Ares, o Alef, estréia carreira solo com a DEMO KANN (2020) em que o rapper Underista revela mais de si mesmo, conheça
O projeto tem beats de Bruno Batista (Nobru), com direção musical dele e de Alef, mixagem e masterização por Faustino Beats, rapper, produtor e um dos fundadores da Bonken Music. A DEMO ainda traz a participação da artista visual, cantora e videomaker, Wadjla “Absurdo” Twany.
Segundo Ares, esta equação como K=a.אⁿ, onde K, coeficiente de capital, é igual a a, podendo este ser um número qualquer, vezes א (Alef), que representa grupos de números cardinais transfinito, por sua vez, infinito. Além da própria palavra KANN, significar “PODE”, em Alemão.
Quebre a cabeça, mas pegue a visão sobre a proposta que Alef apresenta. É um trampo curto, para ouvir com calma e para entender os pensamentos de um preto em constante evolução. Na “Intro”, temos um áudio de um diálogo com Nobru. Explica, ainda, o termo “Minuto do Soldado”. Entende-se que é tudo ou nada. A vida é uma guerra diária, cada segundo é importante e cabe a cada um vivê-la bem, avaliar as próprias decisões e aceitar as conseqüências.
Pensando no momento atual, o preto sabe o quão rápido pode passar a própria vida, cada saída é um risco, afinal, são os que mais morrem. É impossível não temer o que a ela apresenta, mesmo buscando as melhores escolhas ou quando, infelizmente, não há a possibilidade de fazê-las.
Ele segue para a faixa “Minuto do Soldado”, com a suavidade de Wadjla no feat, onde retrata situações rotineiras, metaforicamente, e memórias de sua cidade natal. Em toda a DEMO, na verdade, é nítido que Alef saiu de lá, mas Teolândia não saiu dele. É um passado presente, digamos, as lembranças continuam vivas internamente, são suas raízes. O maior destaque da música, para mim, é a primeira linha: “O silêncio é um luxo pra quem tem tanta zoada na cabeça”, a qual tive uma reflexão imensa e que, talvez, não caiba a esse texto.
Em tempos de quarentena, o silêncio, de fato, é privilégio. Cada pessoa lida com os “bichos” que carrega dentro de si, o “problema” é quando se perde o controle do “silêncio” e esses “bichos” começam a “falar”. Quando me refiro a bichos, é sobre inseguranças, traumas, medos, incertezas, ansiedade, depressão e tantas outras coisas que podem atormentar o ser humano de dentro para fora. Tudo isso causa um furacão interno, uma bomba relógio. Quem lida com tantas questões valoriza cada minuto de “silêncio”.
Inclusive, em conversa com Alef, perguntei sobre o processo de produção durante o período de quarentena. Segundo ele, tem estudado bastante. “Uso de certas ferramentas vocais para aplicar nos próximos trabalhos, como o meu EP, que ainda vai vir e no álbum da Underismo, que está sendo pensado. Além de voltar a trabalhar com arte visual. Estou com a cabeça aproveitando o tempo de ‘hiato’ para descansar e resgatar algumas ideias, por em prática outras. Se cobrar é essencial para aprender com o processo”. A quarentena criou um “espaço” para que ele conseguisse realizar essa produção e pudesse externar muito do que traz ao “longo” dos seus 25 anos.
“Rato Preto” é minha preferida. Nela, enxergo o “artista” versus o “eu comum” e, independente disso, vejo as duas faces com desejo de ganhar o “game”. Rato Preto é referência a um bicho (rato do mato) de sua cidade que, segundo o mesmo relata, “entrava na dispensa e comia tudo”. A impressão é que ele batalhou muito sozinho e valoriza isso, não à toa, se empenha nessa ânsia, sua fome de ganhar “o game” é grande, é questão de auto-realização. “Comer” para “Crescer”.
Por fim, chegamos a “25”, onde Alef prova a si mesmo sua capacidade, mete as caras e valoriza cada corre, cada batalha que venceu, traduz isso alinhado a um beat de boombap delicioso de se ouvir e no final, o sample de “O mundo é um moinho”, do ilustre mestre Cartola. Ele soube traçar as faixas corretamente, “25” é a conclusão da DEMO, de apenas 11m49s e nos deixa com o gosto do repeat. Não digo de “quero mais” porque ela se mostra auto-suficiente.
Esse foi um trabalho que o próprio Alef não esperava tanto, um material pensado para “expressar algumas neuras e experimentar seu primeiro trabalho solo em estúdio”, como recebeu feedbacks positivos, se animou. Em Salvador, teve e tem a oportunidade de se envolver ainda mais com a cultura local. “Vejo que não é como se aqui fosse o berço das coisas, mas, como se fosse o centro do estado onde tudo se reúne, então, a diversidade cultural da Bahia cria a cultura soteropolitana. Aqui acabo tendo contato com diversos paradigmas culturais e vivências que por lá se aproximam, mas não são idênticas”, conclui
Ares, o Alef, estréia carreira solo com a DEMO KANN (2020) EP
Por Laísa Gabriela de Sousa (Gabehs)