Arturo Sandoval e o poder da música Afrocubana na Sala São Paulo

Uma das maiores referência do trompete mundial, Arturo Sandoval liderou espetáculo da série “Música Pela Cura”, um dos concerto internacionais promovidos pela Tucca.

O multi instrumentista Arturo Sandoval ajudou a modernizar a música cubana. Figura chave do movimento Afrocubano que influenciaria e muito os caminhos do chamado “Latin Jazz” – principalmente nos anos 70 – o também percussionista e pianista gravou ao lado de figuras fundamentais do Jazz norte americano, influenciando até os caminhos do Bebop.

Para começar a contar essa história, no entanto, é necessário falar sobre o trabalho pioneiro do trompetista na Orquestra de Música Cubana, projeto fundado em 1967. Foi à partir deste grupo que 3 expoentes cubanos, o pianista Chucho Valdés, o clarinetista e saxofonista Paquito D’Rivera e o próprio Arturo, fundaram o Irakere, cerca de 6 anos depois, em 1973.

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Foto: Ali Karakas

Esse grupo foi importantíssimo historicamente, pois possibilitou que os músicos fizessem gravações e turnês internacionais, com aprovação do governo de Fidel Castro, é claro. No entanto, ainda que de forma esporádica, esses músicos tiveram um contato maior com os instrumentistas norte americanos e um exemplo disso é o encontro entre o trompetista Dizzy Gillespie e o saxofonista Stan Getz, que visitaram o país em 1977 e se impressionaram com a sonoridade do grupo cubano. Fundindo elementos da música clássica cubana, com a influência da improvisação do Jazz, além de subgêneros da música dançante local, como o Timba e a Rumba, o grupo criou uma sonoridade única, vigorosa e extremamente avançada para a época.

Com uma banda de 10 peças, a parede sonora do grupo que ainda contava com o trompetista Jorge Verona, o guitarrista Carlos Emilio Morales e o saxofonista Carlos Averhoff, se transformou na maior banda do país. Com gravações para diversos dos selos mais tradicionais do Jazz, como Columbia, Milestone e Blue Note, por exemplo, o grupo serviu de trampolim para expor o trabalho desses músicos para fora dos limites de Cuba, catapultando a carreira internacional dos líderes do projeto.

Vale lembrar que em 1980 Paquito conseguiu fugir do regime. Arturo conseguiu fazer isso na década de 90 – depois de arquitetar o plano junto de Dizzy Gillespie, seu mentor. Na década de 90, já plenamente instalado nos Estados Unidos e bastante inserido na cena de clubes, o trompetista gravou diversos discos interessantes para o selo GRP.

Com inacreditáveis 60 anos de experiência tocando trompete, o cubano de 72 continua a excursionar ao redor do mundo até hoje e seu alcance no trompete parece desafiar a sua própria idade.

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Foto: Ali Karakas

Com um som gigante, capaz de tomar conta da sala São Paulo em pouquíssimos segundos, o sarcástico e bem humorado Arturo Sandoval fez um grande show na Sala São Paulo, acompanhado por um sexteto de notáveis – formado por Maxwell Haymer (piano), William Brahm (guitarra), Mike Tucker (saxofone), Maximilian Gerl (baixo), Mark Walker (bateria) e Daniel Feldman (percussão) – o grupo fez um show com quase 2 horas de duração, quase 3 anos depois da última passagem do Cubano pelo Brasil, em 2019, como parte do line up do SESC Jazz.

Com um set list bem equilibrado, com espaços para versões de standards como “Smile”, famosa na voz de Nat King Cole – com voz do próprio Arturo – o grupo fez versões que mostram o poder da síncope do Jazz, aliado às quebras de ritmo da música cubana, um exemplo disso foi o mea culpa de “Cherokee“, outro standard do Jazz. 

O sexteto de Arturo merece menção honrosa, o baterista fez um trabalho de condução extremamente seguro, mas sem excessos, tocando apenas o que a música precisava. O pianista  Maxwell Haymer mostrou grande repertório e liderava o grupo em diversos momentos, sempre seguido de perto pelo baixista Maximilian Gerl e seu vasto estoque de linhas de walking no baixo.

O saxofonista Mike Tucker faz uma dobradinha muito bonita com Arturo nos metais e mostrou grande capacidade de improvisação, enquanto William Brahm mostrou grande habilidade como solista e o percussionista Daniel Feldman acompanhou todo esse bonde.

Foi um show muito bonito e que mostrou um grupo tocando com um entrosamento quase telepático, Arturo impressiona pela vitalidade e bom humor. Sua perícia para tocar baladas ainda continua irretocável e julgando pelo show realizado em São Paulo, acredito que o público brasileiro terá outras oportunidades para prestigiar a lenda ao vivo no futuro.

É até difícil descrever a sensação de escutar Funky Cha-Cha ao vivo. Composição do disco “Hot Sauce“, lançado em 1998, esse clássico do cancioneiro de Arturo foi tocado com tanta pressão e swing que no final do show a plateia estava de pé. 16 de agosto de 2022, um dia para ficar na memória.

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