A cena carioca sempre foi bastante aloprada pelos paulistas. Sempre achei isso bastante interessante, pois muitas falam que o Rio é a terra do pancadão, como se aqui em São Paulo não existisse um culto aos MC’s ostentadores de 3 neurônios e um boné de aba reta.
E volta e meia surgem grandes jams no território carioca, o problema delas é só a divulgação. Temos instituições que são bastante competentes, mas poucas delas conseguem visibilidade, em virtude da clara falta de foco que o underground recebe, mas que progressivamente vai elevando o status dos novos grooves nas camadas mais obscuras da sociedade.
Sendo que quem passa a peneira nessa massa, sempre encontra o fino da nova cena. Não existe pancadão que consiga abafar o caos que o quarteto carioca, Blind Horse, destila quando começa a operar o coquetel molotov de Blues, Hard, Psych, Funk e timbragens estonerizantes. ”In The Arms Of Road”, ótimo EP lançado no dia 20 de maio, é a união do que temos de melhor na cena de nossos brothers de região sudeste: Blind Horse no som, Estúdio Superfuzz como casulo deste groove caótico e Victor Bezerra, nome da mente que endossa a arte que essas notas pincelam no primeiro ouvinte (saco-de-pancada) desavisado.
Line Up:
Alejandro Sainz (vocal)
Rodrigo Blasquez (guitarra)
Eddie Asheton (baixo)
Maicon Martins (bateria)
Track List:
”In The Arms Of Road”
”Rainbows In The Dark”
”Curled”
São três temas. Pouco mais de 17 minutos de som e uma cozinha que alucina, nem tanto pelo fator de novas portas para sua mente, digo isso pelo sangue que pulsa mais quente e rapidamente quando a faixa título abre os trabalhos. O riff chega com aquele ar de Whisky Southern, a voz de Alejandro Sainz aparece com pinta Soul de volta para o futuro e depois que entra, os discípulos do Budgie começam a quebrar tudo.
Requintados com um Funk para evitar que a viagem fique quadrada, desde a batera até o grave que jamé se perde, sempre munidos de uma guitarra que demonstra rios de criatividade, este EP arquiteta uma bela larica de wah-wah com raíz em Blues. Culminando num dos melhores grupos nacionais dentre desse segmento empoeirado.
A banda arrebenta e o faz com aquele clima improvisando. No meio da primeira faixa temos aquele tradicional ”keep it down”, fruto dos mais ardentes Blues, momento que os caras fecham no esmero do som que um dia foi do Cactus. Revigora, dá um choque na espinha e aí tudo explode no groove jockey de ”Rainbows In The Dark”.
Lisergia analógica que urra em vocais excelentes e vai misturando o drink até espumar nos dez, fucking minutes de ”Curled”, tema que fecha e surpreende o ouvinte, mais até do que um assalto a mão armada. Mas espere, antes o quarteto finaliza com mais uma jam session.
Veja aqui mais um exemplo de linhagem Budgieniana. Agora é questão de honra, a bateria abre uma sessão de reboque, a guitarra brinca com o tempo e entra dilacerando, segura o grau puxando o Stoner debaixo do tapete e o baixo só nos embriaga, enquanto o tempo brinca de roletar os minutos enquanto tudo cai por terra.
Satélites, tabus, mais um break down na altura dos 3 e pouco e uma ala livre no acostamento, liberando mais 7 minutos de muita jam. Sempre cavernosa, arenosa, funkeada, requintadamente Soul, e Progressiva à força. Bancando uma suíte e várias Black Magic Woman’s de Black Power, ladies na função de enrolar sardolas na capota do Cadillac.
Que fita. Carioca sim, som da lata sempre e um resultado final que nos faz rir do que toca na AM da minha caranga esfumaçada. Ride On Brotha, esperem zunir a jam e recomecem, ou confundam-se, pois nem sei em que audição estamos, baby.