O jazz nunca parou de se redefinir. Bitches Brew sem dúvida foi responsável por sua mudança mais radical!
Ouvir Bitches Brew pela primeira vez foi uma das experiências mais estranhas da minha vida! Aquilo não parecia com nada que ouvira até aquele momento. Toda referência musical que tivera até então e que havia construído meu senso estético relacionado à musica fora demolida, reduzida a pó. Dali em diante passei a perceber as infinitas possibilidades existentes para se fazer música. Aprendi que a música não se reduz a formas e regras definitivas. Sensibilidade, criatividade e ousadia, se combinadas, poderiam redefinir o modo da música se manifestar. Passei a conhecer o lado criador da música e a ausência de limites para aqueles que ousassem conceber o que ainda era inconcebível. Hoje fazem 90 anos que Miles Davis nasceu para mudar os rumos da música! Nada mais justo que falarmos deste álbum para não deixar a data passar em branco.
Salvo engano, até Bitches Brew o jazz era um gênero acústico, o único instrumento elétrico era a guitarra, porém sem explorar os efeitos de timbragem criados pelos músicos de rock. Havia aversão ao rock por parte dos músicos de jazz. Assim havia também uma aversão aos instrumentos elétricos e os recursos sonoros criados para diversificar a sonoridade destes mesmos instrumentos. Miles Davis eletrificou tudo em Bitches Brew, inclusive seu trompete. Ele reinventou o próprio instrumento, que havia possibilidade de soar de maneiras diferentes e cumprir diferentes funções dentro da música. Baixo eletríco, sintetizadores, clarone, timbres de guitarra temperados com múltiplos efeitos, percussão em abundância, tudo isso devidamente usado por Miles Davis.
Aos ouvidos dos leigos as músicas compostas para formar Bitches Brew parecem uma soma dispersa de sons, uma bagunça sem sentido. Existe uma ordem por detrás desse aparente caos sonoro. Cada nota “fora” do lugar, cada mudança de andamento, cada estrutura sonora disforme e estranha cumpria uma função, dada por uma mente extremamente inspirada, capaz de criar e recriar indefinidamente. As críticas pelos tradicionalistas foram pesadas, mas o território já estava exposto, pronto para ser explorado. O fato de formar a banda para o álbum com músicos jovens ajudou a disseminar essa nova tendência do jazz. O jovem Herbie Hancock que o diga. A partipação do tecladista/ pianista nas gravações do álbum insitaram a criatividade de Hancock. Seguiu os passos do mestre buscando inovar. Trouxe o funk e o soul para o jazz e lançou em 1973 um dos grandes álbuns de fusion de todos os tempos, o fantástico Head Hunters. Mas aí já é uma outra história.
Ficha Técnica:
Data de Lançamento: 30 de março de 1970
Gravação: 19 de agosto de 1969
Gênero: Jazz Fusion
Duração: 94:11 minutos
Selo: Columbia
Produtor: Teo Macero