Arielly Oliveira é uma rainha em Alagoas, com um trabalho que vem chamando a atenção por sua carga de combatividade e sua fina qualidade!!!!
A rapper alagoana Arielly Oliveira vem construindo uma carreira linda, após o fim do seu grupo Biografia Rap. Com um disco, Negra Soul lançado em 2016, onde ela tratava de questões de extrema relevância como o sofrimento das mulheres negras, a violência que afligem as nossas quebradas, os problemas das drogas que afetam as favelas brasileiras. Dona de uma voz exuberante capaz de transitar tranquilamente da rima à melodia e flertar com diversos estilos musicais. Arielly resolveu temperar suas canções com o soul, gênero da black music norte-americana trazido nos anos 70 para a música brasileira pelo mestre Tim Maia. E nesse caldeirão ela prepara sempre músicas que aliam as dores cotidianas ao vocal melodioso e sensual da soul music sem perder de vista o flow, sempre certeiro.
O ano de 2017 foi um importante para a cantora e rapper firma sua carreira solo com muitos shows em sua região. Ainda esse ano, Arielly trouxe a luz dois novos singles Nostalgia‘s e Lamúrias, que recebeu excelente clipe das mãos de Caio Bruno, e que ilustra o começo da matéria.
Pra fechar o ano de trabalhos inéditos, Arielly Oliveira se uniu a Caio Bruno, realizador que vem se configurando como o responsável pela identidade visual da artista para lançar o clipe de Ela, single lançado ainda em 2016. No excelente videoclipe, a música que foi escrita sob a ótica dos problemas das “mulheres” encontra transversalmente, no roteiro escrito por Caio Bruno, outras tantas mulheres e seus problemas comuns. “Elas” aqui se unem sob uma bandeira só: a do reconhecimento e da luta pela igualdade dentro de uma sociedade machista e homofóbica
Quando esses mesmos machistas homofóbicos querem humilhar homossexuais, referem-se a estes como mulherzinhas, ou mesmo como Êla, no caso dos travestis e transexuais. O que nos coloca diretamente sob a ótica dos problemas de gênero, algo tão em voga hoje em nosso país que trouxe nos últimos anos sua face mais obscura.
Contra esse estado de coisas, Arielly Oliveira fecha o ano com um lançamento inédito no rap nacional, o roteiro assinado por Caio Bruno dialogando com a poesia da artista e sobretudo a realização do clipe, perpetrou uma obra prima. A linda fotografia em preto e branco, consegue aqui evidenciar boa parte das mazelas que afligem a população LGBT no dia a dia. Falta de oportunidades de trabalho, discriminação cotidiana nas ruas, violências sem fim que não raro agridem-lhes o corpo físico, depois de a todo custo e pelos caminhos mais torpes tirar-lhes a dignidade. Processos múltiplos que partem muitas das vezes das “famílias de bem” até as altas esferas da politica nacional. Impedindo a criação de politicas públicas de auxilio a essa população.
Diante de tudo isso, batemos um papo com a artista para saber um pouco mais sobre a construção dessa obra de arte e sobre os seus planos para 2018
Oganpazan – Arielly, o que te levou a escrever o single Ela?
Arielly Oliveira – Ano passado fui convidada para um curta metragem, onde eu faria o papel de uma mulher que sofria uma perseguição e seria estuprada, e logo fui convidada a fazer a trilha sonora do filme. Dai construí a música a partir de meus medos e traumas. A música não foi aceita, porque tinha a parte rimada. eu sabia que essa poesia não poderia ser descartada, sabia que outras mulheres também precisavam ouvir e então decidi gravar e lançar como um single. A ideia do curta infelizmente se rompeu.
Oganpazan – Como surgiu a oportunidade de gravar o clipe dela, e porque uma das músicas do excelente Negra Soul(2016) não foi escolhida?
Arielly Oliveira – Quando gravei a música eu tinha pensado em fazer um clipe, mas teve um pouco de dificuldade e logo depois apareceu a ideia de fazer o clipe da música “Lamúrias”. Assim deixamos de lado a ideia do clipe pra ELA. mas já tinha gravado um clipe de uma das músicas do Negra Soul. A música é “Um pouco de paz” pois era a única que tinha o beat original e foi meu primeiro videoclipe com o Caio Bruno. Depois de dois clipes lançados, retornei à ideia do clipe de Ela e dei um roteiro bem diferente do que foi lançado. Um certo dia Caio me retornou com esse roteiro maravilhoso
Oganpazan – No roteiro do Caio Bruno há um excelente dialogo entre a luta Feminista e as pautas das transexuais e travestis. Como você entende essa transversalidade?
Arielly Oliveira – Ao mesmo tempo que é distante, ela se torna muito próxima, a luta transexual, a luta das travestis, a luta da mulher, é uma luta pelo seu espaço, respeito como “Ela”, como mulher e a quero como uma mulher livre diante dessa sociedade machista. Nós morremos todos os dias. Eu não tinha esse ponto de vista, Depois do clipe consegui pensar a respeito, a aceitar, as respeitar, unir essa luta à minha, meus olhos nunca enxergaram como doença, mas me sentia uma pessoa distante nessa luta
Oganpazan – No clipe de Ela, uma mulher trans é quem encarna a personagem principal, quem é essa atriz e qual a importância dessa visibilidade?
Arielly Oliveira – A partir de uma conversa com Caio sobre a ideia de colocar uma trans no papel principal do clip, a gente chegou em um ponto de vista que vem do princípio do feminismo que é a igualdade dos sexos, (diferente do que algumas pessoas pensam, o feminismo não é apenas contra os homens, é sim uma luta contra o machismo. O feminismo também não é a busca por uma superioridade do sexo feminino), e muitas das vezes a identidade de gênero é esquecida nessa luta, mas a ideia não foi de forma alguma confrontar o feminismo, longe disso, foi dá voz e notoriedade a uma minoria que é lembrada apenas quando acontece uma tragédia ou em piadas.
Mostrar a dificuldade da vida de uma trans seja para conseguir entrar no mercado de trabalho ou por onde passa, e principalmente de mostrar que o ser humano é capaz de matar sem levantar uma arma, mas com seus preconceitos e atos de repugnância com as pessoas que predeterminamos ser inferior a nós mesmos. Então os assassinatos da comunidade LGBT tornasse muito maior que as estatísticas apresentadas no clip
Eu não conhecia a Thessy Kelly, mas já temos contato uma com a outra e ela assim como eu, ficou muito feliz com o resultado do clipe. Ela é maravilhosa e passa de verdade por cima das dificuldade de ser Trans.
Oganpazan – E agora, quais são os próximos planos? Teremos lançamentos ainda em 2018? E 2019 o que você está planejando?
Arielly Oliveira – Estou construindo um disco com mais ou menos 12 faixas e já estamos com 8 músicas gravadas e arquivadas, será lançado em algum mês de 2018. Tá ficando lindo e estamos planejando mais uma clipe de uma das músicas que vai estar neste disco de 2018. Além disso tenho alguns planos que ainda são confidenciais rss, tipo Arielly Oliveira com banda? Já pensou? Quem sabe? Esse disco que vou lançar será um passo a frente, um amadurecimento muito grande
Pois é, pelo visto, podemos esperar muito pra 2018 de nossa querida Arielly e de sua arte combativa
Arielly Oliveira nas redes sociais
Instagram: @ariellyatitude10
Agora vamos deixar de conversa e dar o play?
Ficha Técnica:
Direção: Caio Bruno
Assistentes de direção: Emilian Correia
Elenco: Thessy Kelly, William, Viviane Duarte, Kinho, Luis Brandon, Luis Kennedy
Figurino: Luh Turbante e Arielly Oliveira
Maquiagem: Nayara Canuto e Emilian Correia
Assistência Técnica: Flávio Henrique