Black Sabbath, álbum homônimo de uma das bandas responsáveis por transformar a música do século XX, completa 53 anos hoje!
Explicar como quatro garotos – que pertenciam à classe trabalhadora inglesa numa cidade habitada em sua maior parte por operários, um deles dislexo, apalermado, todos autodidatas em seus respectivos instrumentos – seriam capazes de realizar este feito é querer defender se o ovo veio antes da galinha e vice versa? Não há o que explicar, até porque explicar isso acabaria com toda a magia em torno do álbum. As lendas criadas em torno do disco e da banda fazem parte do ser Black Sabbath. Isso vem junto com o pacote e ajuda a compor a percepção da própria sonoridade deste trabalho.
Acredito com a força da minha alma (sim, por causa desse álbum também acredito que tenho uma alma) que o álbum Black Sabbath veio ao mundo para salvar o rock. Redimi-lo da xaropisse que se tornara, graças ao desgaste criativo das bandas hippies. Tínhamos nessa onda já desgastada da contracultura a determinação do que era o rock. Clamavam-se pelo surgimento de uma antítese! Era preciso algo para rejuvenescer o rock, um som que o sacudisse e o levasse por outros caminhos. Black Sabbath fez isso. Deu uma dimensão sombria ao som, às letras, ao visual, que não havia até então. Fez murchar as flores do jardim flower power trazendo violência e caos para o rock. Alguns desses elementos até podem ser identificados separadamente nesta ou naquela banda, contudo reunidos em um só lugar, ocorrera apenas com o lançamento de Black Sabbath. Estes elementos foram combinados formando um novo estilo musical.
A reunião desses elementos gerou um novo subgênero do rock. Enquanto o álbum era digerido por público e crítica o som que era ouvido permanecia indefinido. Ninguém sabia que porra era aquela. A primeira definição atribuída ao som do Black Sabbath foi blues rock, aproximando a banda de outras, como Deep Purple e Led Zeppelin. Mas não havia qualquer semelhança entre a sonoridade da música do Black Sabbath e a sonoridade da música das outras bandas rotuladas como pertencentes ao subgênero blues rock.
Os riffs arrastados, terminados em vibrato, com distorções pesadas e sombrias são parte das músicas do primeiro álbum do Black Sabbath. Os solos econômicos no uso da quantidade de notas, primam pela intensidade e pelo desenvolvimento do que é apresentado pelos riffs. Andamentos mais lentos, intervalos longos de um e outro instrumento, melodia vocal lenta, linhas de baixo envenenadas de distorção, ingredientes para o que seria devidamente batizado tempos depois de heavy metal! Há ainda a composição da trindade sabbathica neste álbum: banda (Black Sabbath), álbum (Black Sabbath) e música (Black Sabbath).
Black Sabbath (a música) abre o álbum mostrando o quão sombria pode soar uma música. São 6 minutos e uns quebrados de idas e vindas de riffs de guitarra e linhas de baixo sinistras apoiando um vocal soando a lamentações de uma alma atormentada no quinto dos infernos. Esta música é a síntese perfeita do que é o Black Sabbath, tanto banda quanto álbum. O alinhamento estético com as representações simbólicas do “mal”, que fortalece mais a ideia de que o rock é coisa do diabo, tem nesta música toda sua expressão.
As pessoas deixaram de ver no rock uma música que desperta o mal nas pessoas. Com o som da banda de Birmigham as pessoas começaram a perceber como soa a música do mal. Se há uma música rolando no inferno, esta música é Black Sabbath. Ali o mal encarnou no som, tornando-se carne para nós, simples mortais. O mal não era mais um efeito da música, passou a ser a própria música. O mal não estava nas letras, mas no próprio som.
Black Sabbath (o álbum) é um marco na história da música do século XX. Revelou ao mundo uma sonoridade até então desconhecida, que levou músicos, fãs, roqueiros, pesquisadores e críticos a repensarem a música, repensarem o rock e buscar meios de definir o que estava sendo apresentado naquele disco. Um novo paradigma surgiu para o rock e obrigou toda comunidade a desenvolver meios de entender e absorver o que havia surgido.
Não são todos os motivos, mas os que estão aí listados já são suficientes para entendermos o porque de ser preciso comemorar os 53 anos de lançamento de Black Sabbath!!
-O dia em que o Black Sabbath veio ao mundo!
Por Carlos Inácio