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ÀTTØØXXÁ chega em seu terceiro disco LUVBOX (2018)

ÀTTØØXXÁ chega em seu terceiro disco LUVBOX (2018), tão quente quanto os outros, mas aumenta o nível das skills! Leia nossa resenha sobre !!!

Por Simone Almeida Souza

 

Até pela própria natureza do grupo, que tem como berço a pista, existe uma premissa em que é possível visualizar (de forma carnal, mesmo) todo o groove que pode se extrair daquele clima. Desde o primeiro disco a lei é exatamente fazer meter dança, e com #LUVBOX não seria diferente, mas tem um molho a mais.

Existe uma lógica de apresentação dos integrantes através dos álbuns e este põe as composições de Raoni e suas fontes à frente, a começar com a capa que conta com ele desenhado por Iolanda Guimarães Bomfim e Théo Charles, que finaliza com uma espécie de outrun retrofuturista tropical que é do meu agrado.

Com temas românticos, o álbum se sustenta também com essas referências de arranjo principalmente vocal, navegando em diversas fontes que se conectam e fazem do álbum um produto bastante coerente. A música de abertura te leva para a atmosfera de synths e drum machines oitentistas  já referenciada na capa, ao mesmo passo em que existe um clima praiano em evidência (parece que cê tá passeando pela orla da cidade à noite de carro…). Esse movimento nos faz passar pela ponte do pagode mesclando ao mesmo tempo a percussão baiana, uma cadência marcada e voz com apelo semelhante ao do pagode do sudeste dos anos 90.

Este gênero musical que chegou em massa e virou sensação via rádio e programas de tevê de domingo em que grupos como Katinguelê, Os Travessos, ou Art Popular contracenavam com algum(a) dos integrantes do É o tchan! ou Cia do Pagode e os gêmeos Flávio e Gustavo; além de vários cantores em destaque nacional como Belo e o inenarrável Alexandre Pires, uma das maiores referências de gogó do pagode / partido alto.

São estes alguns dos afluentes que conectam #LUVBOX a ser um álbum de relevância do NeoSoul (NeoDisco) brasileiro de 2018 por explorar situações que ainda não haviam encontrado possibilidade e lugar dentro desta linha que, aliás, é o grande trend da década. Trend que se justifica por trazer um apanhado das origens da soul music, mãe estadunidense dos mais diversos encaminhamentos da música negra dos anos 60 até os dias de hoje.

Uma história que começou a formar Stars e garantiu uma continuidade desse legado, virando fonte e ganhando expoentes no mundo inteiro (não à toa ser dos EUA) através dos meios de comunicação de massa. Legado responsável pelo lançamento de verdadeiros hit$ como a gravadora Motown (em dezenas, os quais diversos estiveram em #1 da Billboard). Uma derivação de sucesso do R&B, pois tão logo o rock’n’roll começou a agradar já foi caindo nas mãos da apropriação cultural sendo que o blues, matriz de tudo, chegou até a ser considerado algo demoníaco – vide Robert Johnson e as histórias de que ele fez pacto com o diabo na década de 30 – o racismo e sua desumanização.

A partir não mais somente do lamento dos cânticos das fazendas de algodão, mas da necessidade de pôr batida àquelas cordas e o corpo pra dançar,  o rhythm & blues foi se mostrando cada vez mais poderoso e descambando em novos gêneros nessa base; inclusive, eu acho uma nomenclatura tão genérica que evito utilizar porque você nunca sabe em que ponto está se não houver uma contextualização.

Apesar de que, hoje em dia este termo remete à linha das produções extremamente pop com batidas de hip hop com temática de amor & sofrimento que também tem a ver com o já mencionado pagode noventista mais concentrado no eixo sul, momento em que a cena do samba/pagode/pagodão/groove arrastado também já vinha crescendo aqui,  que formou incontáveis grupos, hoje quase todos extintos.

Votlando ao LUVBOX (2018), a segunda faixa “Caixa postal” já é um hit absoluto em qualquer pico de Salvador (e não só); ganha simpatia com frases engraçadinhas (uma constante no disco) como: “desde aquele dia / que me deu o número na fila / ficou mais difícil sem tua companhia”. A feixa tem clipe gravado por Rafael Ramos e Bruno Zambelli, que colocamos aí topo. Foi o segundo single do disco, sendo o primeiro “É sim, de verdade!”, dando a real da proposta do novo trabalho.

https://www.youtube.com/watch?v=QweRJmeJd1Y

Ao decorrer do álbum nota-se que o som desenvolvido pelo ATTOOXXA só vai ficando mais pra frente, conectado com sonoridades e estéticas das últimas novidades do cenário global que se correlacionam não só na música, mas no design.

Ligadin” é uma das melhores composições, uma pena que aquele sample rítmico com a voz de Rincon Sapiência ficou irritante! Rincon, que inclusive participa de uma das faixas do disco, “Só vem”, no melhor estilo “uma noite pra zuar em Salvador”, a mais tropicaliente, que contrasta com a vibe mais pesada da também noturna “Gostei”, que tem uma onda de subs e efeitos que puta que pariu! A canção usa bem do minimalismo pra manter a chama do groove acesa.

Em “Ladraum” a temática permanece no luvstyle mas tem mais a cara do disco anterior e da apresentação ao vivo, faria hit na fórmula “elas gostam – popa da bunda” fácil. 

Falando em trabalho anterior, interessante observar que o ÀTTØØXXÁ chega bem em amadurecimento, no sentido de procurar os próprios timbres, referências e tem o estilo muito mais bem lapidado. Movimento que leva-os a deixar de serem enquadrados eternamente no bahia bass, pagotrap ou o que seja.

Pois é preciso entender que essas classificações provêm de formatos gringos de música eletrônica que fazem uma conexão entre estilos/regionais no mundo globalizado e levam novas possibilidades para esses universos. Algo que foi frutifero para a música baiana quando selos gringos começaram a lançar as produções eletrônicas daqui junto ao global bass; mas o grave brasileiro é muito mais!

E esse clima mais NeoSoul traz uma cara mais orgânica e fluente, menos preso à uma forma mas à fonte referente. É justo que se tire um pouco desse peso pra que elementos mais groovados trabalhem melhor as texturas, até as variações da percussão baiana estão bastante diversificadas; adicionado ao minimalismo que entra em cena fazendo o corpo dançar sem o apelo de uma presença forte do elemento que marca a clave, mas com uma riqueza e complexidade maior nos arranjos para que ela se mostre presente.

Protetor solar” é o melhor arranjo do álbum, e uma das minhas preferidas, junto com “Gostei”. Mole foi não ter feito clipe ainda no ano passado; internationely. Um problema que constato é o fato da voz de Raoni ter que se sobressair tantas vezes que pode ocasionar um certo cansaço ao ouvir mais pro final “Nóx [Itapuã]”, que é o ponto mais clichê, de fato, da coisa toda; Ainda assim, caracteriza uma música com experimentos interessantes a serem observados em algum outro momento…  

E, apesar de Raoni ser um cantor que segura o tranco, as melodias têm uma dificuldade ao vivo, pois colocar efeitos, emendar, dobrar embelezam, mas não sana o fato de que a voz ainda necessita de maior apoio para melhor sustentação… Termina amornando o clima com dois feats sucessivos, “Desapega” com Mc Supremo e Nessa, com uma mensagem positiva em clima de epílogo, com direito a refrão repetindo o tema “luvbox, luvbox” pros mais de 7 bilhões de corações batendo…

A impressão que fica em todo o álbum é um cheiro forte e doce de música pop. E daí vem uma discussão imensa… O que é música pop? Como assim música pop? Música ruim? Pop de qualidade? Quê? …. É justamente sobre o que eu falei durante todo o texto: o massificado.

A música que vem aos montes, pelas rádios, comerciais, em tudo quanto é trend midiático! Não quer dizer que é ruim, mas existe uma premissa da indu$tria fonográfica que faz com que a música que chega no ouvido das pessoas seja muitas vezes descartável… Pensando em música independente o bagulho é muito mais difícil de virar, porque só de pensar no aparato tecnológico que falta, além do atraso nesse quesito em que nosso país se encontra…

Sem essa de boa ou ruim, eu permaneço enxergando música como algo que ou você gosta, ou tem preconceito, ou não gosta por mero desagrado pessoal ou então pode ser de boa ou má qualidade. Existem vários fatores a se colocar na balança para que se classifique esse tipo de coisa, e ainda assim é algo muito subjetivo.

Taxar de uma coisa ou de outra não é o que importa aqui, mas sim o que tem de valoroso em trabalhos como esse, que recebe influências de raízes ancestrais e das mais futuristas, em busca de passar uma mensagem positiva e mudar mentes, além de ser produção independente com ótimos resultados. E é sim, de verdade!

Ficha Técnica:

Artista – ÀTTØØXXÁ

Oz – Voz

Raoni -Voz

Chibatinha – Guitarras

Rafa Dias – Synths e Beats

Produção Executiva: Manu Buena e Alex Pinto

Feats – MC Supremo, Rincon Sapiência e Nessa

Gravação e Mixagem – Studio Rafa Dias – Salvador/BA

Edição: Rafa Dias

Masterização – Rafa Dias

Produção Musical – ÀTTØØXXÁ

Produtor Fonográfico – ÀTTØØXXÁ

Ilustração: Iolanda Guimarães Bomfim e Théo Charles

Direção de arte: Bruno Zambelli

Direção Executiva: Manu Buena

Manager: Alex Pinto

Coordenação de Comunicação: Aline Valadares (Das Águas)

Assessoria de Imprensa Nacional: Carol Pascoal (Trovoa)

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