Beth Hart & o Soul Blueseado de Better Than Home

O Blues é um estilo que sempre é vítima de calúnias, mas que assim como um verdadeiro gentleman, fornece a resposta da melhor forma possível: com resultados. E num mundo onde as pessoas insistem em dizer que não existem grandes intérpretes, é sempre bom saber que grandes vozes e respectivas grandes mulheres habitam este plano para provar o contrário, não é mesmo Beth Hart?
Depois de anos arrebentando nos maiores festivais de Blues do planeta, finalmente a providência divina se fez presente na vida dessa grande cantora e agora seu vozeirão pode se concentrar apenas na música, retomando um caminho que, se não fosse pela heroína, seria ainda mais lindo do que já é, apesar de tantos problemas no caminho.

As drogas fizeram a musa Beth Hart perder contratos com labels de proporções globais da noite para o dia, algo que no ramo do business não tem negociação, se para chegar ao topo é uma verdadeira odisséia, para sair do fundo do poço e retomar o posto o trabalho é duas vezes mais complexo.

Mas é aí que está o grande lance, depois de anos com terapia e reabilitação, a americana percebeu que mesmo gostando muito de cantar, seu lugar não era no estrelato e isso fez muito bem para sua alma e, o mais importante, para sua música.

E depois que seu último disco junto do reverendo Bonamassa saiu, o sentimento da Beth em relação ao sucesso ganhou novos contornos, parou de ser algo que atormentava seus pensamentos e voltou a ser um reconhecimento que no fundo no fundo, ela sempre foi merecedora. O ótimo ”Seesaw” (2013) pode até ter perdido o Grammy de melhor disco de Blues, mas só pelo fato de ter sido indicada todo o mundo pode ter contato com o sentimento sem igual que essa mulher passa quando abre a boca, algo que não tem preço.

E esse ambiente positivo foi o background de um disco muito importante para sua carreira, algo único até o momento e absolutamente diferente de tudo que seu Blues mandava para os arpejos até ”Bang Bang Boom Boom”, seu último disco até então, belo trabalho datado de 2012.

Line Up:
Larry Campbell (violão/guitarra)
Angela Clemmons (vocal)
Mike Davis (trombone)
Charles Drayton (bateria/percussão)
Beth Hart (piano/vocal)
Aaron Heick (saxofone)
Zev Katz (baixo)
Jeff Kievit (trompete)
Rob Mathes (guitarra/violão/piano/teclados/arranjos)
Perry Montague (violino)
Nikki Richards (vocal)
Andy Snitzer (vocal)
Vaneese Thomas (vocal)
James ”D-Train” Williams (vocal)

Track List:
”Might As Well Smile”
”Tell ‘Em To Hold On”
”Tell Her You Belong To Me”
”Trouble”
”Better Than Home”
”St. Teresa”
”We’re Still Living In The City”
”The Mood That I’m In”
”Mechanical Heart”
”As Long As I Have A Song”
”Mama This One’s For You”

A cada novo disco todos seus fãs se surpreendem. ”Better Than Home” foi um trabalho que gerou bastante expectativa e que chega mais uma vez desconcertando crítica e fãs. Quem aprecia o trabalho dessa mulher conhece o poder de sua voz, todo o sex appeal e a potência de cordas vocais banhadas em Whisky barato. Mas toda essa tradição raiz e até mesmo pesada em certos momentos foi esquecida, o climão segue na base do Blues, mas a forma de passar os novos sermões faz apelo aos mestres do Soul.
São mais de 60 minutos de som e aqui uma nova Beth se apresenta ao público. O instrumental segue na linha de seus trabalhos com Bonamassa, logo, esse fator não é muito novo, o ”problema” é o approach que sua voz escolheu para passar os novos ensinamentos.
Depois de largar a produção de Kevin Shirley, produtor que assinou a carta de trabalho nos últimos três discos da moça, algo novo ganhou a oportunidade de ser explorado quando Michael Stevens e Rob Mathes chegaram para ajudar no direcionamento musical: uma renovada fé no lado de cantora e compositora dessa grande intérprete.
Assim como aconteceu no sentimental e positivo ”My Califórnia” (2010) a ambientação de ”Better Than Home” também se apóia no ”lado bom da vida”, explanando ideias com uma base instrumental bem requintada e classuda, enquanto a voz da musa segue como um lord inglês numa discussão: sempre provando seu ponto sem exaltações.
”Might As Well Smile” abre os trabalhos com aquele Soul classe A. Os metais, os backing vocals envenenando a ideia e a voz reinando absoluta nessa ode às grandes Ettas James chega com tudo… Parece até que vai enveredar num Funk, mas não, o feeling de ”Tell ‘Em To Hold On” aborta essa ideia com requintes de crueldade.

São baladas absolutamente sublimes, momentos lindos como ”Tell Her You Belong  To Me”, temas que mesmo pelo caminhar mais cadenciado do groove não perdem em vibração (como no caso da faixa título), fechando a conta com um arranjo de cordas magistral e linhas bastante cristalinas no piano.

Ouvi de algumas pessoas que o CD está meio ”paradão”, concordo com esse fato mas não achei isso ruim, as músicas são absolutamente sinceras, positivas e a anergia de todas essas proclamações precisava permear algo nessa linha.

O instrumental é absurdo, beira a perfeição e o feeling do mesmo ainda consegue fazer frente a voz da Beth Hart! E o lance é que mesmo numa linha mais calma a mulher não consegue segurar a vontade de ganhar a galera, ”Trouble” chega numa sede por big bands que é uma beleza. ”St Teresa” e ”We’re Still Living In The City” evocam o clássico mito de uma voz unida pela paixão de um piano, só que o groove invariavelmente chega junto, seja na dançante ”The Mood That I’m In” ou na melhor performance do disco, a belíssima ”Mechanical Heart”, que além de uma voz digna de baixar a pressão dos mais experientes, ainda nos brinda com uma letra realmente profunda.

Independente do som que você ouvir, do disco focar na voz da Blueseira ou do som sair na centrípeta de um Soul, o mais importante é esse sentimento que a música dessa mulher consegue passar para todos que a escutam. É impressionante como as notas são palpáveis, como ela tem sabedoria e como tudo que ela passou foi superado para que no fim das contas vire mensagens de apoio ou registros que apenas alegrem o ouvinte com aquele sorriso no canto da boca, os olhos fechados e uma paz que só os grandes conseguem propagar.

Esse trabalho merece um Grammy, não tenho nem dúvidas que será indicado e não importa o que ela faça, seja um cover de Led, um Blues chapante, uma balada, um soul ou um voz e violão, sua música é sempre apaixonante. Todas suas gravações oxigenam a vida e mostram desde o nome que o importante no fim do dia é a música, o mundo pode estar caindo mas ”As Long As I Have A Song” está tudo certo e aqui ficou mais que perfeito! Pra variar excelente, é fantástico acompanhar a carreira de nomes que cantam como se o mundo dependesse disso… Beth Hart, senhoras e senhores!

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