Oganpazan
CD's, Funk, Guilhem Parguel, Hafid Zouaoui, Jerôme Bartolome, Peter Solo, Simon Bacroix, Soul, Vaudou Game, Vicente Fritis, Voodoo

Apiafo: o elixir ritualístico do Vaudou Game

Quando parece que não existe mais nada para ser inventado, a globalização vai lá e dá um jeito de montar uma das bandas mais peculiares que ouvi recentemente. Bom, não sei em quem você acredita, mas só esses novos tempos poderiam unir um cantor e produtor do Togo, em busca de  uma reinvenção sonora para as raízes percussivas de Aneho-Glidji, com a tradicional cultural religiosa do país. 

Sim meus amigos, além de readaptar todo um arsenal de percussões que não pode ser feito em outro lugar do mundo, que não seja o Togo, Peter Solo (chefe de toda essa empreitada), mostra como é possível adaptar a cultura Voodoo Child de seu país e ainda arrumar uma banda de apoio francesa para sustentar toda a piração de ”Apiafo”, primeiro play de um união bastante interessante e potente: Voodoo + Funk + Afrobeat + Jazz =  Vaudou Game.

Line Up:
Peter Solo (vocal/guitarra)
Vicente Fritis (teclado/vocal)
Jerôme Bartolome (saxofone/percussão/vocal)
Guilhem Parguel (trombone/percussao/vocal)
Simon Bacroix (baixo/vocal)
Hafid Zouaoui (bateria)

Track List:
”No Problem”
”Dangerous Bees”
”Pas Contente” – Feat. Roger Damawuzan
”Meva”
”Happiness”
”Ata Calling”
”Long Read”
”Wrong Road” – Feat. Roger Damawuzan
”No Way To Go”
”Djin Ku Djin”
”Need A Job”
”Think Positive”
”Lazy Train”

Esse disco comprova como a música ainda vai pra frente. O conceito estético é único, o elo africano é uma boa porta de entrada para quem já aprecia cozinhas como a de Fela Kuti, mas o ponto vital nesse disco é notar como a busca de referências é importante para a identidade sonora. 
Peter Solo viveu essa cultura, ele nasceu e cresceu vendo tudo isso e todos os conceitos que envolvem a manifestação do Voodoo se misturaram automaticamente em seu fraseado. Sua banda de apoio precisou compreender isso e o resultado é uma swingueira danada, que além de mostrar o ponto ácido, envolve o ouvinte com uma força quase religiosa.
Quase não, a base é de fato messiânica, mas é impressionante observar como músicos de outras etnias se sentiram tocados com isso, à ponto de manifestar uma paixão quase devota e conseguir passar isso nos shows. Ao vivo esses caras fazem uma cerimônia e a sinergia com a platéia é absurda, o feeling é espiritual até pra quem não acredita em nada.
Com a participação de Roger Damawuzan (ele canta em ”Pas Contente” e Wrong Road”), o tio de Peter foi um dos pioneiros desta cena Funkeada no Togo e fazz parte deste ótimo disco de 12 faixas. Um todo que demonstra uma riqueza histórica impressionante e foge um pouco da onda costumeira quando falamos de discos com esse quê made in Igreja. 
Aqui a base é de cunho sagrado, mas a maneira como tudo isso é entoado que deixará o senhor maluco. A força do Funk, do Soul, a gravação analógica do registro… Apiafo é um trabalho e tanto. Gravado ao vivo e com o mínimo de retoques possíveis, a receita desta união pode ser sintetizada logo na primeira track.

”No Problem” já entra com o fator swingado no talo. A pregação voodoo faz a base, o resto fica por conta do pulso na batera, o veneno nos graves e as pontadas no teclado com wah-wah na guitarra. A habilidade de Peter Solo precisa ser destacada, sua vibração nos vocais é absurda e ele é o termômetro do som, seja com riffs ardidos por cima das linhas de sax em ”Dangerous Bees” ou apenas segurando a cozinha em ”Meva”.

A ideia desse disco é simples, é elevar as pessoas utilizando a música, à partir de um conceito que já possui essa conexão espiritual, algo que não será restrito aos seus ouvidos se você não for praticante dessa religião. Veja o lado estético apenas como um detalhe, o lance é apreciar a conexão com a música: como se ela realmente fosse sua religião.

De resto, apenas aproveite a mistura ’70 de Funk e fique impressionado pela força dos arranjos. A nitidez dos instrumentos em temas como ”Happiness” e o climão improvisado que permeia o CD é fantástico. Seja beirando o extase do groove ou partindo pra um boogie mais suave com ”No Way To Go”.

É envolvente pacas, a barreira cultural some após cerca de 10 segundos e quando notamos já cantamos as linhas do sax de Jerôme Bartolome como se fossem palavras concretas. Muito som, no fim do disco você vai até se ligar em cultos de voodoo localizados na região mais próxima de sua residência!

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