Oganpazan
Área Punk, Destaque, Destaque meio, Sem categoria

Aphorism e Rabujos, uma parceria explosiva!!

A união entre Aphorism e Rabujos nos legou um split estremecedor e vai gerando shows insanos por onde as bandas passam!

Os pugilistas Reginaldo “Hollyfield” Andrade e Luciano “Todo Duro” Torres, representam nos ringues a rivalidade existente entre Bahia e Pernambuco. Rivalidade esta responsável por elevar o Nordeste a região mais frutífera do país nos mais diversos campos. 

Essa “rivalidade” contribuiu de forma contundente para a formação da identidade do povo brasileiro. Juntos, Pernambuco e Bahia, legaram ao Brasil filmes e escolas cinematográficas, álbuns e estilos musicais, movimentos culturais, escritores e poetas, atores e dramaturgos, cientistas, intelectuais, esportistas, que só fizeram fortalecer as camadas culturais, sociais, políticas e artísticas do nosso país. 

Essa “tensão” entre Bahia e Pernambuco, que não deixa de ser também uma forte conexão entre os dois estados, está muito bem representada pelo cartaz elaborado para divulgar o show entre as bandas Aphorism (BA) e Rabujos (PE), parte da programação do XI Festival Bigbands. Essa noite do festival recebeu o nome de “Noite Tropical Death”. O flyer anunciando o show é uma versão do cartaz de divulgação do documentário  “A Luta do Século: Todo Duro vs Hollyfield“, que aborda a rivalidade entre os boxeadores já citados no início desta matéria.

O show rolou no dia 28 de setembro no Mercadão C.C. no bairro do Rio Vermelho em Salvador. Foi o show de lançamento de um trabalho fruto da parceria firmada entre as bandas: o Aphorism / Rabujos Split. 

O show

Devido ao meu talento nato em procrastinar as mais diversas atividades, desejos e compromissos , passei anos enrolando para comparecer a um show da Aphorism. A banda já havia rodado por vários estados do país, conseguindo se firmar na cena de metal extremo brazuca e eu só os conhecia através das plataformas digitais.

Oportunidades não faltaram, os caras sempre se apresentam aqui em Salvador. Fica parecendo hipocrisia da minha parte dizer que sempre estive a fim de ir a um show da Aphorism diante de tantas oportunidades desperdiçadas por mim de fazê-lo. Caros leitores, vocês terão que me dar um voto de confiança e acreditar em mim, pois realmente a vontade existia.

Tanto que foi saciada. Ouvi o split feito com a Rabujos pouco depois de seu lançamento em maio. Ouvi algumas vezes, pensei em escrever uma resenha … sim, muito previsível o que ocorreu, procrastinação novamente. Enfim, anunciado o show no Mercadção C.C. para lançamento do split , fiquei logo animado e na fissura de curtir a performance ao vivo das bandas. 

Antes das apresentações de Aphorism e Rabujos o palco foi da Äplästär. Banda sui generis formada pelos irmãos Gagliano (Ivan Motosserra) e o rapper/ punk Galf (Ugangue). Devido às raízes musicais de seus integrantes ouvir o som da Äplästär surpreende. Uma podrera sonora muito bem executada em alto grau de pulsação e intensidade. 

Aphorism no palco e a atmosfera muda. Ao fim do show da Äplästär o ambiente era bem denso e a sensação vertiginosa de quem acabou de levar um soco na cara contribuía para isso. Durante a preparação da Aphorism já se prenunciava o estabelecimento de outro contexto, uma outra energia. Nem melhor nem pior, apenas uma outra vibe

Era perceptível no rosto de cada integrante da banda a expressão de satisfação em fazer aquele show. Afinal estavam em Salvador junto com uma banda conterrânea e outra cuja parceria havia rendido um excelente trabalho para uma noite da pesada. A Aphorism fez show seguro, que reproduziu ao vivo a qualidade sonora e técnica presente nos trabalhos de estúdio da banda, que se mostrou extremamente afiada e entrosada. Fiquei próximo aos caras, era fragrante o envolvimento deles com a música, o que capturou de imediato o público.  Rolou uma empatia instantânea e durante todo som a troca entre as duas instancias rolou naturalmente, de modo intenso. 

Não foi muito diferente com a Rabujos. Com performance mais agressiva, os pernambucanos foram logo marcando sua presença de forma contundente. A cada música um golpe certeiro e rápido, sempre acertando em cheio o público. Impressionou, tal qual ocorrera na apresentação dos anfitriões baianos, o modo como as músicas foram executadas. Não houve apenas o primor técnico, talvez alguns leitores fiquem com essa impressão, aliado a essa característica estava todo o envolvimento orgânico entre membros da banda e público. 

Embora ambas as bandas tenham conseguido soar como as gravações de estúdio, não ficamos com a impressão de não ser uma performance ao vivo. Componente essencial para um show. Tanto que o público presente não se aquietou por um momento sequer, contagiado pelo som feito por baianos e pernambucanos. Seguramente foi uma experiencia intensa, que fez a todxs xs presentes saírem exaustos, porém extasiados. 

O split

Aphorism / Rabujos Split como dito anteriormente foi lançado oficialmente nas plataformas digitais em maio, enquanto sua versão física veio à luz em agosto de 2019. Há muito tempo essas bandas mostram a força do metal extremo feito no Nordeste, contribuindo para fortalecer a cena nacional. 

O split é composto por 12 músicas, são seis composições de cada banda. Para tornar ainda mais forte essa união das bandas pelo grind, a última música executada por cada uma das bandas é um cover da outra. Ou seja, a faixa 6 Batismo a Gasolina é um cover da Rabujos feito pela Aphorism, enquanto a faixa 12 é um cover de Luzes do Caos, composição da Aphorism. Essas marcações em vermelho são links para vocês ouvirem as versões originais e compararem com as versões feitas por cada banda.

Esse trampo conjunto chama atenção por colocar em relevo as diferenças das bandas. Fica perceptível nas letras que adotam estilos diferentes quanto a forma. Paulo Meirelles, vocalista da Aphorism, lança mão de recursos literários imprimindo um caráter lírico às letras. Lendo os versos, como aquilo que originariamente são, poesia, conseguimos perceber um ritmo que lhes são inerentes e uma riqueza de imagens altamente carregadas de emoções. 

Isso é interessante porque as letras são de certa forma declamadas durante cada uma das músicas. Temos o fundo musical compondo uma atmosfera pra quela forma específica de declamação dos versos. Posso estar viajando, porém, foi a impressão que tive acompanhando a música lendo cada uma das linhas das músicas. Não sei se isso ocorre especificamente nessas músicas ou se é um traço característico do estilo de compôr da banda, pra responder essa questão vou ter que analisar com calma outros trampos da banda. Missão para uma próxima matéria. 

A Rabujos segue caminho oposto, aborda os temas de maneira crua, despida de lirismo, preferindo uma forma mais direta de atingir seus ouvintes.  Isso reflete na estrutura das músicas que tem a melodia vocal amalgamada ao campo sonoro gerado pelo instrumental. São blocos sonoros de alta intensidade que estremecem tímpanos e sacodem mentes. 

Em termos técnicos ambas as bandas são impecáveis, mostrando segurança e envolvimento completo na execução das faixas, conseguindo usar essa característica de modo a canalizar bem a intensidade das emoções presentes nas músicas. Essa harmonia entre técnica e felling garante a qualidade do amalgama entre forma e conteúdo.

O trampo externo de produção, gravação, masterização e mixagem do split, feito com extrema dedicação, faz com que todo potencial das músicas apareça em seus detalhes, colocando esse trabalho entre os de grande relevância para a cena de metal extremo nacional. 

Caros oganautas, fissurados e simpatizantes das várias vertentes que compõem a rica cena de metal extremo, ouçam atentamente, distraidamente, que esse trampo cai bem para vários momentos da vida, dese pra namorar quanto para aumentar o ódio pelo bolsonarismo e demais variações do fascismo. 

Ficha Técnica:

Aphorism foi gravado por Dill Pereira no estúdio Ruído Rosa em Salvador, Bahia, Brasil, entre janeiro e fevereiro de 2019.

Rabujos gravado por Pedro Santos e Rodrigo B. Nery no LL Studios em Recife/PE, Brasil, em março de 2019.

Mixado e masterizado por Miguel Tereso no estúdio Demigod Recordings em Caxarias, Portugal, em abril de 2019.

Capa por Ars Moriendee.
Projeto Gráfico por Burn Artworks.

 

 

Matérias Relacionadas

Deserto e psicodelia: o álbum do Brant Bjork Trio

Carlim
3 meses ago

BOLODOIDO ENTREVISTA: DONJORGE, MTV SALVADOR.

Dudu
4 anos ago

Ocarina estreia no streaming com Estado de Sítio

Dudu
4 anos ago
Sair da versão mobile