Oganpazan
Área Punk, Bolodoido Musical, Colunistas, Destaque, Entrevistas, Música, punk

Bolodoido Musical Entrevista: Rafael Crespo

Vocês, muito provavelmente, devem relacionar de imediato Rafael Crespo ao Planet Hemp, porém o que talvez não saibam é que ele já tocou em diversas bandas do underground nacional, tal como a banda pós-punk Herzegovina, que lançou disco em 2020.

Vamos então passear pelo mundo de Rafael, onde falamos de suas bandas, plataformas de streamings e muito mais!

Dudu (Oganpazan): Então Rafa, de início gostaria que nos desse um norte de quais bandas/projetos já participou em sua vida. Muitas vezes as pessoas apenas costumam relacionar você apenas ao Planet Hemp, mas você sempre foi um grande agitador na cena underground, cita quais bandas já passou.

Rafa Crespo: Opa, foram muitos. O mais conhecido foi o Planet Hemp, mas antes do Planet tinha tocado na Cold Turkey, banda q fez parte da cena Guitar/Grunge de SP no comecinho dos anos 90, ao lado do Pin Ups, Mickey Junkies, Killing Chainsaw, Garage Fuzz, etc…

Depois ainda no Planet Hemp comecei a me interessar por tocar bateria e montei o Polara em 99, primeira banda que eu tocava bateria. Ainda como baterista participei do Wee, banda com a Patrícia Saltara, hoje na In Vênus, e no Deluxe Trio, com o Bil, hoje na Zander.

Cold Turkey ao vivo no Der Tempel, São Paulo 1992

Toquei brevemente no De falla, substituindo o Castor Daudt, guitarrista da formação original.

Tive um projeto solo chamado Poniboy, com influências de folk e country rock, onde gravava e tocava todos os instrumentos.

Depois no fim dos anos 00, uma banda de folk rock chamada Aspen, com o Mancha e a Laura, em SP, e por último o Herzegovina, que hoje em dia é meu trabalho único e principal

Dudu (Oganpazan) Caralho! Muita coisa mesmo!!! Gostaria de destacar duas bandas que passou que acho sensacionais: Polara  e o Deluxe Trio. Em se tratando do Deluxe, friso que disco Acelerador, que você tocou bateria na época, é o melhor disco do grupo.Nos fala como foi sua entrada nessas duas bandas em específico, e a definição do tipo de som que fariam.

Rafa Crespo: O Polara começou comigo e com o Carlos Dias, na época guitarrista do Againe. Eu tinha uma banda, que esqueci de citar, mas foi a primeira banda que eu comecei a cantar e a escrever letras, chamada Elroy.

Polara 1999, primeira formação

Em 1999 tanto o Elroy, como o Againe estavam sem fazer muitos shows por conta de mudanças na formação e outras circunstâncias, então eu e o Carlos decidimos montar uma banda pra não ficarmos parados sem fazer shows e como eu sempre quis tocar bateria, vi uma oportunidade de fazer algo diferente. No começo o Polara era um projeto paralelo às nossas bandas principais, mas com o passar dos anos acabou ganhando uma dimensão e um destaque maior.

O Deluxe Trio surgiu em um momento quando eu tinha me mudado de volta pro Rio. Eu conhecia o Bil, que na época tocava no Noção de Nada, e juntos montamos um estúdio de gravação e ensaio, chamado Superfuzz. A partir da convivência diária no estúdio, começamos a tocar juntos, estava muito dedicado a tocar bateria nessa época. Gravamos um disco e fizemos alguns shows.

Dudu (Oganpazan): Foda! E no Planet Hemp, como se deu sua entrada? Você é da primeira formação certo?

Rafa Crespo: Sim, todas essas bandas q eu citei, com exceção do De Falla, eu fui um dos criadores.

O Planet Hemp participei desde o primeiro ensaio, ajudei na arregimentação dos integrantes e nas composições das músicas.

No primeiro ensaio participou eu, o Marcelo e um outro baixista, usamos umas baterias pré gravadas em uma fita cassete. Depois dessa experiência percebemos o que ia e o que não ia funcionar, então arregimentamos um bateria e outro baixista.

Já nos ensaios seguintes foram com a formação que ficou estabelecida, Bacalhau (bateria) e Formiga (baixo).

https://www.youtube.com/watch?v=mglj5RQLGCQ

Dudu (Oganpazan): E como foram os primeiros Shows, a resposta da galera?

Rafa Crespo: Foram bem caóticos, como tudo naquela época. Mas a resposta sempre foi a melhor possível.

Dudu (Oganpazan): E o Herzegovina surge quando ainda estava no Planet ou já tinha saído da banda?

Rafa Crespo: O Herzegovina surgiu após meu desligamento do Planet Hemp e foi uma volta às minhas origens, um renascimento pessoal e artístico.

Dudu (Oganpazan): Interessante isso, em que consiste esse renascimento?  E aproveito para perguntar logo: Qual é a vibe do Herzegovina?

Rafa Crespo: Renascimento porque todo final de ciclo pressupõem o início de outro, e no meu caso foi instantâneo. A necessidade de me expressar artisticamente em uma época tão complicada que todos nós estamos vivendo, pelo menos isso traz um certo alívio, pra quem cria e pra quem ouve.

Deluxe Trio + Nekro (Boom Boom Kid) Buenos Aires, 2004

Nos piores momentos, a arte é responsável por manter a esperança, dar força para lutar, seguir em frente, superar. Por isso o Herzegovina foi tão importante.

A vibe é a ira, a insatisfação, a transformação de um sentimento de impotência, indignação, em luta, esperança e redenção.

O mundo, e o Brasil especificamente, virou um lugar insuportável e todas as pessoas que tem algum tipo de empatia, sensibilidade, estão sentindo demais tudo isso.

Acho que a vibe é saber que essas pessoas não estão sozinhas

Dudu (Oganpazan): Difuder!!!! E quais são as influências de vocês, musical e extra musical?

Rafa Crespo: Nossa principal influência é o pós punk, que foi uma das minhas primeiras influências quando era adolescente nos anos 80, junto com o punk rock.

Bandas como Joy Division, Gang of Four, Devo, etc., musicalmente foram essas influências.

Extra musicalmente foi a estética de filmes como Laranja Mecânica, Estranhos no Paraíso, O Gabinete do Doutor Caligare, escritores beats, poetas russos, expressionismo alemão, futurismo italiano, construtivismo soviético etc…

Dudu (Oganpazan): Loco!!!! Um verdadeiro passeio multicultural. E qual a formação de vocês? Quais materiais já lançados?

Rafa Crespo: A formação é: Rafael Crespo – Voz e Guitarra, Mario Mamede – Bateria e Marcello Fernandes – Baixo e voz.

Temos dois EPs lançados, os dois em formato digital e cassete. 5AM que saiu em 2016, com cinco músicas:

E Last Turn de 2018 com cinco músicas também:

 

Lançamos também um disco cheio chamado Emergency, saiu em digital e CD em 2020, bem como em LP, vinil amarelo em 2021.

Dudu (Oganpazan): Legal!!! Percebi que dentre as mídias lançadas vocês lançaram em k7, uma mídia em tese defasada, que não tem o hype do vinil. Porque lançar em k7 e qual foi o retorno que tiveram com esse lançamento?

Rafa Crespo: Bom, essa questão de defasado é muito relativa né hahaha. Quando lançamos os EPs vários artistas estavam fazendo seus lançamentos em cassetes também, inclusive participamos de uma grande feira de cassetes em SP.

Tinha uma fábrica nos EUA e outra na Argentina que estavam fabricando cassetes por um preço bem razoável.

Pessoalmente nunca fui entusiasta de plataformas (de música / streamings). Acho ao mesmo que é muito cômodo para o ouvindo, é extremamente injusto com o artista. Acho essa equação muito distorcida.

Eu sempre consumi música através de vinis, cds e cassetes, nunca me opus que as pessoas baixassem minhas músicas por programas como soulseek, Napster (quando era livre) etc.

Acho um problema quando as pessoas pagam para uma plataforma, para ter acesso a um conteúdo que não é gerado pela plataforma e a maior parte desse dinheiro não chega até o artista.

Elroy no Garage Art Cult, Rio de Janeiro 1998

Os lançamentos em cassetes nunca tiveram por fim aumentar o lucro ou as vendas, apenas sinalizar para as pessoas que existem maneiras mais criativas e justas de se ouvir e compartilhar música. Sempre q possível vamos tentar manter esse formato.

Temos nossas músicas também nas plataformas on line, não vou ser hipócrita de negar ou pregar contra seu uso, mas na medida do possível vamos priorizar cada vez mais veículos que estão em afinidade com nossos ideais. Por isso escolhemos priorizar a nova plataforma Plainsong, Uma plataforma nova, 100% brasileira, que divulga e agrega conteúdo de artistas independentes e underground, sem cobrar pelos seus serviços e sem explorar ninguém.

A facilidade e a comodidade das redes tem sido uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que oferece mais conteúdo e informações, também aumenta a concentração e a má distribuição de riqueza. Um dilema que um dia terá que ser discutido e resolvido.

Dudu (Oganpazan): E esquema de shows, o Herzegovina já fez alguma tour ou costuma sair dos limites do estado? Vocês sentem dificuldade nesse trânsito? Óbvio que em tempos não pandêmicos

Rafa Crespo: Já fizemos muitas tours.

O Rio de Janeiro não é um lugar que tem muitas opções para as bandas underground. Tocamos algumas vezes na cidade, em praticamente todos os lugares que abrem espaço pra esse tipo de música e que são muito importantes, como o Escritório, Aparelho, Motim, Áudio Rebel, Saloon, etc.

Wee, Outs SP, 2003

Fora da cidade tocamos uma vez em Niterói e uma em Volta Redonda, que depois de muito tempo voltou a ter um espaço legal para as bandas.

A grande maioria dos nossos shows é em São Paulo, já tocamos inúmeras vezes na cidade, em quase todos os lugares.

Também já fizemos três turnês: A primeira foi para o sul, passando por SP, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; Depois fizemos uma segunda turnê para o sul também. Dessa vez foi com a banda de Porto Alegre, The Completers, e fomos para Montevideo (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina) também; E nossa última tour foi pro cerrado, também, uma parte dela junto com o The Completers. Fomos para Uberlândia, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Juiz de Fora e terminamos no Rio.

Quando a pandemia surgiu estávamos com uma turnê marcada para o Uruguay, Argentina e Chile, e estávamos fechando uma tour pela Europa.

Dudu (Oganpazan): E pretensão para um rolé no Nordeste?

Rafa Crespo: Sim, queríamos ter ido para o nordeste mas ainda não tínhamos contatos pra fechar as datas. Essas tour todas fizemos de carro.

Dudu (Oganpazan): Falando em pandemia, você já adiantou falando de duas tours que foram obstadas pelo atual momento, mas em linhas gerais, como essa situação de merda tem afetado vocês como banda e pessoalmente?

Rafa Crespo: Acho que tem sido muito difícil manter o ânimo e empolgação. O fato de não estarmos fazendo shows às vezes cria uma falsa sensação de que não estamos fazendo nada ou que nada pode ser feito, isso as vezes pode causar desânimo ou uma falsa impressão de que nossos esforços não trouxeram resultados.

Lançamos um LP e nunca conseguimos fazer um show ou uma turnê de lançamento.

Poniboy, SP 2009

Então acho que qualquer avaliação feita nesse momento é muito precipitada, isso cria, falando por mim, uma certa angústia, ansiedade, enfim, posso fazer uma lista aqui de distúrbios emocionais, mas sempre procuro pensar que qualquer avaliação sobre esse momento é muito efêmera. Ao mesmo tempo evito ficar pensando muito no futuro, então procuro trabalhar a divulgação da banda. Vamos lançar um novo vídeo semana que vem, vamos lançar uma live session no final de abril. Foco nesses lançamentos e procuro me manter conectado com as pessoas.

Acho importante, apesar de muito difícil, manter o mesmo tipo de conexão que se tinha antes com as pessoas.

Dudu (Oganpazan): Então me fala mais desse vídeo que será lançado, o que pode nos adiantar?

Rafa Crespo: O vídeo é da música “In Danger”, do nosso disco Emergency. Foi gravado durante uma live session que fizemos para um festival online chamado Caxias Music Festival, festival organizado pelo nosso amigo Amando Louder, que também é o criador da Plainsong.

Nós gravamos em setembro de 2020 na casa do Mário, montamos o estúdio na garagem da casa dele. Gravamos o áudio e as imagens com várias câmeras e depois mixamos e editamos tudo.

Para o vídeo de “In Danger” usamos mais recursos e colagens pra criar texturas, apesar de ser uma gravação totalmente ao vivo, deu uma cara de videoclipe.

Dudu (Oganpazan): E além desse lançamento já tem alguma coisa engatilhada para 2021 ou ainda é o momento de apenas trampar na divulgação do disco Emergency?

Rafa Crespo: Temos muitas ideia pra 2021. Fechamos uma parceria com o pessoal da Niá Núcleo, um coletivo de São Paulo, assim q a situação der uma melhorada pretendemos gravar novas composições no estúdio deles e usar essas músicas novas na criação de um espetáculo áudio visual, mas por enquanto fica muito difícil planejar e definir datas.

Dudu (Oganpazan): E sons Rafa, o que você costuma ouvir que poderia indicar para os leitores e leitoras?

Rafa Crespo: Hoje em dia tem algumas bandas aqui do Brasil que eu escuto bastante.

Herzegovina, 2019

Recomendo o disco novo da banda In Vênus de SP, chamado Sintoma, tem o Thee Dirty Rats que lançaram disco também pelo mesmo selo que a gente, Mandinga Records. Inês é Morta, outra banda bem legal de SP também, do sul tem o The Completers, o Turvo de Blumenau, a Conflito de Porto Alegre, o Astma metade SP metade BH, Jenni Sex, Felipe Nizuma, Ballet Clandestino, Tempos de Morte, Cancro que é uma pegada mais hardcore punk, tem uma lista bem grande.

Tem muitas bandas legais aqui no Brasil fazendo coisas novas e interessantes.

Tem o Cãos de Curitiba, O Duplo de SP, se deixar a lista vai longe.

Eu conheço pouca coisa que vem do nordeste. Conheço o Anum Preto e o Plastique Noir que já é uma banda bem conhecida.

Dudu (Oganpazan): Então, valeu mesmo pelo papo e gostaria de pedir para deixar um recado final para os leitores e leitoras aqui do site.

Rafa Crespo: Obrigado pelo espaço, espero q tudo isso passe logo, que as pessoas se cuidem e se protejam cada vez mais. Espero poder voltar a encontrar e aglomerar com o público, sentir e estar perto das pessoas de novo, viver novas experiências sem privações e restrições, acho que nada pode ou vai substituir essa experiência de estar presente, de fazer parte de algo, viver presencialmente a vida e não virtualmente. É isso que desejo pra todos nós.

Mais de Bolodoido Musical no Oganpazan: 

BOLODOIDO MUSICAL

Matérias Relacionadas

Kolx lança demotape Naufrágio na Crosta de Um Ser

admin
6 anos ago

Prince Áddamo E O Seu Disco De Estreia Viva O Natural(2015)!

admin
7 anos ago

A textura do nylon de Romero Lubambo

Guilherme Espir
3 anos ago
Sair da versão mobile