Na estreia da coluna das Minas que Fortalecem aqui no Oganpagan, Sioux Costa apresenta a iniciativa e traz uma playlist que reúne bandas da cena alternativa baiana.
2020. Pandemia. Clima de apocalipse. No isolamento inédito para esta geração, bastante tempo para refletir, sentir saudade das amizades e rever conceitos. O vírus se espalhava pelo globo e o Brasil seguia passando raiva e vergonha com o desgoverno genocida. Muitas vidas perdidas.
A vontade de escrever novas canções e a disposição para ser otimista praticamente desapareceram.
Meses de notícias ruins, o ano acabando e a energia em baixa. Nesse cenário, começavam a surgir as ideias da iniciativa que agora toma forma, no anseio de conexão com as histórias de mulheres que encontraram no universo alternativo um lugar para expressar ideias e sentimentos; naquelas que de maneira consciente ou instintiva viram no underground um espaço para ser e estar. Essas minas que passavam e nem sempre trocavam uma ideia, ou que se tornaram irmãs para toda a vida. Todas elas. Na reclusão da pandemia, mentalizava suas presenças nos diferentes lugares que frequentei ao longo de décadas. Lembrava que elas existem e resistem.
As ideias foram verbalizadas e acolhidas por outras mulheres. Era o início do diálogo que precedia a ação.
Começamos a pensar nos caminhos para resgatar histórias. “Dar voz” é um termo pedante, pois sugere que mulheres não falam por si mesmas. Mas, enquanto uma banda “feminina” ou “com mulher” tiver esses marcadores de gênero que, de forma sutil, costumam disfarçar uma série de desigualdades, teremos de lançar mão de mecanismos que tragam visibilidade para as produções artísticas de mulheres cis e trans.
À medida que o diálogo avançava, surgiu a urgência de conectar, ainda que virtualmente, mulheres de todos os tempos, com pensamentos próprios, realidades únicas e que têm em comum a presença no underground baiano. Era por demais animador buscar inspiração nas minas que cantam, tocam, produzem, escrevem e consomem a cultura alternativa. Simultaneamente, crescia a necessidade de provocar discussões sobre temas que impactam a vida da coletividade, numa construção em movimento.
Vontades, convites, conversas. As mulheres se conectam. Uma que encontrou algumas, poucas que agora são muitas. Se forem todes, melhor ainda. Mais do que nunca, temos certeza de que queremos ser e estar entre as minas que fortalecem.
Este texto marca a estreia da coluna das Minas que Fortalecem aqui no Organpazan. Não temos palavras para agradecer à equipe editorial deste site pelo convite, mas faremos o nosso melhor para aproveitar o espaço e promover a produção feminina no cenário alternativo, com destaque para os trabalhos das manas baianas.
E, para não ficarmos apenas na conversa, convidamos você a aumentar o som e curtir esta playlist quentíssima com bandas locais que possuem ao menos uma mulher na formação 😉
Para conhecer mais sobre as Minas que Fortalecem assistam as lives produzidas pelo coletivo que podem ser acessadas clicando nos links abaixo:
Minas que Fortalecem Ep 2. Violências Contra Mulheres
Leia também a coluna Power Girls de Déia Marinho: