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Aori Anaga segue no fortalecimento da cultura Hip Hop

Aori Anaga é o nome de um dos pilares do Hip Hop nacional, o carioca tem um pequeno disco que você precisa conhecer melhor.

Muitos são excelentes rappers, Aori é um dos pilares do Hip Hop. Desde sua chegada na terra com o Inumanos até o momento atual, o Mc que é criador da Batalha do Real – uma das mais importantes e famosas do Brasil – seu trabalho é de fortalecimento da cultura. Atuando nos palcos mas também nos backstages da vida, seu pioneirismo é algo que precisa ser lembrando, assim como sua arte.

Faz algumas semanas que achei o EP Anaga (2015), num link maroto pelas minhas incursões na net e automaticamente joguei no celular. Sim amigos, eu não tinha escutado nada desse disquinho, e já na terceira faixa me peguei rindo sozinho nas escadas do metrô da Estação Brotas, atraindo olhares de estranheza.

Com o passar dos dias esse EP passou a ser obrigatório, e ouvindo mais cheguei à conclusão de que aquela coleção de sete faixas, desenhava de algum modo uma cartografia mental e auto-reflexiva do Aori. Exercício esse que consequentemente nos leva a pensar o próprio rap carioca e nacional e por extensão a cultura Hip Hop.

Ao traçar as suas próprias qualidades conflitantes, suas impressões pessoais, e ao traçar a forma como outras pessoas o percebem, vamos aos poucos notando como isso é bem próximo do próprio rap. É algo intrínseco da cultura Hip Hop, e do rap em particular: se fazer com pedaços, uma imensa colcha de retalhos que vai do artista à rua, dos opositores ao público. O mercado por vezes nubla essa percepção e centra as obras num autor, mas os verdadeiros artistas se apresentam como se a substância do ser Hip Hop estivesse plenamente incorporada naquele ente.

O Mc Lapa produziu em seu EP solo uma coisa que falta em muitos discos que vemos tomar as ruas e que são incensados como obras-primas: Coesão. Se é verdade o que dissemos acima, de que a cultura hip hop é um imensa colcha de retalhos, esse mosaico precisa definir um estilo, uma linha, mesmo que essa seja incontrolável.

Desejando/desenhando um mapa complexo no ritmo clássico do boombap, com produças do DJ Babz, Bernardo Pauleira, Dj Martins e Dj Nuts mostrando uma sonoridade firme. E esse é certamente um dos pontos altos do EPzinho. O que nos mostra que play estendidos podem soar também como discos cheios. Tematicamente também isso fica evidente, pois ao percorrer as sete faixas em modo freestyle ainda vemos essa mente unindo as linhas livres dentro de um pensamento coerente. Ao ponto de lá no distante 2015 – nessa velocidade de hoje – já meter uma linha contra a família miliciana.

Passados 4 anos desse lançamento (e ouvindo hoje esse EP) é inevitável refletir sobre a necessidade de repatriar obras e selecionar o que se ouve. Em tempos de singles em profusão alucinante, quanto mais o tempo passa, mas notamos como são os trabalhos com consistência os que realmente durarão. Aori se apresenta como um daqueles escribas sagrados, com um documento a mais para deixar seu nome gravado nas pedras do Hip Hop nacional.

O underground é um subsolo da música em qualquer estilo para o qual nós prestemos atenção, é o adubo da arte, a transgressão que não se importa com o agrado do grande público. E máquina abstrata que trabalha o primeiro nível de visibilidade, que chamamos carinhosamente de mainstream. Não são ou não deveriam ser inimigos, pois trabalham em regiões distintas de criação e produção. O público poderia ser o receptor privilegiado ao entender que um ecossistema se fortalece e é mais rico pela diversidade.

Mas independente dessas classificações taxonômicas, existe o mercado e este é impiedoso. Ele só conhece sua própria lógica, que é a de esmagar o que não é lucrativo como um bom Big Mac. E nesse jogo, o público (mesmo o do rap que se tem em mais alta conta em termos de conhecimento) é constantemente direcionado ao que os articuladores dessa lógica mercadológica branca quer que se consuma.

E é dentro desse contexto que o “velho” Aori apresenta uma horta cheia de wasabia para alimentar os espíritos raquíticos, produzindo uma dieta com a disciplina de um monge preto. Alguém que criou uma religião daquela em que passamos a adorar algo como: serão deuses os astronautas? Ou melhor, os nossos deuses serão inumanos? Temos certeza que Aori precisa continuar a ser escutado.


Aori Anaga segue no fortalecimento da cultura Hip Hop

Por Danilo Cruz

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