Quando ouvi o Herbie Hancock pela primeira vez já comecei quente, meu pai me apresentou logo de cara ao homérico ”Head Hunters”, um dos maiores discos de Jazz Fusion da história da música e o mais vendido desde então. Esse trabalho mudou minha vida, ouvi durante meses a fio e simplesmente não conseguia parar, tampouco compreender como tal patamar de Funk foi alcançado.
E quando consegui largar peguei a discografia do gênio americano (focando no Funk), justamente para ”entender” como ”Head Hunters” tinha sido criado, mas acontece que esse laudo segue inconclusivo até hoje e o motivo é simples, ”Head Hunters” trata-se do primeiro registro onde Herbie (que não é o meu fusca turbinado), implementou o fator ácido ao seu som.
E com isso em mente fica claro que não teve essa de ”pegar a coisa do começo”, todos que são fãs desse cara (especialmente do período Funkeado), foram obrigados a pegar o bonde andando e sentar no teto do veículo, ah se fosse a janelinha! Logo, a única coisa que podemos assimilar é que ”Head Hunters” é um disco assombroso e que essa sonoridade descabelou seu criador durante três anos, de 1973 quando sai o ”Head Hunters” até ”Secrets” lançado em 1976.
Em discos posteriores a influência do swing é notada, mas a fase pesada deste período dura mesmo 3 anos e é formada pelos seguintes trabalhos:
”Head Hunters” – 1973
”Thrust” – 1974
”Flood” – 1975
”Secrets” – 1976
Mas para você, que assim como eu ficou plenamente ilhado com o Funk de ”Head Hunters”, este retumbante LP ao vivo gravado no Japão (”Flood” lançado em 1975), consegue situar o ouvinte. E mesmo que a discografia do cidadão não nos brinde com uma prévia de como o swing culmina em algo tão poderoso, após este marco zero os fãs musicólotras pelo menos conseguem ver algum tipo de linearidade e obter algum entendimento com o rumo que sua cozinha tomou depois.
Line Up:
Herbie Hancock (piano/sintetizadores)
Paul Jackson (baixo)
Mike Clark (bateria)
Bill Summers (percussão)
Bennie Maupin (saxofone/clarinete/flauta/percussão)
Dewayne ”Blackbyrd” McKnight (guitarra)
Track List:
”Introduction/Maiden Voyage”
”Actual Proof”
”Spank-A-Lee”
”Watermelon Man”
”Butterfly”
”Chameleon”
”Hang Up Your Hang Ups”
O interessante desse LP é que quando você pensa em um live que pegaria essa fase, o óbvio é imaginar uma espécie de ”Head Hunters” ao vivo, mas não é exatamente isso que acontece, pelo menos não durante todo o show. Esse trabalho deve ter sido apresentado de uma forma diferente devido o CEP deste evento, a terra do sol nascente, o Japão.
O começo do disco é puramente jazzístico e com zero por cento no teor de Funk. Não seria exagero afirmar que ”Introduction/Maiden Voyage” e ”Actual Proof” surgem até que comportadas. Percebe-se que tema a tema o Funk vai surgindo. Nada é desperdiçado e o calibre de qualidade é altíssimo.
Acho que o show vai se estabelecendo aos poucos justamente por causa dos Japoneses. Muitas bandas com sonoridades realmente chapadas se apresentavam no Japão nessa época, mas a fritação era diferente, no fim do show você nota que a platéia vai ao delírio, mas o começo é mais certinho, bem mais quadrado do que ”Spank-A-Lee” ou a mítica ”Watermelon Man”, por exemplo.
No momento onde o Funk realmente adentra o recinto um nome em especial salta perante vossos ouvidos: Dewayne ”Blackbyrd” McKnight, o negrão que faz as guitarras neste disco. McKnight é um nome meio desconhecido dentro da música, mas além de ter tocado em alguns trabalhos de Herbie, o músico também fez a ponte no Parliament Funkadelic e também tocou no Red Hot Chilli Peppers antes de Frusciante se estabelecer no grupo.
E é justamente pelo fato do ”Head Hunters” não possuir guitarras, que quando se escuta temas como ”Chameleon”, percebemos na hora o elemento novidade no som. São dez minutos de ”Chameleon”, 20 de ”Hang Up Your Hang Ups”… Só patada de Groove e um Hancock realmente possuído por sintetizadores. No fim do show devia ter japa até de olho aberto tamanha a fritação dessa noite! Uma hora e dez de muitos neurônios danificados e Hard Bop com poderio extra de Fender. Muito, muito som.