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Bob Dylan – Shadows In The Night

Depois de muito tempo ouvindo sons que não são meus contemporâneos, consegui assimilar algo que para este que vos escreve é primordial hoje em dia: Estar ciente dos acontecimentos de meu próprio espaço/tempo. É interessante notar como fui purista um dia e como estou muito mais ligado no futuro do que quando só ouvia Progressivo e sonhava com uma tour de reunião do Grobschnitt.
Hoje consegui atingir um equilíbrio e fico muito feliz com isso. Continuo explorando coisas antigas, longas discografias de músicos consagrados, hardeiras desconhecidas, mas também estou bastante atento com as novas bandas e creio que isso seja o ideal, sendo que sempre que possuo um intervalo embarco rumo a minha zona de conforto, meu habitat natural: Os mestres que mesmo idade avançada ainda gravam.
O Bob Dylan já fez de tudo, logo, sempre fui ouvir seus discos mais recentes de forma bastante livre, afinal de contas quero apenas ser surpreendido, pois em seus tempos áureos o Folk Man fez de tudo, E creio que com a chegada dos anos 2000 ele grava novos sons mais para ele mesmo do que para os outros, e é exatamente desta forma pessoal que gosto de ouvir sua música, uma prova simples de como, mesmo aos 73 anos ele ainda se reinventa.
E neste ano Bob voltou ao batente e surgiu com um disco que a primeira vista não me empolgou muito, falo de seu trigésimo sexto trabalho de estúdio, ”Shadows In The Night” (lançado dia 03 de fevereiro), uma deliciosa homenagem aos músicos que influenciaram uma das maiores mentes que o mundo da músico já criou.

Line Up:
Daniel Fornero (trompete)
Tony Garnier (baixo)
Larry G. Hall (trompete)
Dylan Hart (trompa)
Donnie Herron (pedal steel guitar)
Alan Kaplone (trombone)
Stu Kimball (guitarra)
Andrew Martin (trombone)
Joseph Meyer (trompa)
George Receli (percussão)
Charlei Sexton (guitarra)
Francisco Torres (trombone)

Track List:
”I’m A Fool To Want You” – Frank Sinatra/Jack Wolf/Joel Herron
”The Night We Called It A Day” – Matt Dennis/Tom Adair
”Stay With Me” – Jerome Moross/Carolyn Leigh
”Autumn Leaves” – Joseph Kosma/Jacques Prevert/Johnny Mercer
”Why Try To Change Me Now” – Cy Coleman/Joseph McCarthy
”Some Enchanted Evening” – Oscar Hammerstein II/Richard Rodgers
”Full Moon And Empty Arms” – Buddy Kaye/Ted Mossman/Sergel Rachmaninoff
”Where Are You” – Harold Adamson/Jimmy McHugh
”What’ll I Do” – Irving Berlin
”That Lucky Old Sun” – Haven Gillespie/Beasley Smith

Quando vi que Dylan lançaria um disco de covers confesso que fiquei bastante decepcionado. Desde que ”Tempest” (2012) saiu o nosso globo terrestre viu muitos acontecimentos marcantes e achei que toda essa vasta gama de mudanças iriam afetar e estimular e processo criativo de Bob, mas não, o judeu provou mais uma vez que é praticamente impossível prever algum de seus passos e veio com essa bolacha de covers e seus 35 minutos de rodopios no mesmo eixo.

Só que provando o efeito da boa música o americano ainda conseguiu me confortar com um Folk de excelente qualidade, algo próximo do que o canadense Neil Young fez com o lado orquestrado de seu seu último disco, o duplex Storytone. Em ”Shadows In The Night” temos um Dylan cantando no mesmo tom de seu sublime instrumental. Algo que é absolutamente válido destacar pois adequa sua voz dentro de um tom ainda oportuno sem nenhum exagero e com um ótimo jogo de cordas.

Toque que além de muito bem arranjado nos ajuda a evidenciar uma característica grandiosa de nosso poeta das palavras ao vento: Até cantando temas que não são de sua autoria sua voz consegue atrair os ouvintes… Dylan possui um magnetismo que beira algo místico, logo, não importa se ele canta temas consagrados de Sinatra como ”I’m A Fool To Want You”, ”The Night We Called It A Day” ou ”Stay With Me”, o importante é inferir que poucas vozes conseguem incoporar temas da mesma forma que esse já senhor fazia, faz e sempre fará.



Mais do que uma ode ao que formou seu caráter sonoro, creio que ”Shadows In The Night” seja um easy listening da melhor qualidade e uma prova concreta para um fato consumado: ”Autumn Leaves” pode até ser de  Joseph Kosma, ”Why Try To Change Me Now” surgiu com Cy Coleman e ”Some Enchanted Evening” veio ao mundo pela mente de Oscar Hammerstein II, mas quando Bob canta tais temas e os outros 4 que fecham o disco, creio que se o nome dos compositores não estivessem nos créditos que você pensaria que estas eram novas palavras de Dylan, tamanho o pertencimento de cada tema, e o respectivo aprendizado que cada nota de sua arte consegue propagar, mesmo em cover e relembrando que tais clássicos ficaram eternizados na voz do Hitmaker Sinatra.

Parabéns Bob, temos aqui um exemplar de rara beleza e qualidade, onde além do senhor provar que ainda é possível fazer música Pop de qualidade, o que vale é cantar o que se aprecia, e o seu sentimento com esses temas é grandioso, isso sem falar em toda sua tenacidade e coragem ao mexer em arranjos que ficaram eternizados na história da música americana. Belo trabalho.

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