Bikini Hunters em Rivotril Sensations (2019) Quatro anos após o bom álbum de estreia, os caras voltam a carga com a acidez característica!
Em 2015, nós tivemos o prazer de conhecer o trabalho da banda gaúcha de rock: Bikini Hunters. Naquela altura, os caras estavam no meio do lançamento de seu disco de estréia: Bikini Hunters (2015) e escrevemos sobre ele na época, aqui pro site; Um disco que transbordava a boa e velha energia do mais puro rock’n roll, despreocupado, ganchudo, escrachado e tutti quanti está na raiz desse gênero que amamos.
Um ano depois os caras soltaram um EP bem pesado, com as faixas: Garotas Vulgares e Gosto de Perigo, e novamente nós fomos acertados em cheio pela potência rocker dessa gaúchada boa!
Os caras não perderam a força, mais esses últimos três anos fizeram bem pra eles, pois aumentaram a potência de suas músicas em diversos níveis. Temáticamente a banda cresceu e também elaboraram mais o som, o que não significa de modo algum, qualquer verniz de intelectualidade ou qualqier viés mais “sério”.
Se tomarmos o próprio título do Ep, já poderíamos ir num bom caminho para enterdermos melhor o que aqui quero explicar. Um das potências da música do Bikini Hunters é exatamente o humor caústico, e trazer um EP nomeado como Rivotril Sensations (2019), é prova disso.
Sabemos o quanto hoje vivemos numa crise existencial que tem levado muitos a crises de ansiedade e depressão, com proporções epidêmicas. Tal problema tem sido tratado por alguns com a ingestão de medicamentos, receitados como possível óstia de salvação para toda a merda que vivemos.
Os caras da Bikini Hunters estão ligeiros quanto a isso, e sabem que não será inibindo farmacológicamente alguns neurotransmissores que vamos resolver as causas de nossos problemas mentais. Para tais problemas, a banda apresenta 4 pílulas que estimulam nossos corpos a enfrentar as causas dessa merda toda, ou pelo menos a pensar melhor sobre elas.
Em Sexo, Álcool e Confusão, faixa que abre o EP, o caras começam a todo vapor, afirmando um modo de vida livre, que não se ajusta aos padrões convencionais. Uma correria que “tropeça no próprio ser” ou seja, que não estagna-se nas rotinas que adoecem muitos hoje, comendo a pilha para “serem” de tal modo. Rindo das tragédias do cotidiano, buscando errar sempre, erros novos, erros melhores. Essa é a fórmula dessa primeira pílula!
Na segunda faixa, há uma excelente demonstração da simplicidade que a banda traz em seu receituário: “o tempo muda, as pessoas mudam, e você não percebe a importância de dizer o que se sente”. Boa parte de nossos problemas mentais estão relacionados a não estarmos atentos aos nosso processos subjetivos.
Artur Pirocca, vocal e guitarra, não precisou estudar a psicanálise de Freud e seus comparsas, para entender que falar sobre nossos sentimentos, é parte importante para combatermos tais problemas. A música que segue o esquema de balada, dentro do EP vai além das simples declarações. E é também uma excelente pílula, afinal (A)mar é importante.
A Bikini Hunters hoje é formada por Kelvin nas baquetas, Gui na guitarra e Lipe no baixo, além do Artur Pirocca, na guitarra e vocal. E em “Pode Me Usar” a banda posa de “couch” de consciência corporal, algo muito em moda hoje. Liberação sexual, auto conhecimento dos próprios desejos, abrir mão do amor romântico. Estamos na pista e como diria o bom e velho Nelson Rodrigues: “sem paixão não dá pra chupar nem um picolé”.
As quatro músicas presentes no EP estão divididas em uma porrada de abertura, duas mais leves no meio, e uma outra porrada no final. Talvez a grande declaração desse pequeno EP, sua verdade mais profunda esteja em “Eterno Perdedor”, que fecha o disco com chave de ouro.
A música analisa sem moralismos, mas tratando eticamente as tomadas de decisão que temos que ter diante das saídas “mais fáceis”, mentir nesse contexto é mentir pra si mesmo, e sendo assim, tornar-se aquilo que não se é. Não atoa, a arte utilizada na capa dessa música é um rosto dividido ao meio. Uma excelente reflexão sobre quais os caminhos devemos tomar para alcançar a tão almejada vitória que nossa sociedade religiosamente prega.
Um trabalho que precisa ser escutado, um EP com quatro faixas que promovem o bom e velho rock’n roll com verdade e de modo independente, diretamente de Veranopólis (RS). O EP foi produzido e gravado por Davi Pacote no estúdio Hill Valley. Escutem os caras também no Spotify, mas se os sintomas persistirem procurem ajuda especializada.