Astralplane, banda baiana chega agora com um disco cheio, Rendevout, dois anos após Pales Tantral, mudanças no som da banda são bem audíveis.
Aconteceu com o disco Rendevout e talvez não seja só comigo, algo que tem se tornado difícil nos últimos tempos. Assim que vi o lançamento, dei o play e o disco correu macio por horas no repeat, porém não parou por aí. Depois de alguns dias ouvindo, me ocorreu de procurar o Ep Pales Astral (2015) para escutar também e ver como a banda progrediu ou não. E eis que o fenômeno se repetiu. Mentes maldosas dirão que é talvez o fato de que os discos por suas sonoridades etéreas, são excelentes músicas de fundo. mas não foi esse o motivo… ou talvez seja.
Um primeiro fato a se destacar é a guinada musical que os rapazes do Astralplane deram, do seu primeiro Ep Pales Tantral (2016) para esse disco cheio. A sonoridade da banda deu uma guinada de quase 360º em direção a algum tipo de brasilidade que esta longe de ser ufanista. Em seu primeiro Ep, os caras prezavam por um som mais derivativo, aproximando-se de um Tame Impala do Innerspeaker por exemplo, em Rendevout as coisas mudaram. Ali, nesse inicio de caminhada a banda já se provava detentora de excelentes músicos e compositores, Lucas Pereira (voz e guitarra), Sávio Magalhães (guitarra), Rodrigo Amorim (baixo) e Gabriel Sanches (bateria), formam a Astralplane.
Composições com melodias muito bem apuradas, construções psicodélicas longe dos clichês comuns, algum toquezinho sutil de progressivo, letras em inglês e uma cozinha segura apoiando todas as viagens. Pales Tantral é ganchudo em sua calma aparente de composições evocativas como Cosmic Shine, quando aumentava o ritmo e o deixava mais forte: Show Me The Way. Diversificado e espancando os instrumentos como em “Shadows“, ou demonstrando a versatilidade rítmica na instrumental Antimonotony. Enfim, a banda estreava literalmente mostrando a que veio e o Ep alcançou ouvidos atentos lhes rendendo convites para tocar em festivais país a fora.
Lucas de voz calma conduz os vocais por entre os diversos ritmos utilizados com maestria, entoando com clareza e na maior parte do tempo com doçura as bonitas composições da banda. Precisamos destacar o baixo pulsante de Rodrigo Amorim que em Pales Tantral e aqui em Redenvout se destacam em linhas seguras e fortes, como em “Perigo”. A coesão da banda não deveria nos permitir destaques, porém a gravação consegue manter todos os instrumentos no mesmo nível, o que termina por destaca-los cada qual em suas qualidades. Gabriel Sanches por exemplo, dá um show ao alternar sutileza e força em seus ataques, segurando a onda tranquilamente em músicas com várias alterações de andamento, como em “Astral” e “Redevoar”.
Orí foi escolhida como primeiro single e ganhou um bonito clipe com direção de Rafael Galvão. Música que evoca um sambinha com um letra bonita refletindo a busca de nós seres humanos em constante luta para entendermos o mundo que nos circunda. Referenciando-se em um termo do candomblé, o Orí que possui múltiplos significados desde inteligência até a nossa alma perecível. A música e o clipe propõem uma gama interessante de signos, como a ancestralidade dos Orixás, Yemanjá é citada na letra, até a apreciação da natureza e da amizade.
https://www.youtube.com/watch?v=MFyts_hbAB8&spfreload=10
O disco é recheado de boas composições em suas nove faixas e 28 minutos de duração, curto porém intenso. Nosso destaque pessoal fica com “Sol” que seria para nós a faixa que melhor emula – se tivéssemos que escolher uma – o que é esse novo som da Astralplane. Música pra cima, mantendo a calma que o disco transmite, com um excelente trabalho de guitarra e solinho inspirado do Sávio Magalhães com pitadinhas de jazz. Uma deliciosa ode a vida, tomando do astro rei emprestado sua luz e calor, propiciadores da nossa existência.
Baixe aqui o disco.