afirmar que a Bonke Music, tem um cardápio único, se sirva!
-Bonke Music é reunião de talentos no EP Tudo em Casa (2020)
Por Danilo Cruz