Na sexta-feira passada, dia 24 de abril, fui cedinho buscar três amigos no aeroporto de Salvador. Eles vinham de Minas fazer uma visita à capital baiana, cidade que tanto admiram. Foi só o trio mineiro botar os pés fora do avião pra cair o maior toró. Aí vocês já viram né. Chegamos em minha casa quase duas horas depois graças a vários engarrafamentos ao longo do percurso até o bairro do Barbalho.
Salvador é que nem o Cascão, não combina com água. Para espantar essa primeira impressão negativa da cidade sugeri que me acompanhassem ao Pelourinho para o show do ano, bom, ao menos para min seria o show do ano. Nós mineiros temos a fama de sermos desconfiados não é a toa viu. A rapaziada ironizou a enfase dada por mim ao show, mesmo sem terem ouvido nada da banda já foram dizendo que eu estava exagerando.
A banda em questão é a Baiana System, que aqui em Salvador está “estourada”, mas que lá pelas bandas do sul-sudeste do país ainda é um território a ser explorado. Isso mostra que em muitos aspectos estamos anos luz à frente deles. Pelo andar da carruagem, ou melhor, do trio elétrico, não vai demorar muito para eles saberem o que é que a Baiana tem.
Chegamos ao Pelourinho lá pelas 19 horas e fomos calibrar o cérebro no Bar do Cravinho. Compramos duas garrafas de jatobá e saímos bebendo em direção à Tereza Batista, praça onde o show iria rolar. O Terreiro de Jesus estava vazio, a chuva parecia ter espantado muita gente. Os amigos começaram a zoar comigo dizendo que não ia dar ninguém no show. Receoso eu disse que estava cedo e que o Terreiro de Jesus só fica cheio quando o show acontece lá.
Eis que fomos em direção à Tereza Batista e quando dobramos a esquina que dava pra rua onde fica a praça nos deparamos com o sinal de que ao menos cheio de gente o show da Baiana estaria. A rua da Tereza Batista foi o termômetro do que seria o show. Duas horas antes do horário divulgado para início do show e a rua da Tereza Batista já fervia de gente! A temperatura estava alta e iria aumentar ainda mais quando o som começasse a rolar.
Compramos os ingressos e fomos à Pedro Arcanjo dar uma olhada no Festival de Cantadores. Às 21:30 saímos e fomos pro show da Baiana. A fila pra entrar era gigantesca. Enquanto esperava comprei uma bebida muito exótica até mesmo para os padrões do Pelourinho. Era um geladinho de caipirinha, que aliás, recomendo pra quem aprecia um drink de qualidade. Comprei e fui sugando aquele troço, quando dei por mim estávamos diante do palco.
Rapaziada, não sei se foi o geladinho de caipirinha ou a energia que emanava do lugar, mas posso lhes garantir, baixou um trem muito doido em mim que eu saí dançando enlouquecidamente no meio da galera. E olha que era uma senhora galera viu. Gente pra caramba! Sabe aquela coisa do carnaval que a multidão se mistura tanto que fica parecendo uma massa homogênea, que não dá pra distinguir ninguém de ninguém?! Então, o cenário era esse aí!
A presença de palco da banda é algo fora do normal! Russo Passapusso manteve o público agitado durante todo o show, interagindo tanto com os músicos quanto com as pessoas que pulavam mais que milho de pipoca na panela. Fazendo as vezes de mestre de cerimônia, convocou dois ícones da música regional da Bahia para dar uma palinha com a banda, Bule Bule e Lourimbau. Bule com sua voz potente acompanhado por seu Pratto (abraço à China Azul!) que dialogava com a guitarra baiana de Robertinho Barreto, saudado pelo berimbau do mestre Lourim e animado pela voz de Passapusso!
A banda rende homenagem às suas raízes sonoras ao chamar ambos ao palco para tocarem juntos. Infelizmente não consigo me lembrar quais as músicas que Bule Bule e Lourimbau fizeram participação especial com a Baiana. Podia botar a culpa na idade, mas a verdade é que a combinação jatobá+cerveja+geladinho de caipirinha não ajudam em nada no fortalecimento da memória. Enfim, curti muito o show, dancei como há muito tempo não dançava, me diverti como nos velhos tempos e tudo isso por ter sido inflamado pelo som dessa banda, que sem dúvida está a frente (mas muito a frente) do que está sendo feito na maior parte do país.
Eu aqui falando de memória e deixei lá pra trás meus amigos né. Que coisa! Pois é, eles não ficaram tão inflamados quanto eu, pois o lampião só ascende se tiver querosene. Bom, mas ao modo deles curtiram o show e constataram que eu não havia exagerando nem um pouco nos meus relatos sobre o som da Baiana System. Realmente a memória tá ruim viu, dessa vez não dá pra jogar a culpa no geladinho de caipirinha, talvez seja a xícara de café que acabei de tomar.
A Baiana System tocou – sem sacanagem – mais de duas horas sem parar. Falei: coisa de carnaval mesmo. Galera alucinada do início ao fim e bem antes disso, lá pela metade do show, começaram a pedir o hit supremo da banda: Playsom. Passapusso brincou com o público fingindo não saber do que se tratava e seguiu com o show até que veio o momento apoteótico. Quando a galera reconheceu o início da música a casa veio abaixo!! O fogo queimou até o talo, sobraram apenas as cinzas! Que loucura foi aquilo! Fora de série, parecia Katmandu, mas era o Pelourinho, parecia um terremoto, mas era o show da Baiana System.
Confira abaixo o clipe oficial de Playsom.